MORRE EM MACAPÁ O NOSSO QUERIDO MESTRE, ÀS 13H30MIN, NO HOSPITAL GERAL DE MACAPÁ.
O professor Munhoz sofria de insuficiência renal e desde 2015 começou a ter problemas relacionados à doença. Ele faleceu no dia 22/05/2017, aos 85 anos, cercado de carinho e cuidados dos amigos, ex-alunos e familiares. Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa e sepultado no dia 23/05/2017, às 17h30min, no Cemitério de Nossa Senhora da Conceição, no Bairro Central , em Macapá, a poucos metros de sua amiga de toda a vida a querida professora Zaide Soledade. Seus corpos ali repousam, mas os espíritos dos dois certamente resplandecem na eternidade do nosso Criador Supremo.
(Paulo Tarso Barros)
(Paulo Tarso Barros)
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Reproduzimos abaixo a Matéria publicada pelo Portal G1, produzida pela jornalista Fabiana Figueiredo:
MATÉRIA DO G1 publicada em 22/05/2017
Por Fabiana Figueiredo, G1 AP, Macapá
Antônio Munhoz Lopes, de 85 anos, conhecido como professor
Munhoz, morreu no início da tarde desta segunda-feira (22) após quatro paradas
cardíacas por complicações de insuficiência renal. Ele estava internado desde a
manhã desta segunda na UTI do Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima (Hcal), em
Macapá.
A família informou que o velório acontecerá a partir das 17h
desta segunda, na sede da Assembleia Legislativa do Amapá (Alap), no Centro da
capital. O velório acontecerá na terça-feira (23), com horário e local ainda a
confirmar.
De acordo com familiares, o professor adquiriu uma infecção
durante hemodiálise e foi internado em um hospital particular no dia 10 de
maio. Liberado há 4 dias, ele voltou a sentir fraqueza e dores e foi internado.
Na manhã desta segunda-feira, ele foi transferido para o hospital geral, onde
era acompanhado por médicos na hemodiálise, e teve 4 paradas cardíacas.
Professor Munhoz foi um paraense que dedicou quase 60 anos
de vida à educação, poesia, música e história do Amapá. Ele também era
considerado por intelectuais “cidadão do mundo”, por viajar por países da
Europa, África e da América do Norte, segundo registrado no último poema
escrito por Alcy Araújo, em 1989.
Homenagens
A morte do professor Munhoz emocionou diversos amapaenses
nas redes sociais, como historiadores, escritores, religiosos, entre outros
profissionais.
“Descanse em paz, Professor Munhoz. Você educou gerações e
deixa milhares de alunos de luto. Vai ser muito difícil a gente esquecer este
personagem que escolheu o Amapá para viver e também para descansar”, comentou o
historiador Edgar Rodrigues.
"E neste Dia do Abraço meu amigo Munhoz, aos 85 anos,
acaba de partir, abraçado pelos anjos é recebido por Deus com um abraço de luz.
Minhas lágrimas abraçam as lembranças dos belos momentos que vivi com
ele", postou a escritora e jornalista Alcinéa Cavalcante em uma publicação
no Facebook.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) emitiu nota de pesar
sobre o falecimento de Munhoz. Ele externou condolências e agradeceu à contribuição
cultural, educacional e histórica do professor Munhoz para o Amapá.
A Confraria Tucuju, instituição da qual Munhoz era sócio
desde a fundação, também emitiu nota de pesar, lamentando a perda, lembrando
das diversas homenagens feitas a ele em reconhecimento aos gestos de gratidão e
amor pelo estado.
Intelectual, historiador e poeta
Filho de José Ayres Lópes e Izabel Munhoz Lópes, professor
Munhoz nasceu em Belém, estado do Pará, no dia 10 de fevereiro de 1932. Se
tornou bacharel em direito, e veio morar no Amapá em 1959, quando ingressou no
serviço público do ex-território como delegado de polícia.
