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24 de jan. de 2013

RAY CUNHA LANÇA NOVO LIVRO DE CONTOS "NA BOCA DO JACARÉ"

NA BOCA DO JACARÉ-AÇU - A Amazônia Como Ela É

Por MARCELO LARROYED

BRASÍLIA, 2012 – Ray Cunha lança seu novo livro, Na Boca do Jacaré-açu – A Amazônia como ela é (Ler Editora, Brasília, 139 páginas), enfeixando 14 contos ambientados em Belém do Pará, cidade considerada o Portal da Amazônia, “a região mais vertiginosamente bela do planeta, a que os europeus chamam de realismo fantástico” – como diz o escritor. Alguns contos se movem no Ver-O-Peso, a maior feira livre da Ibero-América, “onde o Trópico Úmido ferve para sempre”.

  
Na Boca do Jacaré-açu, conto que dá título ao livro, é o mergulho suicida de um arqueólogo nos abismos da maior ilha flúvio-marítima do planeta, Marajó, em pleno Mundo das Águas, a confluência do maior rio do planeta, o Amazonas, ao norte; do rio Pará, a oeste; e dos rios Tocantins e Guamá, ao sul, este, formando a baía de Guajará, que passa defronte do Ver-O-Peso, em Belém. Os rios Pará, Tocantins e Guamá alimentam a baía de Marajó. O Mundo das Águas arreganha a bocarra de jacaré-açu para o oceano Atlântico, a nordeste.

Autor do romance A Casa Amarela (Editora Cejup, Belém, 2000), ambientado em Macapá no ano do golpe que instalou no país a Ditadura dos Generais (1964-1985), e de Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos(Edição do Autor, Brasília, 2005), além de A Grande Farra (Edição do Autor, Brasília, 1992), o Mundo das Águas, a Amazônia Caribenha, a Hileia, perpassa a literatura de Ray Cunha, que nasceu em Macapá, cidade que se debruça na margem esquerda rumo à boca do rio Amazonas, na confluência da Linha Imaginária do Equador, no setentrião da costa brasileira.

Inclusive O Casulo Exposto (LGE Editora, Brasília, 153 páginas, R$ 28), livro de contos ambientados nos subterrâneos de Brasília, repete o conto Inferno Verde, história curta publicada inicialmente em Trópico Úmido, e que se move simultaneamente no universo Belém/Ver-O-Peso/Marajó e na capital do Brasil, onde o autor mora.

O Casulo Exposto – Trabalhando desde 1987 como jornalista, em Brasília, cobrindo amplamente a cidade, o Entorno e o Congresso Nacional, a capital da República passou a se constituir, naturalmente, em outro universo do escritor. Assim surgiu O Casulo Exposto, que se refere “à redoma legal que engessa o Patrimônio Cultural da Humanidade, a borboleta de Lúcio Costa, ninfa golpeada no ventre, as vísceras escorrendo como labaredas de luxúria, depravação e morte nos subterrâneos da cidade dos exilados”.

Segundo o autor, “a fauna, heterogênea, que tenta sobreviver na ilha da fantasia, chafurda nos mensalões brasilienses e arde numa imensa fogueira das vaidades”. As personagens que transitam em O Casulo Exposto são“políticos, inclusive daquele tipo mais vagabundo, que não pensa duas vezes antes de roubar merenda escolar; jornalistas que se equilibram no fio da navalha; tipos fracassados e duplamente fracassados; estupradores; assassinos; bandidos de todos os calibres se misturam, nos contos, numa zona de fronteira fracamente iluminada. Contudo, a ambientação de sombra e luz tresanda, também, a perfume e a romance” – diz o coautor de Xarda Misturada (Edição de autor, Macapá, 1971) e autor Sob o Céu nas Nuvens(Edição do Autor, Belém, 1982), também de poemas.

“Nascido em Macapá (AP), mas radicado em Brasília desde 1987, o jornalista e escritor Ray Cunha conhece como poucos as cicatrizes da capital brasileira. Experiência adquirida em mais de duas décadas como repórter de cidades e na cobertura intensa do Congresso Nacional. Por isso, não deixa de ser oportuno que o seu mais recente trabalho, o livro de contos O Casulo Exposto, chegue às livrarias justamente no momento em que o Senado passa por uma de suas piores crises” – o jornalista Lúcio Flávio publicou no Correio Braziliense, em 2008.

“A intimidade do autor com a cidade é denunciada não apenas por meio dos temas abordados - seja a política ou as mazelas da cidade -, mas também pela geografia desenhada em histórias que têm como personagens as vias da cidade como a W3 Sul e a W3 Norte ou um encontro aparentemente casual na Churrascaria Porcão” – escreve Lúcio Flávio, ao que diz Ray Cunha: “Sou um observador privilegiado da cidade.”

“Seus romances e contos são, geralmente, ambientados na Amazônia. Qual a sensação de escrever um livro candango, ou seja, produzido com as coisas que acontecem em Brasília?” – perguntou-lhe o jornalista belenense Aldemyr Feio, ao que Ray Cunha respondeu: “É a mesma sensação de trocar pirão de açaí com dourada frita por pão de queijo, ou de trocar a Estação das Docas por shopping. São duas situações absolutamente diferentes. No meu caso pessoal, caio de joelhos por tudo o que diz respeito à Amazônia, mas também curto Brasília. Assim, sinto-me perfeitamente à vontade tanto na Amazônia como em Brasília”.

"O que tu queres dizer com o casulo que também tresanda a perfume, romance e esperança, nas luzes da grande cidade?” – perguntou Aldemyr Feio. Ray Cunha: “O casulo do título evoca o fato de que Brasília é reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade. Em termos práticos, não se pode mudar a arquitetura original do Plano Piloto, que compreende o projeto do urbanista Lúcio Costa, excluindo-se as cidades-satélites. Então, o Plano Piloto é protegido sob uma redoma, um engessamento, como Patrimônio Cultural da Humanidade. Mas nas suas ruas não há romantismo, como em todas as metrópoles brasileiras, inchadas e perigosas. Apesar disso, há contos perfumados, prenhes de romance, de esperança, como o que encerra o livro: A Caça (já publicado pela Editora Cejup, de Belém), que, no final, refere-se às luzes de Brasília, e termina com toda a família (os pais e uma garotinha) deitada na cama de casal no quarto de um bom hotel, após perigosa aventura na recém-nascida Palmas (TO)”.

“Você acha que o leitor vai entender as colocações contidas no Casulo?” – perguntou-lhe Aldemyr Feio. Resposta: “Certamente que sim. A literatura, como qualquer arte, tem algo maravilhoso. No seu caso específico, as palavras remetem o leitor a mundos que são somente dele. O escritor é um mero porteiro. Lembrei-me de um caso que ocorreu com William Faulkner. Alguém o informou que leu duas vezes um livro seu e não entendeu a história. Faulkner sugeriu que lesse mais uma vez”.

http://escritoresap.blogspot.com.br/search/label/Ray%20Cunha

Outros livros de Ray Cunha






SERVIÇO
Ler Editora (www.lereditora.com.br), no SIG, Quadra 4, Lote 283, prédio da Fórmula Gráfica, Primeiro Andar
Pedidos também para as redes de livrarias:
Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos pode ser pedido para o autor, a R$ 30, incluindo frete, pelo e-mail: raycunha@gmail.com
Blog do autor: Blog do Ray Cunha
Contato do autor: raycunha@gmail.com


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O autor

Ray Cunha nasceu na Amazônia Caribenha, em Macapá, a capital do estado do Amapá, cidade facilmente localizável no mapa-múndi, situada que é na confluência da Linha Imaginária do Equador com o maior rio do planeta, o Amazonas.

Estreou na literatura em 1972, com o livro coletivo de poemas Xarda Misturada (edição dos autores, Macapá), juntamente com o poeta e contista José Edson dos Santos (Joy Edson) e José Montoril. Em 1982, a União Brasileira de Escritores, seção de Manaus, publicou Sob o céu nas nuvens, poemas.

