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16 de abr. de 2020

SÉRIE NOVOS POETAS DO AMAPÁ - 15 - IVALDO DA SILVA SOUSA


Nota:
Esta série vai prosseguir até que possamos publicar e registrar, neste blog, o maior número possível de novos poetas.
Esclarecemos que aqui não fazemos juízo de valor nem apreciação crítica (apenas a divulgação!), mas são livres os comentários e opiniões dos nossos leitores e internautas, desde que pertinentes e referentes aos textos -- e não ofensivos, é claro.
O conteúdo, revisão ortográfica e gramatical dos textos são de inteira responsabilidade dos seus autores, bem como o copyright.


                                   Aguarde para breve mais um novo poeta!




BEM-TE-VI CANTANDO ALI

Com meu jamaxi nas costas
Calafetei meu bote, peguei meu remo
E por entre as flores dos mururés
Coletei na Amazônia, sonhos e versos
Caminhei por entre as palavras
Desviando-me das árvores espinhentas,
Aqui é minha casa, a vida levo de boa
Meu olho d’água já brota gotas cristalinas
Meu braço preferido é o braço do igarapé
Que me leva até você
O gosto de teu beija flor me encanta,
Meu bem querer, bem te vi cantando ali
Traz na boca do Jari, a beleza quando te vi
Espremendo tipiti, sentada na escada de jabuti
Trago boas lembranças em meu jamaxi
Junto levo também açaí
e na salmoura matupiri.
Viajo pela Amazônia em busca de ti.
Matinta pereira já passou por aqui,
Vem! Vem tem tabaco amanhã pra ti
Mas quando a rasga mortalha canta,
Eu disconjuro e corro,
Tomo banho de pião roxo
Atravesso a pororoca até em cima da folha da sororoca
Tomei o banho do tamacuaré
Aqui na boca do igarapé,
Deus me acuda com meu pé de arruda
Agora chora nos meus pés!
Faz querer quem não me quer!
Amansa leão
Vem para meu coração
Chega-te a mim! Agarradinho.
Pega e não me larga,
Corre atrás de mim, busca longe,
Chama e Abre meu Caminho
com a espada de São Jorge
Nestas densas curvas dos braços dos igarapés
Vem, me beiju com café,
Que já passou o poraquê
Vem, me mostra teu corpo,
Teu pé de canela,
Teu olho d’água,
Tua boca do Jari.
Só não te quero com barriga d’água
Para de birra, e traz logo a gengibirra
Já tem sarapó e jacundá, vem loco pra cá!
Daqui já vejo a boca, a boca da noite
Pega a lenha, faz o fogo, atiça, atiça
Aquece o couro, que a festa na floresta vai começar
Com batuque e marabaixo, nós,
negros, índios e brancos iremos festejar
Pela felicidade que esta vida nos fez chegar
Nada de tristeza, nossa liberdade, nossa beleza
Aqui na Amazônia acabou de chegar


O autor com as poetinhas Raíssa e Eloá


IGUALDADE E CAPACIDADE


Sou negro, sou índio, sou Tupi
Sou feliz, sou humano
Sou igual, sou capaz
Minha pele, minha cor, minha dor

Sou feliz, sou humano
Sou igual, sou capaz
Guerreiro fui, guerreiro sou
Sou negro, sou índio, sou Tupi

Sou feliz, sou humano
Sou igual, sou capaz
nesta grande nação que
o negro e o índio formaram

Sou negro, sou índio, sou Tupi,
Hoje sou professor, sou mestre, sou doutor,
Sou feliz, sou humano, sou igual,
sou capaz.

BELEZA


Negro, Índio, sou belo, sou forte
Meu sorriso, meu cabelo,
minha história, nossa cor

Negro, Índio, sou belo, sou forte,
negro nasci, negro serei,
se sou negro ou se sou índio.
Belo sou, belo serei, penso assim e ninguém poderá mudar
os apelidos, as rejeições, as brincadeiras depreciativas,
nada me mudará não me nego, não me curvo, não me rendo.