Ele também se formou em letras, curso que lhe permitiu
lecionar em escolas como o Colégio Amapaense, Escola de Arte Cândido Portinari,
Universidade Língua Latina e a atuar no Conservatório Amapaense de Música.
Entre os reconhecimentos que ele recebeu estão os de “Mestre
do Ano” entregue pelo governador Ivanhoé Gonçalves Martins (1969); diploma de
Honra ao Mérito concedido pela Câmara Municipal de Macapá (1987); “Destaque
1988”; Colar do Mérito Judiciário, concedido durante o I Congresso
Internacional de Magistrados da Amazônia; “Cidadão Amapaense”, entregue pela
Assembleia Legislativa do Amapá (2003); e Medalha do Mérito Universitário
(2008), da Universidade Federal do Amapá.
Munhoz também fez parte do Conselho de Cultura do Amapá
entre 1985 e 1989 e era membro da Academia Amapaense de Letras. Em 2012, quando
completou 80 anos, em uma das homenagens que recebeu, descreveu um pouco da
vida que levou em Macapá no blog Porta-Retrato.
“Foi a partir da minha chegada a Macapá que a minha vida
passou a ter um sentido maior. No mais profundo de mim mesmo, tenho medo da
morte porque ainda amo a vida, com o que ela tem de bom e bela. O que sou hoje,
e tudo que vi e vivi, devo aos amapaenses, embora nada tenha recebido de graça.
Tudo que fiz na vida, até agora, foi fruto do meu trabalho, do meu esforço do
meu suor”, escreveu Munhoz.
(Com informações dos historiadores Edgar Rodrigues e Paulo
Tarso Barros)
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Antônio
Munhoz, Cidadão do Mundo
Texto: Wellington
Silva
Jornalista
e Historiador
Especial
para o Diário
Cidadão do mundo, mestre das
letras, educador de gerações, conselheiro cultural, pesquisador incansável,
consultor e consultado. Antônio Munhoz Lópes era nossa biblioteca mundial da
diversidade. Tinha uma grandiosa e irrequieta capacidade em acumular
informações de culturas diversas. Era portador de um patrimônio intelectual que
hoje poucos se interessam, porque não dá dinheiro: muitas, muitas leituras
acumuladas e uma diversidade invejável de visões culturais de mundo.
Cadeira cativa do Programa É
Domingo, na Rádio Diário FM, capitaneado por Douglas Lima, Munhoz tinha uma
incrível capacidade em construir textos e transportar o ouvinte às suas viagens
ao Egito, Israel, Grécia, China, museus, o Louvre, pinacotecas famosas,
detalhes de históricas obras de arte, etc...
Antônio Munhoz Lópes nasceu em
Belém do Pará no dia 10 de fevereiro de 1932. Filho de José Ayres Lópes e de
Izabel Munhoz Lópes. Veio para o Amapá em 1959, aqui dedicando quase seis
décadas de sua vida ao magistério, a história, literatura, poesia e música.
Estudou filosofia, temporariamente foi seminarista e acabou enveredando na
advocacia após bacharelar-se em Direito. Quando chegou ao Amapá, em 1959, foi
para ocupar o cargo de delegado do antigo DOPS, a Delegacia de Ordem Política e
Social. Sua ligação com o magistério deu-se após formação em Letras, graduação
que lhe permitiu lecionar no Colégio Amapaense, Escola de Arte Cândido
Portinari, Universidade Língua Latina e Conservatório Amapaense de Música.
Em 1969, recebe o título de
“Mestre do Ano”, entregue pelo governador Ivanhoé Gonçalves Martins. Em 1987
recebe diploma de Honra ao Mérito, concedido pela Câmara Municipal de Macapá. Depois,
é consagrado “Destaque 1988”. Durante o I Congresso Internacional de
Magistrados da Amazônia recebe o Colar do Mérito Judiciário. Em 2003, a
Assembleia Legislativa do Amapá lhe outorga o título de “Cidadão Amapaense”. Em
2008, a Universidade Federal do Amapá lhe homenageia com a Medalha do Mérito
Universitário. No período de 1985 a 1989 foi membro do Conselho de Cultura do
Amapá. Também era membro da Academia
Amapaense de Letras. Era presença indispensável nas solenidades da Academia
Amapaense Maçônica de Letras – AAML.