Em 1990, Ray Cunha estreia na ficção, com A grande farra (edição do autor, contos, Brasília). Em 1996, a Editora Cejup, de Belém do Pará, publica o conto A caça e o romance O lugar errado. Em 2000, publica Trópico Úmido - Três contos amazônicos (Brasília) e, em 2005, a Editora Cejup volta a publicar um romance do autor, A Casa Amarela.

Segue-se a apresentação de Maurício Melo Júnior, publicada na orelha de O casulo exposto.

Humor e política no cotidiano brasiliense

“O escritor Jorge Amado costumava se queixar de algumas ausências da literatura brasileira. E dizia que a mais gritante delas era a falta de romances sobre o ciclo do café, como os que foram escritos sobre os ciclos da cana-de-açúcar e do cacau. Também podemos dizer que ainda não surgiram os escritores que tomaram o desafio de contar as sagas da busca da borracha na Amazônia e da construção de Brasília em pleno cerrado goiano.

“Neste seu novo livro de contos e novelas, O casulo exposto, o escritor Ray Cunha, nascido no Amapá e vivente em Brasília, passa longe da narrativa de homens perdidos na solidão da floresta ou na poeira das construções incansáveis. O que interessa ao escritor são os resultados daquelas experiências, são os personagens que ficaram depois das epopéias.

“Os homens e mulheres que saltam destas páginas são bastante curiosos. Têm a política no sangue, embora apenas transitem em torno dela. Vêem o poder bem de perto, mas não participam de suas benesses. Também calejados pelas dores impostas pela opressão da floresta, já nada os surpreendem e a violência pode ser uma forma de defesa ou sobrevivência. Sim, os escrúpulos são poucos. Ou, citando Jarbas Passarinho, um acrIano que fez carreira política no Pará: “Às favas com o escrúpulo”. Em compensação, a sensualidade aflora na pele dessa gente. O perigo é que também este poder de encantar e seduzir é instrumento de dominação.

“Naturalmente que a visão que temos aqui está superdimensionada pelos requisitos da literatura, mesmo assim sua base tem intensos pontos de realismo. E Ray Cunha ainda lhes dá um tratamento recheado de um humor cáustico, em alguns momentos até cruel. No entanto, esse humor nasce do clima noir, o clima dos filmes e livros policiais surgidos nos anos de 1940.

“Sem saudosismos e com muito suspense, os contos e novelas de Ray Cunha nos põem diante de O casulo exposto, esses seres nascidos da junção plena de todos os brasileiros. E vale muito a pena conhecê-los.”




15 de jan. de 2013

GOVERNO DO AMAPÁ LANÇA EDITAL DE LITERATURA


EDITAL Nº 01/2013 GEEPE/GAPELL – SECULT/AP
EDITAL DE CRIAÇÃO LITERÁRIA “SIMÃOZINHO SONHADOR”

O GOVERNO DO ESTADO DO AMAPÁ - GEA, através da SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA – SECULT/AP, representada por seu Secretário nas competências a ele delegadas de acordo com o Decreto Estadual nº 0015 de 03 de Janeiro de 2011 e com aprovação do Conselho Estadual de Cultura do Amapá – CONSEC/AP, institui o Edital Nº 001/2013 – “EDITAL DE CRIAÇÃO LITERÁRIA -SIMÃOZINHO SONHADOR” que visa fomentar em âmbito estadual a produção literária de escritores de ficção e poesia, com inteira liberdade de formas e gêneros adiante referidos como PROPONENTES que receberão Recurso Financeiro Público, a Fundo Perdido, conforme as regras e prazos estabelecidos, nos termos e condições deste Edital, que se regerá pela Lei Federal nº 8.666/93, e respectivas alterações, assim como pelas demais normas legais e regulamentares pertinentes à espécie.
1 – DO OBJETO

1.1- Constitui objeto deste edital a seleção e premiação de 10 (dez) projetos de fomento à criação, impressão e distribuição de obra literária inédita em pelo menos 60% de seu conteúdo, nas categorias do gênero lírico e narrativo.
1.2 - Entende-se por gênero lírico a criação de poesias em suas mais diversas formas.
1.3 - Entende-se por gênero narrativo a criação de romances, contos, crônicas, quadrinhos e novelas.
1.4 - Entende-se por obra inédita aquela que nunca foi publicada em meio impresso ou eletrônico.
1.5 - Serão selecionados para CONCESSÃO DE RECURSO FINANCEIRO 10 (dez) projetos cujas ações contemplem IMPRESSÃO e DISTRIBUIÇÃO DE LIVRO COM TIRAGEM MÍNIMA DE 500 EXEMPLARES na primeira edição, com ISBN. É indispensável a reserva de 10% da tiragem para a SECULT a fim de serem distribuídas em escolas, bibliotecas públicas e comunitárias.
1.6 - Os projetos concorrentes não sofrerão quaisquer restrições quanto à temática abordada dentro da sua categoria, desde que não caracterizem:
a) promoção política de candidatos e/ou partidos políticos;
b) dano à honra, a moral e aos bons costumes de terceiros e da sociedade;
c) pornografia;
d) pedofilia e bullying;
e) discriminação de etnia, por orientação sexual e/ou religiosa;
f) tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins;
g) terrorismo;
h) tráfico de pessoas e animais.
1.7 - Os projetos culturais inscritos concorrerão livremente entre si, não estando a SECULT/AP obrigada a selecionar um número mínimo ou máximo de Projetos Técnicos por estilo literário.
2 - DAS ESPECIFICAÇÕES GERAIS DOS PROJETOS

Para os efeitos deste EDITAL, ficam estabelecidas as seguintes definições:
A) PROPONENTE

Pessoa Física: Maior de idade nos termos da lei, residente e domiciliada no Estado do Amapá;
Pessoa Jurídica: De Direito Privado, sem fins lucrativos e de natureza cultural, em qualquer dos casos nativa e/ ou estabelecida no Estado do Amapá pelo período mínimo de 03 (três) anos. É necessário que o PROPONENTE, em caso de pessoa jurídica, aponte o responsável técnico pelo Projeto e este seja um dos autores da obra literária inscrita.
B) PROJETO TÉCNICO
Proposta detalhada e orçada prevendo a Criação, Impressão e Distribuição de obra literária de acordo com OBJETO deste EDITAL, que contemple a produção individual ou conjunta de obra literária. Os projetos técnicos apresentados devem prever todos os investimentos necessários à concretização da obra.
3 - DAS EXIGÊNCIAS GERAIS PARA PARTICIPAÇÃO
3.1 - A ausência de quaisquer dos documentos ou a presença de irregularidades nos mesmos inviabilizará a análise do mérito pela comissão julgadora.
3.2 - A SECULT/AP se reserva o direito de exigir, a qualquer tempo, a apresentação do documento original para cortejo, com confere com o original devidamente atestado pelo servidor responsável.
3.3 - PROPONENTES inscritos em pessoa jurídica poderão apresentar mais de um projeto para este Edital, desde que apresente diferentes autores e responsáveis técnicos pelos projetos.
3.4 - Não poderão se inscrever servidores pertencentes aos quadros da SECULT/AP e CONSEC, bem como conselheiros efetivos e suplentes deste, conforme o teor da vedação estabelecida no art. 9º inciso III da Lei 8.666/93.
3.5 - Não poderão se inscrever pessoas que tenham pendências de prestação de contas de editais anteriores e com o Fundo Estadual de Cultura ou com qualquer Secretaria do Governo do Estado do Amapá.
3.6 - Constatada a existência de plagio em qualquer fase do processo os proponentes serão automaticamente desclassificados decaindo sobre os mesmos as sanções previstas na Lei nº 9610/98.
4 – DAS INSCRIÇÕES
4.1 - As inscrições serão realizadas no período de 11 de Janeiro a 08 de Março, das 10:00 às 17:00 horas, nos seguintes endereços:
Biblioteca Pública - Avenida São José, nº 1800, Bairro Central, Macapá/AP – CEP 68.900-00
Secretaria de Cultura (GAPELL) – Av. Procópio Rola (atrás da SEED) , Centro – Macapá/AP- CEP 68.900-00
INFORMAÇÕES: TEL: (96) 3225-0103
4.2 - O projeto contendo os documentos necessários para a inscrição deverá ser enviado em 01 (uma) via, em envelope único, lacrado, e deve ser composto por:
a) Ficha de inscrição preenchida e assinada (anexo I);
b) 01 (uma) via impressa e encadernada, uma digital em PDF apresentada em CD do projeto, contendo: título, apresentação, objetivo, justificativa, contribuição artística para o cenário cultural amapaense, estratégia de distribuição, cronograma, produto final a ser desenvolvido e Detalhamento orçamentário, inclusive especificando tipo de material (papel) a serem usados na impressão (Planilha de Custos) para fins de orientação da Comissão Julgadora.
Parágrafo Único: A Planilha de Custos deverá conter todos os gastos necessários para realização do projeto, da pré e pós-produção.
c) 01 (uma) via encadernada contendo textos de autoria do proponente, entre 15 e 20 páginas, que fará parte do produto final do projeto técnico.
d) Termo de responsabilidade do PROPONENTE por ser a obra inscrita de sua autoria ou fazer parte da mesma, em caso de coletânea.
e) Carteira de Identidade do proponente (cópia).
f) Cópia do Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro de Pessoa Jurídica (CNPJ) do proponente (conforme o caso), regular junto a Receita Federal;
g) Comprovante de residência/estabelecimento do proponente e/ou declaração de residência no caso de locatário, emitido em até 03 (três) meses da data de inscrição;
h) Curriculum Vitae/ Portifólio/ Clipping, atualizado e assinado, com anexos que comprovem a experiência e eventual formação específica.
5 - DAS COMISSÕES

