Contatos com a autora:
Annie de Carvalho (Facebook)
E-mail: anniegeografa.ap@hotmail.com
Nota:
Esta série vai prosseguir até que possamos publicar e registrar, neste blog, o maior número possível de novos poetas.
Esclarecemos que aqui não fazemos juízo de valor nem apreciação crítica (apenas a divulgação!), mas são livres os comentários e opiniões dos nossos leitores e internautas, desde que pertinentes e referentes aos textos -- e não ofensivos, é claro.
Esclarecemos que aqui não fazemos juízo de valor nem apreciação crítica (apenas a divulgação!), mas são livres os comentários e opiniões dos nossos leitores e internautas, desde que pertinentes e referentes aos textos -- e não ofensivos, é claro.
O conteúdo, revisão ortográfica e gramatical dos textos são de inteira responsabilidade dos seus autores, bem como o copyright.
Aguarde para breve mais um novo poeta!
NA ORLA DO RIO AMAZONAS
e eles
saídos do rio da noite
arrastando
seu pequeno
barco de
sombras...
Movimentando-se
em
meio a
neblina ausente
somente
com a lama
dos dedos;
[e giram a
maçaneta dos medos].
Atravessam...
CACHOEIRA
DO FIRMINO
Cascatas
de pessoas
abrolham
hipnotizadas
[por feéricas
espumas],
almejando
serem engolidas...
O portal
místico das rochas
exalam
cores que seduzem
quem
observa suas fendas,
mas é
protegido por suas lendas.
Os corpos
encantados esculpem
cada ígneo
átomo de suas pedras.
Uma
cachoeira sobre-humana
[mascara
a fabulosa boca faminta]
do
Firmino.
LUA
LÍRICA
Lua
soprano
dos
mais agudos
sentimentos.
Canta-me,
diva!
Faz
tua ópera doce
operar-me
a vida.
Vem! Cheia, nova, crescente,
minguante, branca, bela, constante
e quebra meu piano sedutor.
És Lira e Era.
Musa e mística.
Amada amante.
Canta nua, distante,
namora poetas e bandidos.
Artista boêmia.
Sem máculas.
Sem mágoas.
Estonteante.
Vocaliza, recita-me.
Orquestras-me o amor
com destreza, soberba!
EM
CIMA DA BORBOLETA UMA PLANTA!
É
verdade
mas,
não importa se acredita
a
planta pousa na borboleta.
Matizes
de poemas aromatizantes
surgem
na linha imaginária que separa
a
seiva do dia... como flecha que passa.
Mas
eu garanto tudo acaba quando
a
parca natureza humana
em
vez da flor colhe o espanto.
BRAÇO
DE RIO
Vou jogar-me num abraço de rio
e agarrar as gotículas invisíveis
da imensidão, afogar meu clarão
de toda perseguição...
Sufrágio ao naufrágio da desilusão!
E lá nos braços do rio Araguari,
do rio Calçoene, do rio Oiapoque...
Esperarei um índio Waiãpi vim efluir meu juízo
com o júbilo abrigo da escuridão- redenção!
(Impelirei... partir-me- ei
no abraço da anaconda
que abriu a boca do rio.
Abraçarei a brasa de todo
rio até desembocar de mim).
Na nascente vou parir,
vou berrar no rio Jari.
Na força das caudalosas correntes
espalharei meu cerne afluente...
Embaçado e fértil das misuras
que a floresta espalhou nas criaturas.
Assomar no abraço quente de um
mururé e sangrar nas cabeceiras
espalhando meu sumo
expandindo meu bocado,
deixando em teus infinitos braços
todos os meus pedaços.
APOREMA
Tez de mata virgem.
Res. Manancial.
Poente. Profunda.
Primaveril.
Perfume de terra,
silhueta de pedra.
Veludo. Tupi.
Vívida Aporema!
Moça de peito ardente
lábio carnudo canela,
pele de sol nascente,
cabelos de revoada,
olhos de mandala
e Beijos de donzela.
Mulher Menina do imo
amor.
Aporema, rio abaixo rema!
É Amazona e guardiã das
manhãs,
também é Eva procriando
suas liras
com a fúria da beleza ela
copula no cio das
estrelas.
É a bonança do
bel-prazer.
Seus campos são rebentos
bentos por natureza.
AÇUCENA
Falaram
pra Açucena se casar,
mas
ela rodou sua saia;
saiu
como quem se anima pra passear
deixou
o nego abatido de tanto penar.
Atina
morena, serena
que
sua sina é rebolar
fazer
seu mundo girar
marabaixo
até o sol raiar!
Ninguém
colhe a flor
que
o tempo botou na paixão.
Açucena
não nasceu pra se casar
nasceu
pra ser canção.
.....................................
P R O S A
ENTRE PROMESSAS E PROFECIAS
Era noite de lua cheia. Escondidos
à sombra das enormes pedras com as quais iriam erguer as muralhas da Fortaleza
de São José de Macapá, os guerreiros de Zumbi espreitavam os guardas nas
guaritas. Esperaram os oficiais se recolherem, certificando-se de que tudo
estava conforme Zumbi havia lhes dito. Então foram até perto do rio e surpreenderam
os guardas com seu jogo de capoeira. Protegidos pelo barulho das ondas do
Amazonas quebrando nas pedras, os guerreiros pegaram os cavalos e empreenderam
fuga para a liberdade pela mata.