Quando completou 80 anos, em 2012,
assim se reportou ao conhecido escritor Paulo de Tarso:
“Foi a partir da minha chegada
a Macapá que a minha vida passou a ter um sentido maior. No mais profundo de
mim mesmo, tenho medo da morte porque ainda amo a vida, com o que ela tem de
bom e bela. O que sou hoje, e tudo que vi e vivi, devo aos amapaenses, embora
nada tenha recebido de graça. Tudo que fiz na vida, até agora, foi fruto do meu
trabalho, do meu esforço, do meu suor”.
Estas foram as últimas fotos que fiz do Mestre no Hospital São Camilo ao lado do seu irmão Lópes Ayres no dia 10 de maio de 2017.
NATHÁLIA UCHÔA DOS SANTOS (*) enviou esta mensagem para ser lida na MISSA DE 7º DIA DE FALECIMENTO DO
PROFESSOR MUNHOZ, em 28/05/2017, na CATEDRAL DE SÃO JOSÉ DE
MACAPÁ.
Há sete dias, o ilustre Prof. Antônio
Munhoz Lopes fez a sua páscoa. Nesta Santa Missa, estamos reunidos para
celebramos o seu histórico, rezarmos por sua alma e agradecemos a Deus porque
viveu entre nós um homem tão importante, que marcou a história do Amapá e
influenciou a vida de muitos filhos deste rincão brasileiro.
Frequentava assiduamente esta catedral e
sentava no mesmo lugar, para onde hoje olhamos e sentimos que falta aquela
presença cativante, viva na memória. Levando um guarda-chuva e um livro nas
mãos, tinha o prazer de caminhar pelo centro da cidade, nos arredores do Largo
dos Inocentes, da Biblioteca Pública, do Teatro das Bacabeiras, dos Correios,
do Colégio Amapaense, da Praça da Bandeira... com passos ritmados, espalhando
um sorriso terno e a certeza de quem sabia para onde ir e o que fazer,
aproveitando a vida.
O Prof. Munhoz tinha um jeito constante
e peculiar para tudo. Era uma referência. Inconfundível sua fala em tom
compassado, poético e pedagógico; seu modo de se vestir, andar, sentar com as
pernas cruzadas, transparecendo a elegância do intelectual que foi, e a
docilidade de quem parecia ser um familiar daqueles que o cercavam.
Deixou órfã e enlutada uma enorme
família de amigos, que construiu e solidificou, em mais de meio século de
dedicação ao povo amapaense. Cidadão do mundo, viajante inveterado, o Prof.
Munhoz percorreu diversos países, mas era para Macapá que ele voltava feliz,
para compartilhar com generosidade tudo o que viu e experienciou. Conheceu os
lugares mais desenvolvidos do mundo e sabia da conjuntura de Macapá, mas amou
esta cidade e ensinou a valorizá-la, tanto que era fiel às atividades na
Confraria Tucuju, onde deixou significativas contribuições. Ele acreditava em
dias melhores e colaborava com o progresso mediante a educação do povo. Uma
vida de lições cívicas.
Sua história é a rica herança com que
nos presenteou. Mestre das letras, educador de gerações, escritor, radialista,
conselheiro cultural, pesquisador incansável, difusor de saberes. Foi uma
pessoa instruída bem acima da média, que consumia leitura assim como a
necessidade vital de se alimentar. Apesar do poderio que o arsenal de
conhecimento lhe investiu, mantinha a humildade, não se colocava em posição
superior e sabia ouvir atentamente o que tinham a lhe falar. Perto dele todos
se sentiam acolhidos e especiais, pois ele dava essa abertura para que
ficássemos à vontade.