5.1 - COMISSÃO ORGANIZADORA E DE ACOMPANHAMENTO

Colegiado criado temporariamente, composto por 05 (cinco) membros, sendo 02 (dois) servidores da Secretaria de Cultura do Estado do Amapá – SECULT/AP, 02(dois) membros representantes do Conselho Estadual de Cultura do Amapá e 01 (um) membro representante da UEAP, ficando a mesma responsável pela consecução do Edital Nº 01/2013 – “EDITAL DE CRIAÇÃO LITERÁRIA - SIMÃOZINHO SONHADOR”, sendo de sua competência:
a) Receber e analisar a documentação referente à Etapa de Habilitação;
b) Habilitar, ou não, o PROPONENTE para concorrer a este EDITAL;
c) Acompanhar, assessorar e secretariar as reuniões da COMISSÃO JULGADORA;
d) Orientar o PROPONENTE contemplado a respeito do uso correto das logomarcas envolvidas segundo os Modelos de Identidade Visual definidos pela SECULT/AP;
e) Divulgar, com o apoio da Secretaria de Comunicação do Estado do Amapá – SECOM/AP, este EDITAL, os resultados de suas Etapas de Habilitação e o Resultado Final deste processo.
5.2 - COMISSÃO JULGADORA
a) Colegiado composto por 03 (três) membros criado temporariamente pela SECULT/AP, sendo 01 (um) escritor local com mais de 03 (três) títulos publicados, 01 (um) um professor de literatura da UEAP e 01 (um) um professor de letras da UNIFAP.
b) Esta Comissão é responsável, com base nos critérios aqui estabelecidos, pelo exame técnico e de mérito artístico cultural do Projeto Técnico concorrente aos recursos previstos neste EDITAL, sendo de sua competência a análise, o julgamento, a seleção e classificação dos Projetos Técnicos dos PROPONENTES habilitados.
c) Nenhum membro da Comissão Julgadora poderá participar de forma alguma de projeto concorrente ou ter quaisquer vínculos de parentesco, profissionais ou empresariais com as propostas apresentadas.
d) A Comissão Julgadora é soberana quanto ao mérito das decisões.

Parágrafo Único: Para a escolha do Escritor local que trata esse ponto, deve-se considerar uma seleção de indicações feita pelas entidades associativas da literatura local, sendo sua efetivação feita pela SECULT a partir da análise curricular e técnica.
6 – DA SELEÇÃO E DOS CRITÉRIOS
6.1 - As Comissões instituídas avaliarão os projetos inscritos, considerando as exigências especificadas neste Edital, de acordo com as seguintes fases:
FASE 1 – Habilitação do Proponente – Comissão Organizadora e de Acompanhamento: Com caráter eliminatório e consistirá na abertura dos envelopes de habilitação e respectivo julgamento.
6.2. A documentação apresentada será conferida, numerada e rubricada por um dos integrantes da referida comissão e devidamente analisada, nos termos deste EDITAL.
FASE 2 – Análise dos projetos culturais e julgamento das propostas – Comissão Julgadora: Tem caráter eliminatório e classificatório e consistirá na análise dos Projetos em duas etapas:
ETAPA 1: 
a) Adequação entre a justificativa e o objetivo do Projeto Técnico (originalidade do texto, singularidade da proposta e busca de novas práticas e relações no campo cultural), podendo ser atribuída nota de 0 a 45;
b) Contribuição artística ao cenário cultural amapaense (valor simbólico, histórico e cultural da obra literária a ser desenvolvida) podendo ser atribuída nota de 0 a 30;
c) Cronograma e estratégia de distribuição do projeto Técnico (organização e método de execução do Projeto, abordar estratégias alternativas e que contemplem as novas tecnologias para a distribuição, como os e-books, CDs, DVDs...), podendo ser atribuída nota de 0 a 25.
d) A somatória total dos itens mencionados serão de 0 a 100 pontos.
Paragrafo 1: Havendo empate entre a nota final dos proponentes, o desempate seguirá a seguinte ordem de pontuação dos critérios:
a) Maior nota no critério Contribuição Artística para o cenário amapaense;
b) Maior nota no critério Adequação entre a justificativa e o objetivo do Projeto Técnico.