Eram doze pulmões ofegantes que
escapavam pelos ares da madrugada feito fantasmas. Resistiam aos açoites
guerreavam contra o cativeiro em busca da promessa de seus orixás revelada por Pai
Zumbi.
Suor e sangue gotejavam de seus
corpos cheios de marcas, porém tinham a força e a garra da Mãe-África. Logo em seguida avistaram uma estrela
vermelha, certamente era sinal segundo Zumbi. O caminho estava certo, mas ainda
muito distante e precisavam se apressar.
De repente chegaram a um
descampado em meio ao breu absoluto.
- É esse o lugar?
E ouviram o vento. Sentiram
tamanha paz, que não duvidaram que estivessem no lugar certo, após tanta
penúria.
Eram sombras ofegantes no prado descendo
dos cavalos e ouvindo a voz de Ogum brotar da terra:
- Aqui plantem seus filhos!
E desmaiaram de cansaço. Na manhã
seguinte acordaram com o barulho das águas correntes de um suntuoso rio. Haviam
campos e nuvens, acharam que tinham feito a ponte até Orum porém, logo sentiram
as dores das chibatadas pelo corpo e constataram que não haviam morrido.
Caçaram uma capivara e ali mesmo
fizeram fogo. Improvisaram um acampamento e no dia seguinte cinco deles saíram
anunciando ir salvar outros guerreiros.
Logo
chegaram mulheres e crianças e o mocambo deu origem ao grande quilombo.
Começaram a plantar. Criaram gado,
e tudo era dividido entre todos. Batizaram sua terra de São Benedito dos Bois.
As coisas iam conforme a jura de Pai Zumbi.
Certa noite, todos estavam
reunidos a borda de uma grande fogueira para contar histórias, quando, de
súbito, levantou-se um ancião e fez uma profecia:
“... Daqui a cem anos haverá um
conflito de terras. Irão querer nos expulsar. A cobiça e a fortuna nos cercarão
de poderosos inimigos.”
Após essas palavras ele começou a
tremer de corpo inteiro, salivar e a repetir como mantra - “ouçam o que eu
digo...”.
Todos ficaram paralisados e
fizeram a promessa de que seu tesouro era seu povo, assim nunca perderiam a
terra. Lutariam por ela até o fim.
Nesse momento uma nuvem nebulosa
formou-se entre eles em meio a forte ventania. Dela surgiu o espectro de Ogum com
olhos de veemência e disse:
“O
compromisso que fizemos foi cumprido. A partir de agora vocês terão de continuar
tudo isso que até aqui aprenderam. Ergam nosso povo, caminhem, lutem. Para nos
contentar criem batuques, enquanto eles ecoarem a terra e tudo que vem dela
sempre será do nosso povo. Essa promessa que vocês fizeram agora acaba de selar
um pacto entre o quilombo e os ancestrais, se for quebrada, a profecia se
cumprirá”.
Biografia
Annie de Carvalho é uma poeta e geógrafa
de Macapá, cidade banhada pelo Rio Amazonas, com música rica e pulsante,
marcada pelos ritmos do batuque e do marabaixo, que se entranham em sua
poética. Possui um jeito tucuju, o olhar
amazônico, de quem vê a inspiração como algo brotando da terra.
A autora é associada da ALIEAP
(Associação Literária do Estado do Amapá); Associação Amapaense de Escritores –
APES; REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras). Premiações: ganhou o "Prêmio
Sarau Brasil 2016 Concurso Nacional Para Novos Poetas- Menção Honrosa"; e
o "II Concurso Literário Pena & Pergaminho 2016-Contos inéditos".
Publicou na Revista eletrônica de Poesia “Mallamargens” Curitiba-PR 2015 e
2016; na Revista Diário- AP 2016; no Jornal literário Fuxico da Universidade
Estadual da Feira de Santana na Bahia-2017, e na Revista Internacional de
Literatura da União Latina “PHILOS”-2017; participou da exposição poética
POESIA AGORA no RJ-2017; participou das Coletâneas: Quinze Dedos de Prosa- AP
2015; Coletânea Quatro Estações- SP
2016; XVIII Antologia Poética Vozes de Aço-
RJ 2016; III Coletânea Viagem pela Escrita-RJ 2017; Participou como convidada e palestrante de
FLIPELÔ- Feira Literária Internacional do Pelourinho na Bahia 2018; Participou como convidada do evento
internacional 300 Poetas por mudanças no Sesc Boulevard Belm-PA2018. Coletânea “Poemas,
poesias e outras rimas”, 2018. Antologia Luis Vaz de Camões e Convidados-Volume
II- Portugal 2018. Antologia Graciliano Ramos & Convidados-Maceió 2018,
Antologia Quinze dedos de prosa-AP 2019, Coletânea 300 Poemas de Amor- Rio de
Janeiro 2019.
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