Era uma satisfação enorme trocar ideias
com um mestre tão experiente e contemporâneo. Até os 85 anos teve um
comportamento juvenil: não se acomodava, participava do fluxo de novidades
tecnológicas e conseguia interagir plenamente com as atualidades do Século XXI.
Ele se esforçava para manusear aparelhos modernos e utilizar os recursos das
redes sociais. Fazia questão de prestigiar eventos culturais, lançamentos de
livros, festividades religiosas, bailes de carnaval, rodas de bate-papo.
Amante das artes, tinha uma
sensibilidade estética incrível para enxergar o belo nas pessoas, nos lugares,
nos acontecimentos. Sua capacidade narrativa despertou sensações e vontades
positivas em muitos alunos, que reconhecem o diferencial que o nobre Prof.
Munhoz significou em suas escolhas e trajetórias. Não foram poucos os que
decidiram seguir o exemplo do mestre e se tornaram professores, eternos aprendizes.
O Prof. Munhoz usou sua grandeza para se
fazer instrumento de paz e, franciscanamente, exemplificou que é dando que se
recebe. Amou viver, procurou viver em abundância, amou os irmãos, doou sua vida
pelo bem coletivo, na missão de educador. Um cristão que soube compartilhar o
que tinha de mais valioso.
Quantas pessoas morrem desamparadas? São
esquecidas ainda em vida? Sequer recebem a cortesia de uma dedicatória ou
agradecimentos? O Prof. Munhoz nunca esteve sozinho. Soube cativar e aquecer
corações que o seguiam. Até seus últimos momentos foi acompanhado por amigos
fiéis.
O fato é que nenhuma homenagem póstuma
superará as honrarias que em vida foram outorgadas ao Prof. Munhoz. Em sua
passagem terrena, foi aplaudido de pé em incontáveis oportunidades; recebeu
títulos, medalhas, comendas; a ele foram dedicados almoços, jantares, festas,
passeios, viagens, aulas de saudade; ouviu o “muito obrigado” de centenas de
admiradores.
Pensador, crítico, discreto, gentil,
comunicador, leve, animado! Os melhores adjetivos ao Prof. Munhoz! Vamos
dedicar essa bela canção ao mestre, com carinho. A ele, que nos ensinou a
repartir tesouros, a respeitar os outros. Foi muito legal lhe ter aqui conosco,
Prof. Munhoz: um amigo em quem pudemos acreditar. Queríamos lhe abraçar!
Agradecermos por tudo e sentimos saudade. Fica o dever moral de seguirmos as
suas lições, amado maestro orquestral de uma sinfonia feliz!
(*) Nathália Uchôa dos Santos é filha de Bernadeth e Tadeu
Pelaes. Professora de Direito. Mestra em Direito Ambiental e Políticas
Públicas. Analista Judiciária.
........................................................................................................................................Nota do editor:
Matéria republicada, atualizada, com acréscimo de texto e fotos.
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Portanto, em comemoração ao aniversário do querido mestre, que ocorre no dia 10 de fevereiro, estamos publicando várias homenagens neste espaço do blog Literatura no Amapá, que ficará em permanente atualização para saudar tão ilustre personagem.
Publicamos abaixo a belíssima carta-poema que o nosso confrade Benedito de Queiroz Alcântara escreveu sobre o professor Munhoz, ao mesmo tempo em que republicamos uma postagem que fizemos anteriormente, também em homenagem ao nosso Mestre. Tudo isso para registrar e externar a nossa gratidão a esse ser humano tão especial.