Parágrafo 2: Persistindo o empate, caberá à decisão à Comissão de Seleção, por maioria absoluta, estabelecer o desempate.
ETAPA 2:
a) Adequação entre o Projeto Técnico apresentado e o texto do proponente, podendo ser atribuída nota de 0 a 50 pontos.
Paragrafo 1: Cada projeto será avaliado pela Comissão Julgadora, e sua nota final será resultado da média entre as notas individuais dos avaliadores.
6.3 Após a seleção dos projetos, a Comissão Organizadora e de Acompanhamento encaminhará o resultado para homologação do Secretário Estadual de Cultura e publicação no Diário Oficial do Estado do Amapá, no sítio digital do Governo do Estado do Amapá como também será afixada a lista de todos os selecionados em mural no hall de entrada da sede da SECULT/AP.
7 – DOS RECURSOS
7.1 - Ao resultado final caberá recurso, no prazo de 05 (cinco) dias úteis da publicação da ata no Diário Oficial do Estado do Amapá, dirigido ao Presidente da Comissão Julgadora do Edital Nº 01/2013 – “EDITAL DE CRIAÇÃO LITERÁRIA - SIMÃOZINHO SONHADOR”, que deverá ser devidamente protocolado no prédio da SECULT/AP, nos termos deste Edital.
7.2 Somente serão aceitos recursos por inscrito, protocolados no local indicado neste Edital e dentro do prazo estabelecido.
8 – DO VALOR E DAS CONDIÇÕES DE REMUNERAÇÃO
8.1 - Os 10 (dez) projetos selecionados receberão um investimento de R$ 20.000,00 (Vinte Mil Reais) cada, totalizando investimento de R$ 200.000,00 (Duzentos Mil Reais).
8.2 Os valores devidos aos proponentes serão pagos em 02 (duas) parcelas, a saber:
a) 50% (cinquenta por cento) na chamada para assinatura do convênio;
b) 50% (cinquenta por cento) pagos em até 15 (quinze) dias após o final do prazo previsto para impressão dos exemplares do livro resultante do projeto;
8.3 São de inteira e exclusiva responsabilidade do proponente o uso/cessão de direitos autorais, morais, patrimoniais, de imagens ou musicais relacionados às propostas, que deverão ser apresentados após a seleção, quando solicitados.
8.4 A SECULT/AP será responsável pela fiscalização da efetiva execução dos projetos por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural, através de equipe designada, e se reserva o direito de realizar registros audiovisuais das atividades desenvolvidas, para arquivo e divulgação do Edital.
8.5. Em nenhuma hipótese o valor concedido receberá aditivos financeiros posteriores da SECULT/AP, devendo todas as despesas para execução do trabalho estarem previstas e contidas no orçamento inicial de cada inscrito.
9 - DOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS
Os recursos relativos às remunerações e ajudas de custos que poderão advir deste Concurso pelas dotações orçamentárias a seguir:
13.392.0180.2003 – Apoio a Realização de Eventos Culturais Amapaenses.
Elemento de Despesa: 3.3.90.39 – Outros Serviços de Terceiros Pessoa – Jurídica
Elemento de Despesa: 3.3.90.36 – Outros Serviços de Terceiros Pessoa – Física
10 – CONDIÇÕES PRÉVIAS À CONTRATAÇÃO
10.1 - Homologado e publicado o resultado do Edital, a SECULT/AP convocará os proponentes selecionados pela Comissão Julgadora, por telefone, carta, fax ou e-mail para, sob pena de decair do direito à contratação e incorrer nas penalidades previstas neste EDITAL, em até 10 (dez) dias úteis, apresentar eventuais documentos que se façam necessário e, no mesmo ato, assinar o TERMO DE COMPROMISSO.
10.2 - Na hipótese de recusa ou impedindo do proponente selecionado em assinar o Termo de Compromisso no prazo fixado acima, o processo deverá ser submetido ao Presidente da Comissão Julgadora do Edital Nº 01/2013 – “EDITAL DE CRIAÇÃO LITERÁRIA - SIMÃOZINHO SONHADOR” que, nos termos do art. 64, § 2°, da Lei n° 8.666/93, poderá solicitar a convocação dos proponentes selecionados remanescentes, na ordem de classificação, sem prejuízo da cominação das sanções previstas no item 12, deste EDITAL.
11 – SANÇÕES/PENALIDADES ADMINISTRATIVAS
11.1 - O proponente que receber uma das parcelas de apoio deste edital e não apresentar o produto final do Projeto Técnico estará sujeito às seguintes sanções:
a) Advertência;
b) Multa equivalente de 100% (cem por cento) do valor global do contrato corrigido;
c) Suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a SECULT/AP ou qualquer outra Secretaria de Estado pelo período de até 02 (dois) anos. 

12. CRONOGRAMA Publicação do Edital
09 de Janeiro de 2013
Inscrições
11 de Janeiro a 08 de março 2013
Análise Documental
11 a 12 de Março 2013
Análise de Mérito
13 a 15 de Março 2013
Divulgação do Resultado
18 de Março (a partir das 16h) 2013
Prazo para Recurso
19 a 21 de Março 2013
Período de Execução
De Abril a Novembro 2013
Prestação de Contas
Até 30 de dezembro 2013

13 – DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
13.1 Compete a SECULT/AP:
a) Solicitar parecer da Procuradoria Geral do Estado-PGE sobre a legalidade do presente Edital, no todo ou em parte, para possíveis correções evitando conflitos de interesse público;
b) Adiar o recebimento das propostas, divulgando, mediante aviso público, a nova data para entrega das mesmas.

13.2 As propostas selecionadas não poderão ser alteradas.
13.3 Os casos omissos relativos ao presente edital serão resolvidos pela Comissão Julgadora do Edital Nº 01/2013 – “EDITAL DE CRIAÇÃO LITERÁRIA - SIMÃOZINHO SONHADOR”
13.4 O ato da inscrição implica na automática e plena concordância com as normas deste Edital.
13.5. O presente Edital e seus Anexos ficarão à disposição dos interessados na sede da SECULT e seu sítio digital oficial (www.secult.ap.gov.br).
Macapá/AP, 07 de Janeiro de 2013.
JOSÉ MIGUEL DE SOUZA CYRILLO
Secretário Estadual de Cultura do Amapá – SECULT/AP


_______________________
ANEXOS


Secretaria de Cultura do Estado do Amapá
“Seleção de Projetos Culturais SECULT 2012 – Apoio à Literatura”

ANEXO I

FICHA DE INSCRIÇÃO

À SECRETARIA DE CULTURA DO ESTADO DO AMAPÁ – SECULT/AP
Edital:
Projeto:
Proponente:
Endereço
Telefone:
Município/Estado:
E-mail:
Estilo literário:
Nº de páginas:
Faixa etária do público alvo:
( )Crianças ( )Jovens ( )Adultos ( )Idosos ( )Geral
Macapá/AP, de Junho de 2012.
Eu,__________________________________________, inscrito no CPF nº _____________, RG nº _________, domiciliado a __________________________________, venho requerer a inscrição do Projeto denominado _____________________________, de acordo com a exigência do Edital Nº ___/2012 – GEEPE/SECULT/GEA - “SELEÇÃO DE PROJETOS CULTURAIS SECULT 2012 – APOIO À LITERATURA”.
Em anexo, o projeto e a documentação exigida neste Edital, de cujos termos declaro estar ciente e de acordo.
Atenciosamente,
(Nome e assinatura do proponente)


Secretaria de Cultura do Estado do Amapá
“Seleção de Projetos Culturais SECULT 2012 – Apoio à Literatura”

ANEXO II

DECLARAÇÃO – item 4.3.4 do Edital
Eu, __________________________________________________, proponente do Projeto_________________________________________, portador da Cédula de Identidade RG nº ___________________________ e inscrito no CPF nº _____________________ declaro que:
● Estou ciente de que minha seleção para integrar o presente Programa não gera direito subjetivo à minha efetiva contratação pelo Governo do Estado do Amapá ou pela Secretaria de Cultura do Estado do Amapá – SECULT/AP;
● Conheço e aceito, incondicionalmente, as regras do presente edital, bem como me responsabilizo por todas as informações contidas no projeto e pelo cumprimento da sua execução, caso venha a ser selecionado, após apresentar a documentação exigida no item 8.6.
Macapá/AP, ___ de Junho de 2012.
_________________________________________
(assinatura do proponente)



Secretaria de Cultura do Estado do Amapá “Seleção de Projetos Culturais SECULT 2012 – Apoio à Literatura”

ANEXO III

DECLARAÇÃO – item 4.3.5 do Edital
Eu, _____________________________________________________, portador da Cédula de Identidade RG nº ___________________________ e inscrito no CPF nº _____________________ DECLARO estar ciente que os eventos de divulgação dos produtos gerados pelo Edital Nº ___/2012 – GEEPE/SECULT/GEA - “SELEÇÃO DE PROJETOS CULTURAIS SECULT 2012 – APOIO À LITERATURA” poderão acontecer em qualquer Município do Estado do Amapá, nos termos do Edital deste Concurso e comprometo-me a participar dos mesmos, em todas as oportunidades agendadas pela SECULT/AP.
Macapá/AP, ___ de Junho de 2012.
______________________
(nome e assinatura do proponente)


Secretaria de Cultura do Estado do Amapá
“Seleção de Projetos Culturais SECULT 2012 – Apoio à Literatura”

ANEXO IV

DECLARAÇÃO
Eu, __________________________________________________, portador da Cédula de Identidade RG nº ___________________________ e inscrito no CPF nº _____________________ DECLARO, sob as penas da lei, que não sou funcionário da Secretaria de Cultura do Estado do Amapá – SECULT/AP.
Macapá/AP, ___ de Junho de 2012.
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(nome e assinatura do proponente)


5 de jan. de 2013

WILSON CARVALHO ESCREVE

A Literatura Regional no Ensino de Filosofia. 

