TRIBUTO A ALCY ARAÚJO PELO SEU “AUTOGEOGRAFIA”
Texto: Fernando Canto (idealizador e coordenador da homenagem)
Poeta e jornalista Alcy Araújo |
Cinco
escritores amapaenses realizaram ontem (31/07/2015) uma homenagem sui generis ao cinquentenário de lançamento do livro
“Autogeografia”, do poeta Alcy Araújo. Esse livro foi o primeiro do mais
importante autor que passou pelo Amapá, lançado em julho de 1965.
A
homenagem foi feita exatamente às 12h00, em quatro pontos da cidade e sob o
monumento Marco Zero do Equador, quando todos leram ao mesmo tempo trechos da
obra Alcyniana. Os escritores escolheram esse momento místico para fazer a leitura
de textos do livro a partir de quatro lugares da cidade, em direção ao Marco
Zero do Equador, a fim de realizar uma Pirâmide Mental direcionada ao vértice
desse extraordinário ponto de convergência, receptor de energia astral da
cidade de Macapá, que tanto o poeta amava.
Alcy
Araújo foi pioneiro do Território Federal do Amapá e aqui trabalhou como
jornalista e servidor público, exercendo altos cargos no decorrer de sua vida
profissional. Como escritor incursionou pelo campo da poesia, do conto e da
crônica, entre outros. Era compositor e chegou a ganhar festivais de música por
aqui. Mas foi a poesia que lhe marcou definitivamente e de forma gloriosa a sua
carreira. Boêmio e amigo de todos, Alcy influenciou dezenas de poetas em suas
criações, desafiando-os a produzirem e se aprimorarem. Era conhecido nas rodas
boêmias como “Tio” Alcy. Deixou uma quantidade incontável de textos e poemas
que precisam ser publicados e divulgados, pois sua poesia não perde a
atualidade.
O
Amapá tem o dever de preservar a memória criativa e cultural dos seus
escritores, a fim de que eles possam ser conhecidos pelas novas gerações e
pelas vindouras. O livro “Autogeografia” merece urgentemente uma reedição, bem
como os outros livros que o poeta chegou a publicar como “Poemas do Homem do
Cais” e “Jardim Clonal”. Seus contos e crônicas e contos precisam ser reunidos
e estudados, entretanto nem a Academia nem os setores culturais oficiais mexem
sequer um dedo para reacender essa memória escrita, preferindo a cultura de
massa em detrimento da nossa formação intelectual.
A
pirâmide é o símbolo da ascensão. Ela, invertida sobre a ponta, é a imagem do
desenvolvimento espiritual: quanto mais um ser se espiritualiza, mais sua vida
se engrandece, se dilata à medida em que ele se eleva. Do mesmo modo no plano
coletivo: quanto mais um ser se espiritualiza, maior é a sociedade de seres
personalizados na vida dos quais ele participa. Convergência ascendente,
consciência de síntese, a pirâmide é também o lugar de encontro entre dois
mundos: um mundo mágico, ligado aos ritos funerários de retenção indefinida da
vida supratemporal, e um mundo racional, que evocam a geometria e os modos de
construção. Na pirâmide há, ainda, uma pulsação dinâmica que pode ser vista
como o símbolo matemático do crescimento vivo, expressão esta que melhor
exprime o simbolismo da pirâmide. Atribui-se a Hermes Trimegisto uma ideia
análoga: o cume de uma pirâmide simbolizaria o Verbo demiúrgico, Força primeira
não engendrada, mas emergente do Pai e que governa toda coisa criada,
totalmente perfeita e fecunda.
O
ato realizado pelos cinco escritores não objetivou caracterizar uma liturgia
mística ou religiosa, mas uma ação respeitosa àquele que foi nossa maior
referência poética e que precisa ser reconhecido cada vez mais pelo que fez e
pelo legado intelectual e artístico que deixou. Os escritores foram: Manoel Bispo,
Fernando Canto, Paulo Tarso Barros, Osvaldo Simões e Alcinéa Cavalcante (filha
do poeta)
Escritores que participaram da homenagem ao poeta Alcy Araújo |
Uma
forte emoção tomou conta de todos os cinco participantes na hora de realização
do ato piramidal e poético, com a leitura dos textos abaixo. Em setembro, por ocasião
do Equinócio da primavera, novo ato será realizado, desta vez com a
participação de grupos poéticos e teatrais.
MENSAGEM
Alcy Araújo
O mar está ficando
cada vez mais distante.
Já quase não divulgo o
cais enevoado
que o mar vai levando
e o navio desapareceu em direção
ao outro lado do
hemisfério,
deixando meus olhos
inertes, sem lágrimas,
dentro da paisagem
estacionária do espelho.
.........................................................................
Voltarei a me
encontrar com o Mundo.
E, quando terminar
este descanso, Amada,
será chegada a hora
bíblica de enviar,
por um verso em
demanda,
uma mensagem de
encorajamento
ao povo nascente que
habita
a terra em formação
na Latitude Zero.
TEXTO 2.
Estou nu, como o sou diante do meu Anjo,
desde a minha inauguração até o agora. Amanhã, talvez, terei mudado.
Metamorfose ou metempsicose. Mas aí estas palavras e estes carinhos terão
passado, por ser só este pouco o muito pouco que posso oferecer:
o meu humílimo
gesto de poeta.
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