PROFESSOR MUNHOZ: 80 ANOS DE VIDA - 53 ANOS DEDICADOS AO AMAPÁ (*)
Professor Munhoz e quadro com sua fotografia na juventude Foto: Paulo Tarso Barros/2012 |
Antônio Munhoz Lópes nasceu no dia 10 de fevereiro de 1932,
em Belém-PA. Filho de José Ayres Lópes e Izabel Munhoz Lópes. Cursou filosofia,
foi seminarista em São Luís do Maranhão, mas acabou bacharelando-se em Direito.
Chegou ao Amapá em 1959 e ingressou no funcionalismo do Território, ocupando o
cargo de delegado no antigo DOPS. Porém, como escreveu o cônego Ápio Campos no
jornal A Província do Pará, Munhoz emprestou à pacata segurança pública da
época "um clima de cenáculo literário". Mas foi a partir de 1960 que
ele deu início a uma das mais profícuas e brilhantes carreiras do magistério do
antigo Território, sendo hoje reconhecido como mestre de várias gerações de
ilustres figuras de destaque do Amapá.
Antônio Munhoz Lópes exerceu inúmeros cargos e funções
importantes, sempre se destacando pela inteligência, a sensibilidade e o
carisma. Até hoje é o nosso maior epistológrafo, pois se correspondia pelo
velho e bom Correio com pessoas do mundo inteiro. Anualmente, o professor
Munhoz fazia uma viagem internacional e visitava museus, igrejas, ruínas e monumentos
históricos. Foi assim que adquiriu uma cultura humanística invejável, pois
discorria com desenvoltura sobre tudo que via e registrava através de fotos,
observações argutas, anotações manuscritas e cartas. Tornou-se um verdadeiro
globe-trotter, cujas memórias há muito eram aguardadas por todos nós, mas que
certamente, com o vasto material deixado, não faltará quem escreva a sua bela
história.
Professor Munhoz com o Governador Camilo Capiberibe e o
escritor Paulo Tarso Barros na residência governamental - Março/2012
|
Felizmente, o professor Munhoz ainda recebeu em vida todo o
carinho e reconhecimento pelo seu desempenho excelente em todas as funções
públicas que exerceu, principalmente como educador e incentivador das Letras e
das Artes. Por muitos anos foi membro do Conselho de Cultura, debatendo e
formulando ideias, sugerindo ações por parte dos gestores culturais. Foi um dos
mais assíduos frequentadores de eventos artísticos e culturais, ao lado da sua
amiga, a saudosa professora Zaide Soledade. Lembramos que, dentre as muitas
homenagens que lhe foram prestadas em vida, ele dá nome a 3 espaços culturais:
Uma sala na Biblioteca Pública, Uma Galeria de Arte no Sesc-Araxá e o Auditório
na Sede da associação A Banda, que reúne o maior bloco de rua do Amapá.
A figura simpática e respeitável do professor Munhoz já fez
parte da paisagem urbana do Centro de Macapá, em suas caminhadas diárias
visitando a Biblioteca Pública, Confraria Tucuju, livrarias, bancas de jornais,
agência dos Correios (onde possuiu uma das mais antigas caixas postais!).
Como o mais globalizado dos pioneiros do Amapá, conheceu
muitos países e culturas, pois foi um incansável visitador de museus,
monumentos históricos, igrejas, teatros, restaurante e locais históricos. Seu
acervo fotográfico se constitui no mais relevante arquivo que registra sua
peregrinação cultural que tanto o estimulou a cultivar os valores humanos e
cristãos. Para mim, Munhoz é o exemplo maior de um cidadão que dedicou sua vida
para usufruir da Arte e da Cultura e de tudo de bom que advém dessa escolha tão
inteligente.
Era impressionante o carisma, a vitalidade, a vontade de
viver e de compartilhar suas vivências e experiências, tanto com os amigos como
ex-alunos — na verdade, todos que passaram por suas salas de aula o procuravam
amiudemente para palestras, aulas da saudade, conferências, confraternizações e
homenagens. Jamais ele se recusava a dar entrevistas, a participar de eventos e
cerimônias e mesmo festas. Foi sem dúvida a personalidade da educação e da
cultura mais fotografada que existiu aqui no Amapá. Crianças o adoravam e
gostavam de ser fotografadas ao seu lado, bem como pessoas simples, estudantes,
motoristas e todos que lhe tinham admiração por aquele semblante sempre alegre
e carismático.