Comunicação proferida pelo Prof. Dr. João Wilson Savino Carvalho (UNIFAP), em 31 de julho de 2014 -14h30, Café Literário – Clube de Autores, Circuito Off Flip das Letras(Rj)/Abeporá das Palavras(AP), 12º Festa Internacional do Livro de Paraty – 31 de julho a 3 de agosto de 2014, em Paraty/RJ.


Introdução:

O fundamento desta Comunicação é o Projeto de Pesquisa e Extensão “Aprendendo Filosofia com a Literatura Regional”, desenvolvido pelo autor na Universidade Federal do Amapá, com base na experiência de 10 anos de magistério de Filosofia no ensino médio, no antigo Instituto de Educação do Amapá, com apoio teórico no pensamento de Paulo Freire (2001) – a leitura da palavra como leitura do mundo; Hans Geor Gadamer (1995) – a Filosofia como hermenêutica do sentido e a Educação como um processo de criação de novas maneiras de compreender, de agir e de dialogar;  Mathew Lipman (1994) – a necessidade de construção de uma mentalidade investigativa e filosófica pela exploração dos aspectos éticos e estéticos da literatura; e Maria Cecília Mynaio (1993) – a hermenêutica-dialética como linha metodológica que entende a metodologia como parte central na teorização, posto que intrínseca à visão de mundo veiculada na teoria, onde o método é o próprio processo de desenvolvimento das coisas, é o cerne do conteúdo enquanto faz a relação dialética entre pensamento e existência.
Apesar desse referencial teórico, importa firmar aqui que o objetivo de entender o ensino de Filosofia a partir da literatura regional do Amapá, e não inverso, e por isso as conclusões do discurso serão estabelecidas a partir das respostas a três questões interligadas teoricamente: o que é Filosofia? É possível ensinar Filosofia? Por que a literatura regional?
1. A Filosofia.
Tomando a definição mais elementar e geral da Filosofia, que está inscrita no termo que vem suportando o significado no pensamento ocidental há milênios, de busca permanente de conhecimento sobre tudo o que existe (o ser), motivada pela necessidade de entender o mundo e as coisas, inerente ao processo de humanização, feita por meio do processo especulativo (método reflexivo-crítico), encontraríamos logo interessantes pontos de contato com a Arte, em entre as artes, em especial, com a Literatura, na medida em que ambas são formas de interpretação da realidade motivadas pela exigência imperiosa que o ser humano tem de sentido, finalidade, ou, em uma expressão mais incisiva, de se humanizar cada vez mais em processo permanente e histórico.


Entendida a Filosofia como busca especulativa e radical sobre o sentido do ser, permanente e constante ao longo da história da humanidade, fatal é a implicação com o processo de socialização e, consequentemente, com a Educação. Resume-se esse argumento no fato de que verdadeira Filosofia não existe em abstrato, mas tão somente inserida em uma relação dialética com o social (inter-relação Filosofia – Educação – Sociedade), de múltiplas determinações.
De fato, se, por um lado, a classe dominante na sociedade é que estabelece que tipo de educação deva ser aplicada as gerações mais jovens, e no processo educativo formal (mas também no informal) se define o entendimento do que é Filosofia, sendo a Filosofia, em essência, um conhecimento radicalmente crítico, sempre poderá se apresentar como elemento dissonante e rebelde, ou intempestivo, como se refere Jules Deleuze (1992), desvendando a alienação e explicando teoricamente o mundo, estabelecendo (por que não?) a utopia.
É bem verdade que na mais das vezes a Filosofia é apresentada nas escolas como uma espécie de saber místico, abstrato, árido e sem sentido, próprio para o diletantismo dos intelectuais, dos eruditos (que não são filósofos), ou seja, como uma anti-filosofia, por que não apresenta suas características fundamentais de saber abrangente, radical e crítico, que só faz sentido na sociedade, em qualquer época, em um enfrentamento permanente com a ideologia dominante. É comum, por isso, que se naturalize como inovadora a ideia de que não se ensina Filosofia, mas tão somente História da Filosofia, de onde o aluno poderá desenvolver seus posicionamentos filosóficos.
Na verdade, não é bem assim. Trata-se de ensinar a filosofar, e a História da Filosofia, se apresentada ao aluno sem a conexão de sentido com o processo social e histórico (como soe acontecer), resulta no velho ensino de filosofia, no qual a atenção do aluno era mantida por meio de mecanismos de motivação extrínseca, perdendo-se um elemento essencial da Filosofia, que, como já se disse, aparece na sua própria denominação de “amor ao saber”.
2. A Literatura Regional.
A literatura é a arte da palavra (bela), e que, entre todas as artes, é a que mais se aproxima da Filosofia, por que constitui, de toda sorte, um discurso sobre o mundo e a vida. Assim, embora a Filosofia se apresente como um discurso pautado em um método (especulativo ou reflexivo-crítico), e tenha como critério de verdade a coerência lógica (positivismos) e/ou as consequências sociais e existenciais (filosofias histórico-críticas), enquanto que a arte constitui um discurso que tem como base o talento do artista e a sensibilidade do apreciador, e que por isso aparentam certo distanciamento teórico, o fato é que arte é também uma relação de conhecimento enquanto forma de interpretação da realidade, e mais, que acontece num processo de comunicação empática e altamente eficaz, onde a vontade tem papel fundamental.
O que chamamos aqui de literatura regional, no caso específico deste estudo, é a produção intelectual falada ou escrita, sobre qualquer tema literário, feita por amapaenses (logo, carregando nossas formas próprias e singulares de ver o mundo e estabelecer sentidos), ou sobre o Amapá e sua gente. De forma geral podemos dizer que a literatura regional é aquela que expressa o modo de ser do povo do lugar, e constitui parte da identidade desse povo.
3. A Aplicação na Sala de Aula.
Assim entendidos a Filosofia, a Educação e a Literatura Regional, inter-relacionados como uma totalidade dialética, fácil se apresenta o verdadeiro sentido de substituir o “ensino de Filosofia” pelo “ensinar a filosofar”, a partir da aplicação da literatura regional na sala de aula de Filosofia, em três níveis de profundidade de atuação do professor com o conteúdo e com o material didático (textos literários regionais):
1) A literatura com mote para a reflexão filosófica. Um exemplo no uso da crônica “O Espírito de Macapá”, de Wilson Carvalho (BISPO, 2010. Vol III; pag. 82), onde a noção filosófica de “espírito” pode ser discutida a partir do texto, como preâmbulo para a explicação do idealismo e o historicismo hegeliano, ou para a explicação do culturalismo no contexto da oposição ontológica materialismo x idealismo na filosofia ocidental. Na mesma linha: “Meu Rio é Minha Escola”, de Carla Nobre (BISPO, 2010. Vol I, pag. 76).
2) As questões da Filosofia na perspectiva da literatura. Um exemplo no texto “Pequeno Poema de Incredulidade”, de Paulo de Tarso (BISPO, 2010. Vol IV; pag. 106):
“Então me sentarei sozinho e talvez me detenha por momentos a contemplar os detalhes da parede: sombras, teias de aranha, uma rachadura, como se essas visões me conduzissem ao infinito das coisas finitas”.
Da questão da felicidade pessoal a ser trabalhada no ensino fundamental à questão da finitude e da temporalidade humana no pensamento de Heiddeger (2005), a ser trabalhado em um curso de licenciatura em Filosofia, o poema (completo) de Paulo de Tarso é perfeito. Na mesma linha: “Paisagem Antiga”, de Alcinéa Cavalcante (MESQUITA, 2012; pag. 16), ou “Esboço de Uma Teoria da Alma Humana”, de Sânzia Fernandes (BISPO, 2010. Vol I; pag. 43)
3) A reflexão filosófica sobre o texto literário. Um exemplo no episódio do “Engasga”, que aparece no romance de Maria Ester Pena Carvalho, onde os conceitos de alienação e ideologia podem ser discutidos em profundidade, com uma demonstração verossímil (embora se trate de ficção), de como a mitologia regional pode ser utilizada para plasmar significados absurdos numa sociedade fechada, sem discussão ou coerência lógica. Outro exemplo de grande fertilidade para o trabalho em sala de aula, nesse sentido, é o conto de Fernando Canto (BISPO, 2010. Vol II, pag. 36), Brasa Balançante (Um Conto do Tempo da Guerrilha).