A beleza está aqui, a beleza está aí,
está em todos, todos temos nossas belezas,
mas pode não estar nos olhos de quem vê .


PALAVRAS


Palavras, palavras, palavras,
são tantas palavras
neste imenso mar de lágrimas,
no sorriso de criança,

Na tristeza da velhice,
O mar é grande, o mar de lágrimas
o mar é grande, o mar de palavras,
a cada lágrima caída, uma palavra a ser dita,

No entanto, são tantas palavras,
palavras, palavrasa cada lágrima caída
uma palavra a ser dita, se não as digo,
é porque não tenho palavras,
simplesmente lágrimas, lágrimas, lágrimas.


ÁFRICA AMIGA

África minha que partiu,
Já sou alegre e não mais triste
Já sou livre e não mais preso
África amiga, parti tão cedo destas terras
Fui arrancado de ti, parti triste e sofri muito
Neste mundo tão distante de cultura diferente
Afetou a minha mente, mas meu coração é permanente
Me fizeram te esquecer, invadiram a minha mente
Mas, o sangue que me esquenta
permanece e nos liga eternamente.
África amiga, fica eu cá nestas terras tão distantes
Sempre alegre e não mais triste
Meu quilombo agora é festa e só alegria
Com tantos movimentos já sei quem sou, já sei quem és
Minha África, minha amiga, o sofrimento acabou
Já estudo, já sei ler, já sou médico ou doutor
Aqui é belo, tem açaí pra toda gente,
Mas, também tem peixe, pássaros, natureza tão bela como tu
Mas, é tão belo estas terras tucujus
Séculos se passaram e ao longo da história
Me fizeram te esquecer, tentaram me embranquecer,
Me fizeram te esquecer, invadiram a minha mente
Mas, agora já me lembro, pois o sangue que me esquenta
permanece e nos liga eternamente.



SOU ASSIM

O vento batia em meu rosto novamente
Os raios do sol penetravam em meu corpo
Minha visão já me abandonara
Sentia meus cabelos balançarem ao vento
Sentia a beleza da vida... doce vida.
Senti você me olhar, senti você discriminar
Sou negro, sou cego, sou surdo
Senti você bem longe, longe de tudo
Não enxergava, mas podia sentir
Senti você bem longe, senti você discriminar
Não nasci assim, já nasci assim, cresci assim
Reaprendi a viver assim, eu sou assim
Eu penso e existo, existo e penso
Quero estudar, quero correr, quero andar
Quero beijar, quero namorar, quero estudar
Quero varrer a casa, quero lavar as louças
Quero viver, quero sentir, eu penso e existo
eu sei que tem solução neste mundo de inclusão
com tanta computação e globalização
vamos divulgar, vamos compartilhar
Reaprendi a viver assim, eu sou assim.

VENHO DA ÁFRICA

Venho da África
Venho da luta
Venho da guerra
Venho da paz
Venho do amor.
Não sou filho da tristeza
Não sou filha da solidão
Não sou filho de escravos
Mas tenho fé no coração.
Que sou forte
Que sou belo
Mas agora é real.
já foi extinto sem igual.
Seleção racial não cola no social;
Venho da África
Para estas terras tucujus;
Cercado de pessoas lindas e inteligentes como tu!



TURVA VISÃO

A neblina do tempo
Chega em meu olhar.
Minha pena rasga o papel
Com a turva¹ visão.
Ainda consigo exprimir
Nas letras e versos a alegria deslumbrante
Que outrora já não tinha...

Ao passado pertencem as dolências²
E que circundem as felicidades circundantes.

Chega de olhares flébeis³ por vossa cor, por vosso passado;
Vivamos as volúpias4que esta vida já nos dá
Despertai-vos a vossa beleza;
De vossa bela cor negra
E vivas a felicidade que a nós foi negada.

Ó formas perfeitas, belas e negras;
Vejo a beleza em vosso olhar
E a inteligência em vosso pensar.