O professor Munhoz viveu franciscanamente, sempre com
absoluta simplicidade, apenas com o essencial. Morou por mais de cinquenta anos
em um quatro do Hotel Santo Antônio, no Centro de Macapá, e mudou-se depois
para uma kitnet a pouco mais de 100 metros, de onde não quis sair para morar em
sua casa na Rua Leopoldo Machado, onde ficavam seus livros e quadros (seus
únicos patrimônios!), apesar da insistência dos amigos e médicos. Não acumulou
bens materiais, joias, propriedades — jamais teve automóvel, computador, TV por
assinatura e sequer sabia datilografia ou aplicou dinheiro em banco.
Entretanto, seus amigos lhe presentearam com dezenas de obras de arte, como
quadros, esculturas e centenas de livros. Foi retratado por pintores de vários
lugares do Brasil e do exterior e exibia com orgulho esses trabalhos.
Certamente, seu legado se constitui, na área do humanismo, da educação, dos
valores artísticos e culturais, num impressionante manancial para o povo amapaense,
que o acolheu de braços abertos e que diante de sua morte, expressa a tristeza
por tão relevante perda.
Leitor e pesquisador apaixonado, era um dos mais assíduos
frequentadores da Biblioteca Pública Estadual de Macapá, onde recolhia
informações de Enciclopédias, obras de arte ou de ensaios e ficção. Ali
produziu centenas de textos para divulgar nos programas de rádio que fazia
parte, pois sempre gostou da comunicação e de compartilhar seus conhecimentos e
experiências. Era perfeccionista e meticuloso ao produzir os seus textos, lidos
em perfeita dicção e na tonalidade certa.
Eu tinha contato com ele quase diariamente, pois ele residia
próximo à Biblioteca Pública Estadual, onde eu trabalho. Era ali que ele vinha me
pedir para acessar a internet, fazer pesquisas e marcava muitas entrevistas com
alunos e jornalistas. Sua característica marcante era a vontade de viver, a
alegria, o sorriso no rosto, o gosto por compartilhar suas viagens e
experiências. Tinha mania de recolher jornais e revistas que encontrava
disponíveis na emissora de rádio, na casa de amigos e usava sempre uma pequena
bolsa de plástico onde guardava suas anotações e que, vez por outra, esquecia
em algum lugar, mas logo a recuperava. Sempre carregava fotografias para
mostrar aos amigos. Uma situação engraçada que brecordo: ele era nosso parceiro
na Biblioteca, se fazia presente em todos os nossos eventos e comemorações,
pois sempre o convidávamos pra tudo. Certa vez, mandamos fazer uma peixada pra
ele e o esperamos até 13h30min e não havia meio de encontrá-lo, pois nunca teve
telefone (a não ser nos últimos dois anos, por extrema necessidade). Foi a
primeira vez que ele falhou, pois era pontualíssimo e a gente sabia disso. No
outro dia ele chegou à Biblioteca, eu fui falar do almoço e ele simplesmente me
disse que havia esquecido, pediu muitas desculpas! Munhoz era um homem que
vivia intensamente, mesmo planejando as próximas viagens, trazia consigo as
lembranças de todas as suas peregrinações.
Nos últimos dois anos de vida, já visivelmente debilitado,
contava com uma rede de proteção, principalmente da Sarina Santos, casada com
um dos seus filhos adotivos, Renato, que o acompanhava a todos os lugares e
cuidava de seus exames, consultas e medicamentos e que esteve com ele até o
último instante.