Conclusão:
A literatura como um todo, mas especialmente a literatura regional, se apresenta não apenas como um rico material para a reflexão filosófica em sala de aula, principalmente pelos significados relativos identidade e a formação cultural do lugar, abordados literariamente por pessoas que conseguem “ver” esses significados por uma perspectiva divergente, mas também por constituir uma forma de abordagem transdisciplinar de temas extremamente caros tanto à Filosofia como à literatura, como a felicidade, os valores ético-morais, a justiça formal (ou injustiça), ou a desigualdade social.

Bibliografia:
BISPO, Manoel (Org.). Coletânea de Poetas, Contistas e Cronistas do Meio do Mundo – Projeto Samaúma da Literatura Amapaense. Vol. I (Contos). Vol. II (Poesias). Vol. III (Crônicas). Macapá : Ed. JM, 2010.
CARVALHO, J. W. S. Temas Básicos em Filosofia. Macapá, UNIFAP : 1993.
CARVALHO, Maria Ester Pena. As aventuras do professor Pierre na terra tucuju”. Paraty/Rj : Selo Off Flip, 2013.
DELEUZE, Giles & GUATARI, Felix. O que é Filosofia. Rio de Janeiro : Ed. 34, 1992.
FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade e outros Escritos. 9.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
HABERMAS, J. Dialética e Hermenêutica. Porto Alegre, Ed. LPM, 1987.
KOHAN, Walter Omar, LEAL, Bernardina e RBEIRO, Álvaro (Org.). Filosofia na Escola Pública. Petrópolis : Vozes, 2000.
LIPMAN, Mathew. A Filosofia na Sala de Aula. São Paulo : Nova Alexandria, 1994.
MESQUITA, Cleia; BAIA, Fernanda e ALVES, Mara (Org.). Poesia na Boca da Noite. São Leopoldo : Oikos, 2012.
MINAYO, M. C. de S. O Desafio do Conhecimento; pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec‑Abrasco, 1993.
PORTELA, Eduardo – Literatura e Realidade Nacional. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1971.

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DÁ-ME OS ÓCULOS! 
(A ÚLTIMA FALA DE FERNANDO PESSOA, MUSICADA POR SÉRGIO SALLES)

João Wilson Savino Carvalho

Dá-me os óculos, a vista me falha
Nada mais me atrapalha
Chegou o meu fim
“O último poema”, de Sérgio Salles.

       Eu gosto de falar da arte como forma de interpretação da realidade, logo, um dos tipos de conhecimento, ao lado da Filosofia, da Ciência, da Religião e do Mito.
 É que acredito que o artista capta a realidade de uma forma especial, aquela pautada na sensibilidade, tendo como ferramenta o seu talento. Não estou dizendo que é uma forma melhor ou mais eficaz que a do cientista, que se pauta na observação e tem como instrumento o método. Dizer que algo é especial significa que é diferente, e que merece atenção específica.
     Entre todas as artes, segundo Hersch, a que mais se aproxima da filosofia é a música. Porém, entre as artes, eu amo a literatura, e, por morar na Filosofia, hei de lutar até a morte para que jamais se torne profissão, tal como a política, que me dói na alma ter-se tornado um trabalho, no sentido de meio de ganhar a vida (e como!).
      Mas a música é arte, e entre as artes, é mais especial ainda. Talvez fosse melhor dizer essencial.
      É fácil explicar o porquê de tão temerária afirmativa, já que estou no campo da arte e não da ciência, e posso me expressar através da simples descrição de um caso, sem me preocupar em teorizar sobre ele: há dias estou com uma música martelando em minha mente. É uma composição de Sérgio Salles, feita a partir das últimas palavras de Fernando Pessoa, e que começa assim: “Dá-me os óculos!”.

Contam que, quando seu pedido foi atendido, ele já estava morto. Não sei se o fato é verdadeiro, lenda ou se ele fez literatura no último momento de sua vida. Mas também não é esse o ponto de foco, e sim a música chamada “O último poema”.
      Certamente é, no mínimo, inusitado que um moribundo peça os óculos na hora da morte, mas a composição adquire vida própria a partir de sua interpretação pelo próprio autor.  É que a entonação dada à frase, no começo e no final da música, é fundamental para a compreensão do sentido da música, e isso é impossível de ser traduzido em um texto (ou, pelo menos, não no limite desta pequena crônica).
        Para mim a frase não é o simples lamento de um míope que não se conforma em observar o mundo desfocado, ou o mero hábito de um velho. E é o tom da frase na música que me diz isso.
 Estaria Fernando Pessoa querendo ler alguma coisa porque a leitura era a chave de seu entendimento do mundo? Quereria ele marcar que sua vida era a literatura, e isso não acabava com sua morte? Estaria ele sentindo-se no limiar de uma nova fase e precisava de seu fiel instrumento de visão?

   Quer saber? Ouça a música, não precisa ser necessariamente na voz de seu autor, já que um bom intérprete se mostra um grande hermeneuta dos sentimentos do compositor quando consegue viver a música a cada interpretação.
       Temos grandes artistas no Amapá, e Sérgio Sales é um deles. Selecionado entre os contemplados com o prêmio de literatura “Simãozinho Sonhador”, vêm se dedicando à arte e a cultura amapaense já há algum tempo.

E em um momento feliz de sua vida criou e nos brindou com essa música, que agora fica martelando em minha mente, criando intrigas com outras tão bem estabelecidas cognições sobre a vida e a morte. E isso me leva a escrever. E isso nos leva a pensar.

               
        “Dá-me os óculos...”

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TIPOS E DITOS INESQUECÍVEIS

Wilson Carvalho  (*)

Praça Veiga Cabral antiga
   Um dia ainda escrevo sobre os tipos inesquecíveis que conheci quando trabalhava como ajudante no escritório de meu pai. Sei que isso hoje parece estranho, mas naquela época um garoto se orgulhava muito em ter um trabalho remunerado aos oito anos de idade, e eu, na verdade, me sentia muito importante por trabalhar com o meu pai, em um lugar muito, mas muito pitoresco mesmo, bem no cruzamento da Rua São José com a Avenida Presidente Vargas, defronte do ponto de “carros de praça” da Praça Veiga Cabral, com suas gigantescas mangueiras e suas mangas que só caiam “pituriscas”. Mas o que mais me impressionava eram os tipos que apareciam lá, e o principal deles era o próprio dono do escritório, meu pai, Wilson Carvalho, guarda-livros, corretor de imóveis, de seguros, negociante, e que adorava uma discussão, principalmente se o tema era futebol ou política.
   Lá conheci o doutor Waldemiro Gomes, um dos sábios que tive oportunidade de admirar e até mesmo de me espelhar. Seus cabelos brancos e seu jeito elegante combinavam maravilhosamente com seus impecáveis fatos brancos e, e claro, com seu imenso saber. Acho que foi a primeira pessoa que me impressionou por ter uma cultura geral fascinante  e nem imagino como seria minha vida sem esse tipo de influência. Lembro mesmo do primeiro dia em que começou essa admiração.
Waldemiro Gomes - A pintura (quadro maior 
ao fundo) é de autoria 
do artista Estevão Silva