Sois belos(as), inteligente e capaz!

Ó formas perfeitas, belas e negras
Vejo a beleza em vosso olhar

E a inteligência em vosso pensar;
Não podeis vos negar
Deixai-vos vossa beleza brilhar!




DONO DE MIM

Já sou dono de mim.
Vós que sempre olhou
E tampouco se aproximou,
Sois vós, Senhora!

Que por mim se apaixonou,
Mas o grilhão¹ nos separou!
Senhora, agora já sou livre,
Teu semblante ainda paira
Em minhas lembranças!

Meu povo está liberto, senhora!
Senhora, senhora, já sou dono de mim,
Sem castigos e sem açoites.

Viva eu cá, na liberdade.
Liberte-se também!
Diga-me, senhora:
Vós tendes a viver na prisão de seu pensar?
­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­

IRMÃOS

Irmãos...
Sou filho da terra
Sou filho do chão
Sou filho da vida
Que gerou esta nação
Trago felicidade no peito e amor no coração!
A vida começou no céu!
A vida começou no chão!
Pode ter começado até de uma explosão!
Mas o homem mais antigo
Surgiu na África, meu irmão,
Com muita energia que gastou a arqueologia
Para confirmar que somos todos irmãos.



TORMENTOS PASSADOS

Amigo, no intrépido¹ caminhar por estas terras
Não me vejo mais a me negar
Nesta densa curva, deste caminhar turvo.
Trago nas pálpebras um olhar sereno
Onde o oriente transcendente para novos poentes
Por mares distantes, nunca navegados por navios errantes.
Trago brandas lembranças
E suspiros de iras passadas.
Vos é chegada a hora
De vossa branda e rigorosa liberdade;
Os tormentos por ti, por mim e por vós passados
já não devem mais nos assombrar;
Nosso grito de liberdade deve soar:
L I B E R D A D E!

BELEZA

A beleza natural das coisas!
Os mistérios do desconhecido!
A natureza agindo
O ser natural se funde com a beleza humana
Na simplicidade das formas
Do sorriso de criança
Na beleza de mulher
Do ser, do não ser
Da paixão, da solidão
Do amor com muito amor
Do negro, do branco ou do índio
Somos lindos, fortes e inteligentes!
Chega de dor,
Agora só quero viver com ... Muito amor!


A DISSOLUTA SOCIEDADE

A corrupta política. Até mesmo a clerezia¹;
Desprezaram a prosápia² de vosso povo;
O desvelo³ já vos negado;
Vossa pertinência e fé;
Demonstra o siso4 no semblante
De vossos ancestrais;
Trazei-vos de volta meu candomblé
Para que na minha religião
Eu possa ter fé.
Rogai-vos aos orixás que elevem o meu lavor5
Deste pequeno artesão das palavras.
Que meus versos não sejam tão atrozes.6
Saí-vos de vosso recândido pensamento;
E bradai-vos7com vosso pensar;
Ogum, Exu, Livrai-vos!
De todo preconceito e discriminação desta nação!



SONHANDO AFOGADO

Sonhei que estava sufocando;
sonhei que estava me afogando;
você me jogou ao mar
e lá no fundo afogava-me
com seu beijo, queria morrer ao mar.
Queria morrer afogado,
queria morrer sonhando
na doçura de seus lábios.

Minha negra linda e bela
Teus lábios sedentos me enlouquecem
Tua cor reluz a beleza nunca vista por meus olhos.

Me afoga em teus lábios
Me reanima em teus beijos
Tua melanina me anima
Teu sorriso me enlouquece
Minha negra, minha bela.

Me leva, me abraça, me beija!
Sonhei que estava contigo
Sonhei que estavas ao mar
Sonhei que me afogava nos teus sábios.

Quero ficar aqui
Neste sonho perto de ti;
Nosso mundo é aqui;
Neste sonho de amor.
Me afoga, me afaga
Me afoga em teus lábios;
Minha negra, linda e bela!