(Texto: Paulo Tarso Barros)
Minha primeira foto com o Mestre (1986) na Escola de Música Walkíria Lima durante o lançamento de meu livro "Poemas de Aço" |
(*) Artigo publicado quando o professor completou 80 anos
Texto: Paulo Tarso Barros - http://twitter.com/paulotbarros
JARDIM, PODE
(Ao cidadão do mundo Antônio Munhoz)
Como tenho sido pisado
espezinhado, espinhado, repisado
pela vida, pelos desencantos
e desesperos, angústias, desamores.
Canto a terra
a dor dos aflitos
e a inútil esperança dos desesperançados
também os negros, os índios e o verde
e presto relevantes serviços topográficos
demarcando itinerários de poesia
Quando eu morrer
alguma vereador
que leu ou sentiu meu verso
que sabe ou ouviu falar do meu cantar
apresentará projeto de lei
para que eu vire beco, rua ou avenida
Não quero esta homenagem
Recuso até ser praça
alameda, assim também parque ou estrada
Quero ser um teatro
um obelisco, uma escola
Academia, também não.
Rua, avenida, beco, não quero não
Não quero que continuem pisando em mim.
Pisar em mim,
Leia a biografia completa do professor Munhoz baixando a obra "Personagens Ilustres do Amapá", de Coaracy Barbosa. Clique aqui para baixar
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O ano de 2012 foi escolhido pela Secretraria de Estado da Educação para homenagear o professor Munhoz. Dentre as muitas homenagens, destacamos a Aula Magna que ele ministrou no auditório do Juseu Sacaca no dia 11 de dezembro de 2012.
Abaixo, publicamos um texto do professor (e ex-alno do Munhoz) Paulo de Tarso Gurgel, que faz um roteiro do que foi a preleção do mestre nessa noite memorável, que aqui vai registrada através das fotografias.
ANTÔNIO MUNHOZ LOPES UMA DECLARAÇÃO DE AMOR AO AMAPÁ
Colégio Amapaense. O ano pode ser 1968, 69, 70, 71, 72, 73, 74. Toca a primeira campainha. Apressados todos os alunos sobem as escadarias do famoso Colégio Padrão. Sentados, aguardamos o Mestre. Toca a segunda campainha às 18h30. Britanicamente, ele entra em sala, sorridente e saúda a todos com um suave boa noite. Deve ser a segunda quinzena d...
Colégio Amapaense. O ano pode ser 1968, 69, 70, 71, 72, 73, 74. Toca a primeira campainha. Apressados todos os alunos sobem as escadarias do famoso Colégio Padrão. Sentados, aguardamos o Mestre. Toca a segunda campainha às 18h30. Britanicamente, ele entra em sala, sorridente e saúda a todos com um suave boa noite. Deve ser a segunda quinzena d...
e dezembro. Antônio Munhoz Lopes, titular da cadeira das disciplinas Literatura Portuguesa e Literatura Brasileira do tradicional Colégio Amapaense, logo, ele é o catedrático. Inicia, então, mais uma de suas brilhantes aulas àqueles estudantes ali presentes. Com um olhar quase 43 (naquela época ainda não existia o meu olhar 43), observa como sempre uma carteira vazia, notadamente, o seu “dono” ainda não chegara.
E assim o mestre inicia a aula: – “Caríssimos alunos, na próxima semana faremos a nossa prova final. Os senhores e senhoras estão concluindo o 3° ano científico ou 3° colegial. Muito bem. Então, a nossa prova abordará os temas, as matérias que trabalhamos durante esses três anos. [O mestre faz que não escuta os murmúrios: “essa não”, “de novo”, “era só o que me faltava”, “isso eu já sei de cor e salteado”]. E isto vai muito ajudá-los nas provas dos vestibulares que vocês farão em Belém, para a Universidade Federal do Pará e, vocês amapaenses sempre abiscoitaram as vagas oferecidas naquelas instituições: a UFPA e FCAP- Faculdade de Ciências Agrárias do Pará.