   Como o meu trabalho no escritório inicialmente se resumia em tomar conta do espaço e anotar recados, eu passava boa parte do meu tempo revirando as gavetas e armários, que, aliás, eram muitos. Um dia encontrei uma estranha caixa de alumínio, no formado de uma máquina de calcular de hoje, das grandes. Tinha cerca de meia dúzia de fileiras de números de 0 a 10 impressos na frente, com frestas correspondentes a cada uma delas, onde se via, pelo lado de dentro, tiras móveis com número equivalente de furos, também numerados da mesma forma. Ao lado, encaixado em um pequeno suporte, algo que tinha o formato de um lápis, também de alumínio, e que terminava numa ponta fina que, evidentemente, servia para movimentar as tiras de furos. E, por fim, pasmem! Cada vez que se movia as tiras corrediças com o lápis de metal, número apareciam por um orifício mais ou menos do tamanho de um confete. Que mistério!
Parecia que meu pai tinha custado bem mais tempo para chegar naquele dia, e eu não deixei sequer ele chegar direito.
   - Pai, pai, que é isso?
  - Ah! Isso? Sei lá... Faz tanto tempo... Acho que foi o Silva que deixou aí, de garantia por um serviço e nunca mais apareceu para pagar... Com certeza não quer mais. Pegou o objeto, bolou rapidamente nas mãos e concluiu: bom, uma coisa é certa, é uma máquina.
   - E pra que serve? Como funciona? O senhor sabe? Sabe, pai?
   - Ah! Aí tu vais ter que esperar o doutor Waldemiro aparecer aqui... Ele, com certeza, sabe...
   Eu, claro, esperei. Nessa época eu ainda não sabia que ele trabalhava no museu que funcionava ao lado do Hotel Macapá, senão tinha ido lá, e descoberto logo um mundo inteiro de curiosidades que fariam a felicidade de qualquer moleque da minha idade. Mas, na manhã seguinte (eu estudava a tarde), ele apareceu:
   - Isto? Ah! É uma máquina de calcular...
   - E como funciona, doutor?
   - Assim. É tão simples. Basta inserir este pino no furo e puxar pra baixo... Se você quer somar 126 com 234, basta colocar o pino nos furos correspondentes e pronto, aqui aparece o resultado. Bom, a essa altura o leitor deve estar pensando: Ora, mas isso é a mesma coisa que aquelas máquinas de calcular de brinquedo, porém feitas em papelão e plástico. Só que isso não existia na década de sessenta. Nessa época, os brinquedos eram o pião de madeira, aros velhos de bicicleta e carrinhos de lata de leite ninho.
Máquina de escrever Royal
   Fiquei fascinado com a máquina e com meu novo poder: eu, que antes ficava envaidecido quando as pessoas paravam na janela do escritório para me olhar usando aquela enorme máquina de datilografia “Royal”, agora era capaz de somar com incrível rapidez, usando aquela maquininha. Mais dois anos, e eu me tornaria capaz de entender o seu funcionamento. Mas o melhor de tudo nesse episódio foi a posterior descoberta do museu dirigido pelo doutor Waldemiro Gomes. Ali realmente descobri coisas maravilhosas. Foi uma época boa, como é toda infância, só pelo fato de ser o alvorecer da vida, com todas as suas potencialidades.
   Mas há algo que ficou na minha memória, não pelos tipos inesquecíveis que tive oportunidade de conhecer, não pelo saber que tive contato, mas pelo que significaram para a minha vida: os ditos inesquecíveis de alguns desses tipos inesquecíveis.
  Meu pai, por exemplo, encerrava qualquer discussão sobre politica afirmando peremptoriamente: Ditadura? De direita, da esquerda, do proletariado ou da pqp, eu sou contra e pronto!  E quando passávamos situações de aperto financeiro, como quando meu pai perdeu uma imensa fatia de seu patrimônio por conta da doença de um irmão meu, que passou um ano doente, foi se tratar no Rio de Janeiro, mas no final ficou bom, ele resumiu serenamente toda a questão em um dito que se tornou norma de vida para mim. Jamais esquecerei o que ele disse quando perguntei como ele conseguia manter o bom humor diante duma situação tão difícil: Vão-se os anéis, mas ficam os dedos!  Esse dito era o suprassumo da compreensão da diferença entre essência e aparência.
   Havia um especialmente interessante que ele usava quando alguém tentava mascarar uma situação evidentemente ilegal ou imoral, para torna-la mais aceitável: Isso aí é tentar tapar o sol com peneira! Jurei que jamais faria isso, principalmente para mim mesmo, e acho que valeu a pena.
   Meu pai era conhecido por ser eternamente contra o governo e, mesmo assim, em um Território Federal onde o governante sempre agia como o dono de um feudo, conseguia ter um número imenso de amigos. Aliás, um de seus ditos favoritos era: “mais vale um amigo na praça do que dinheiro em caixa”. E de fato, não foi uma e nem duas as vezes que o vi trabalhar de graça para um amigo, e fora do campo da política, pelo menos do que eu sei, nunca se decepcionou com um amigo.
   Uma figura em especial que frequentava o escritório e que chamava minha atenção era o Sr. Ben-Hur, com sua postura impassível, como um personagem de filme antigo. Sentava em uma cadeira de frente para a rua, colocava o cabo do guarda-chuva entre as mãos, a guisa de bengala, e ficava horas fitando o vazio. Muito culto, viajado e dono de uma caligrafia maravilhosa, ele escrevia com caneta tinteiro com uma firmeza que qualquer texto seu parecia um impresso. Um dia, não resisti e perguntei ao meu pai sobre ele.
   - “Seu” Ben-Hur? Ah! Talvez seja porque ele já foi um homem muito rico, com muito gado no interior do Mazagão... Dizem que era dono de grande fortuna, tinha muito gado, mas hoje vive de rendas...
   Ainda bem que eu era uma criança, e crianças podem ser curiosas. Se ele nunca disse pra ninguém o que aconteceu, para mim respondeu sem hesitação.
   - O que aconteceu? Ah, Wilsinho, o que aconteceu foi que... Parou, ficou por alguns minutos olhando o vazio, cofiou mais uma vez o bigode, e então respondeu com firmeza: o que aconteceu é que um homem não pode confundir os números com os bois... E muito menos o que ele pensa que sabe com o que ele realmente sabe... Pensei muito sobre isso. De algumas coisas eu não tinha a menor dúvida: queria ter uma bela caligrafia como a dele, queria ter muitas histórias como ele tinha, e queria, e muito mesmo, jamais confundir a realidade com o registro dela. Acho que foi daí em diante que passei a ter aversão ao formalismo.
Então passamos a conversar muito. Descobri que sua letra era assim tão perfeita porque ele tinha estudado em um paleógrafo e ouvi muitas histórias de búfalos no Mazagão, algumas tão incríveis que até eu próprio teria duvidado, se ele não tivesse, um dia, trazido uma bala, que teria retirado da testa de um búfalo, e que mostrava claramente que teria se espalmado sem penetrar o osso. Na verdade, parecia mais uma flor de chumbo do que uma bala de revolver.
   - Então... O que teria acontecido com o atirador?
   - Imagino que morreu, porque o búfalo estava vivo... Quer dizer, até eu atirar nele com um rifle. Era um rosilho, muito grande e brabo, parecia não ter medo de nada! Na verdade, o búfalo não é como um boi. O búfalo é um animal selvagem... E quando se cria solto, acaba tendo que ser caçado... E foram tantas as histórias, pena que não tive oportunidade de registrá-las. Daria um livro de aventuras, com certeza.
   Eram tantos os personagens que frequentavam o escritório, e eram tantos os ditos... Em sua maioria, realmente edificantes. Mesmo aqueles vazados em linguagem chula traziam alguma lição de vida. Mas acho que sempre tive predileção por aqueles que se mostravam sempre alegres e de bem com a vida, como o seu Chico Torquato ou o seu Walter Jucá, personagens brincalhões e irreverentes, mas, principalmente, espirituosos. O primeiro sempre conseguia achar um aspecto positivo em qualquer situação, e o segundo conseguia transformar em piada até as situações trágicas que tomava conhecimento pela sua condição de policial.
Foto do Ten. Pessoa na BR-156 na época 
em que fez a Caminhada do Século 