LIBERDADE

Quando te vi assim tão só
Ninguém olhava em teus olhos...
Não vai ser assim para sempre.

Eu vi em seus olhos
A hora vai chegar
Tudo vai mudar
A hora é agora
Não vai ser assim para sempre.

O que sou, é fruto do que sou;
Vem, vem lutar
Luta, luta, luta por ti, luta por nós
Eu vou encontrar alguém
Que lute comigo, que lute contigo!
Nós vamos encontrar mais um,
Mais dois ou três, eu sei, que vou.

Alguém, em algum lugar
E vamos lutar;
Agora não estou só;
Eu tenho você, eu tenho você!

Ninguém vai me parar
Nessa luta, eu e você;
Eu comecei esta luta
mas outros virão
Para continuar, eu sei, eu sei!

Eu sei que estamos no começo,
Queria contar com você
agora e sempre;
Queria contar, queria contar
Vamos buscar a luz
No infinito mundo!

Sai agora! Levanta-te e vamos!
Corre, corre, canta e grita
Esta ideia!
Eu apenas comecei,
eu apenas comecei,
Vem, vem corre, corre, e vem;
Chega de sofrer, sai da escuridão!
Vem pra luz, eu preciso de você!
Estas podem ser minhas
últimas palavras!
Mas o sonho continuará!
Liberdade, Liberdade!
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Contatos com o autor:
ivaldo-sousa@uol.com.br
Facebook: Ivaldo da Silva Sousa
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BIOGRAFIA DO AUTOR

IVALDO DA SILVA SOUSA

Doutor em Ciências da Educação, Mestre em Ciência da Educação, Mestrando em Planejamento e Políticas Públicas - ProfissionalMPPPP (Universidade Estadual do Ceará), Pós-Graduado em Psicopedagogia, Especialista em Educação, Pós-Graduado em Metodologia do Ensino de Arte, Pós-Graduação em História e Literatura Afrodescendente, Graduado em Artes Plásticas, Graduando em História, Parecerista da Revista Científica da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Consultor em Cultura e Artesanato pelo SEBRAE-AP. Artigos Científicos publicados na Revista Científica da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). Autor dos livros Científicos: As relações étnico raciais em sala de aula: Preconceito invisível, porém concreto; 2ª Edição: As relações étnico-raciais em sala de aula: preconceito invisível, porém concreto; Preconceito e Discriminação Racial: Abordagens Reflexivas de algumas teorias religiosas e científicas; Criatividade em sala de aula: Despertando o potencial criador; Romance: Felicidade Circundante, Coletânea de Artigos Científicos (Org.); Antologia Poética: Poesias contos e crônicas (Org); Ciência & Pesquisa: Coletânea de Artigos Científicos (Org.) (2017); EDUCAÇÃO, PESQUISA E CIÊNCIA: Coletânea de Artigos Científicos (Org) (2018); Artigos Científicos: Coletânea (2018). Movimento Literário Afrologia Tucuju: Historicidade, Religiosidade, Auto estima e subjetividade do Negro (2018); Antologia Poética: Autores Nacionais e Internacionais (2018); Líder Extraordinário: Coletânea de autores Nacionais e Internacionais (2018); Caminhando pela ciência: Artigos Científicos (Org., 2019); Mundo da Ciência: Artigos Científicos (ORG.) (2019);Livro de Resumos do 3º Congresso Amapaense de Iniciação Científica, 7ª Mostra de TCC’s e 3ª Exposição de Pesquisa Científica de| Macapá-AP, (2012 ) 1ª Antologia Poética de Jarilândia: Contra o preconceito e a discriminação da mulher e do negro. (Organizador); O Forte das Ciências: Coletânea de Artigos Científicos (ORG.). Participou como Coordenador/Organizador Geral e idealizador da 1ª Feira Popular de Livros de Macapá, Organizador e idealizador do Movimento Literário Afrologia Tucuju: Historicidade, Religiosidade, Auto estima e subjetividade do negro. Atualmente exerce atividades como professor de Arte no Estado do Amapá.


                       

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