 Mas um era especialmente aplicável a qualquer situação, boa ou ruim, o conhecido guerra é guerra, do Tenente Pessoa, figura que, não contente com sua impressionante história no partido comunista, ainda foi capaz de construir uma ainda mais inacreditável: caminhou a pé do Oiapoque ao Chuí, passando em Brasília em plena comemoração do sesquicentenário da Independência do Brasil. Se a notícia era boa: É isso aí! Guerra é guerra! E se a notícia era ruim: Bom, a verdade é que guerra é guerra... Esse é um dito muito bom, que registro aqui, porque desde então, embora faça questão de cultivar muitos amigos, trato de nunca me descuidar com eles, porque, afinal, guerra é guerra.
   Personagens da Macapá provinciana, amigos que já se foram, mas que viveram intensamente seus caminhos e, mais que isso, cada um dos percalços desses caminhos. Alguns tiveram mais sorte, outros menos. Alguns foram embora mais cedo, outros deram algum trabalho. Mas, em sua maioria, estão todos por aqui, seja por seus filhos e netos, seja pelas recordações que deixaram. E talvez por uma interessante coincidência, estão quase todos no bairro do Zerão, próximo ao campus da universidade federal, mediados pelo bispo da época, que deve mantê-los mais comportados. Uns nomeiam ruas bem asfaltadas e movimentadas, outros ruas pacatas e esburacadas. Coisas da vida.

* * * * 



E O IETA NÃO MORREU

Wilson Carvalho Savino (*)

Um dia desses, numa manhã radiosa, tive um momento de raro prazer quando casualmente visitei os amigos do Grupo de Educação Continuada, que agora funciona em um prédio da SEED/GEA na Praça Floriano Peixoto, e eles estavam justamente apresentando o projeto de educação continuada na praça. Foi uma manhã maravilhosa, quando tivemos oportunidade de interagir e eu de entender, na prática, a linha de trabalho desse grupo. Melhor não falar nada, as fotos do evento falam por si:

 
Isso que se vê nas fotos e uma forma bem atrativa de apresentação vivenciada do projeto de trabalho do Grupo de Educação Continuada, na forma como é levado para as escolas, e que consiste numa autorreflexão sobre o entrelaçamento das dimensões amorosas e cognitivas, com apresentação através de poesias, músicas, místicas e relaxamento. E no decorrer da tarefa, são produzidos textos-artigos e materiais metodológicos como forma de apoio ao fazer-sentir-pensar educativo das escolas na busca da qualidade da vida.


Os objetivos de um trabalho dessa natureza são principalmente estudar-refletir as bases epistemológicas e ontológicas do fazer-sentir-pensar educativo com os educadores da escola abordada; tornar visível a dimensão cuidante-amorosa nas relações na escola; vivenciar o cuidado amoroso no diálogo, no respeito e na não-violência; entrelaçar a dimensão cuidante-amorosa com a dimensão cognitiva; fortalecer em cada educador a autoconstrução na amorosidade.
Os meios para alcançar esse objetivo são a vivência do autoencontro no ato da execução do projeto, a entrega das cartilhas de poesia, de história, de teatro, de música, de filmes, etc, que são produzidas pelo próprio grupo, além do caderno de contação de histórias. E é assim que o projeto é levado às escolas, como uma alternativa de superação desse desânimo e descompasso com a realidade do mundo atual, que desgasta os educadores nas escolas e faz desmoronar todo o esforço empregado, desperdiçando os recursos do sistema escolar.


Os resultados buscados são a superação do estresse na escola, a convivência pacífica na solidariedade, a criação de um ambiente escolar acolhedor, o aumento da qualidade de vida, enfim, de tudo o que sonhamos para as nossas escolas públicas, ou, dito de outra forma, de tudo o que se sonhava em um espaço educacional chamado de IETA.
Esse Grupo surgiu quando o glorioso Instituto de Educação do Amapá (IETA) estava decididamente extinto, sobrando apenas um grupo de professores, os guardiões da essência de uma cultura escolar singular que fez do IETA uma escola diferente e também a diferença, de alguma forma, na vida de todos os que por lá passaram. Esse grupo decidiu que ainda havia fogo sob as cinzas e que eles poderiam fazer melhor, poderiam disseminar o espírito do IETA para todas as escolas da rede estadual, que, aliás, era o que de melhor o grupo do IETA já há muito tentava fazer.


E assim, lá foram eles, ao governador do Estado, à Secretária de Educação, procurando apoio para a sua causa em educadores que tinham passado pelo IETA e que eram considerados de renome no Amapá. Não foi assim tão difícil, afinal, eles próprios eram educadores com reconhecimento na comunidade, e em toda parte encontravam outros educadores que se identificavam com a cultura de competência no trabalho de formação de professores em serviço no Amapá, que se construiu no IETA nos seus mais de cinquenta anos de existência.
A tarefa agora era vender a ideia de uma educação permanente e continuada, uma formação em serviço, para enfrentar o desalento que invade a educação brasileira em todos os aspectos, com as consequências mais funestas possíveis, panorama que é visível nos noticiários que a mídia propala como o ponto do caminho em que não há retorno. Mas o grupo era valente e enfrentou com galhardia mais esse desafio, e com ele manteve vivo o melhor do IETA, trabalhando com um processo de educação permanente que tem como objetivo todos os profissionais de educação da rede pública no Amapá (não só com professores), construindo e reconstruindo concepções de educação. Educação, não capacitação, como faz questão de frisar a Profª Maria José Costa da Silva, uma denodada defensora dessa ideia.
 Para se ter uma ideia do quanto é complexo e interessante a linha de trabalho do grupo, basta lembrar que, só numa escola de Macapá ficaram três anos, indo à escola três vezes por semana, onde foram desafiados a trabalhar com um grupo que era chamado “os perdidos da escola”, porque todos já tinham desvanecido de conseguir que estudassem, passassem de ano ou apresentasse um comportamento razoável dentro da escola. Com essa linha de trabalho venceram esse desafio, e a Profª. Maria José orgulha-se de ter essa experiência devidamente registrada, para teorizar futuramente sobre essa prática, no exercício do sentido mais profundo do termo práxis pedagógica.
Batista, Eugênio, Orivaldo, Nestor, Maria José, Nazilda, Samira, Deusa, Magno, Cláudio, Ana Maria, Débora, Mara, Márcia, Fernanda, Maria das Graças, Simone, Mirlene... Os mesmos que se via nas fotos da linha de frente no IETA. Pena que o grupo vai naturalmente diminuindo, alguns se aposentam, outros adoecem... E o aumento de membros é raro... Alguns educadores sentem que é preciso fazer alguma coisa diferente para enfrentar o caos que está a educação, procuram o grupo, se interessam e se empolgam com os resultados, mas acabam achando que a linha é uma “viagem”.

E, realmente, falar da dimensão amorosa na escola não é nada fácil. Imagine-se que no Amapá há um número espantoso de professores fora de sala de aula, com problemas psíquicos. Para a Profª. Maria José, por espantoso que esse número pareça, não há o que estranhar, já que, com uma educação impositiva, falando “para” e não “com” uma clientela que está na era digital enquanto o professor em sala de aula está mandando o aluno escrever no caderno, só tem como resultado o caos. Para o grupo, a solução é chegar no coração do alunos, com projetos capazes de conquista-los lá onde estão: É preciso ressignificar nosso fazer pedagógico na escola ou a convivência vai ficar impossível, com os alunos na era digital e a escola imóvel no tempo.
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(*) Professor da Universidade Federal do Amapá -Unifap, advogado, escritor premiado, integrante da Associação Amapaense de Escritores - APES, autor da obra "Temas Básicos em Filosofia", mestre em Filosofia, atualmente faz doutorado em Educação pela UFU e lançou recentemente a coletânea de contos "Da Vida e da Sorte por 10 Contos", pela Editora Virtual Books - aguarde matéria sobre o livro que faremos neste blog.

Contatos com o autor:
(96) 9971 9339
wilsoncarvalho@unifap.br