– Lembremos: No 1° ano estudamos as origens históricas da Literatura Portuguesa, a língua portuguesa, esta uma língua neolatina como o espanhol, o italiano, o romeno dentre outras. O primeiro documento literário português escrito é a célebre “Cantiga da Ribeirinha” de Paio Caldeirós. Não esqueçamos do grande poema épico português de todos os tempos que é “Os Lusíadas” [Aí o mestre interroga e a plateia atenta responde: Luís Vaz de Camões] Continuando meus estimados alunos, [nisto chega o dono daquela carteira vazia – adivinhem – Rodolfo dos Santos Juarez e, como sempre, levou um belo “ralho”], não poderia neste momento de fazer, melhor dizendo trazer para os senhores, a titulo de colaboração para suas leituras complementares estas obras da Literatura Brasileira, tanto no romance como nos versos, copiem por favor, só irei pronunciar somente uma vez, então, vamos: vou tecer breves comentários sobre a obra e quanto aos autores é de vossas competências [murmúrios outra vez], Já. Valendo. Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro - plateia atenta e assopros - Joaquim Maria Machado de Assis; Vidas Secas - Graciliano Ramos; Os Sertões - Euclides da Cunha [interessante que, quando o mestre citava a obra, os nomes dos autores sussurravam baixinho entre todos os alunos]. Continuando - O Guarani, quem é o autor Rodolfo?, “hein, o quê?”... é o que dá chegares sempre atrasado, respondam pra ele e todos: José de Alencar. Ainda sobre o romancista de Messejana, Paulo Tarso Barros, você que é aluno ouvinte do Maranhão, como se inicia o romance Iracema? Prontamente o futuro poeta responde: “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba”; Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida; agora a obra que fala da decadência dos senhores de engenho do Nordeste, [me arvorei e falei Menino de Engenho, de Ariano Suassuna, errado; Fogo Morto de José Lins do Rego, o resto da aula fiquei calado] e uma obra que traz um Brasil que pouco conhecíamos: Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa.
– Vamos, continuando, estão cansados? Não, vocês são jovens e tem toda a energia do Paredão* para vos fortalecer. Os principais poetas brasileiros: O Boca do Inferno, como era conhecido o............................. Gregório de Matos Guerra; - um poeta altamente erótico [essa palavra causava calafrios em toda a sala] – Tomás Antônio Gonzaga – o Dirceu enamorado pela jovem Marilia – Maria Dorotéia de Seixas; Gonçalves Dias, de “Os Timbiras” e da “Canção do Exílio” e Zaíde Soledade declame a 1ª estrofe, e ela, levanta-se e obedece didaticamente:
“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como as de lá.
Não permita Deus que eu morra.
Sem que eu volte para lá!”
A plateia aplaude e pede bis.
– Temos o nosso poeta dos escravos, que morreu prematuramente, aos 24 anos de idade: Antônio de Castro Alves, suas obras “Espumas Flutuantes” e “Navio Negreiros”. Não esqueçamos da grande poetisa do “Romanceiro dos Inconfidentes” – Cecilia Meirelles.
– “No meio do caminho existia uma pedra” – o genial mineiro de Itabira – Carlos Drummond de Andrade, cujo poema “E agora, José?” transformou-se num grande sucesso musical na voz de Paulo Diniz.
– Crianças, ainda estamos no começo desta nossa aula, lembrem-se que na prova de 50 questões eu faço as perguntas e vocês escrevem apenas a resposta, de preferência que ela esteja correta. Não deixemos de mencionar o poeta pernambucano, autor de “Libertinagem” – Manuel Bandeira.”
O mestre, então, começa a declamar um poema:
“De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
– De quem estamos falando? Qual o título desta obra?
Todos respondem: Vinícius de Moraes – So-ne-to de Fi-de-li-da-de.
– Ainda temos Jorge de Lima com “Invenção de Orfeu”!
– São 22h20, ainda temos mais dez minutos e espero que não esteja cansando os meus diletos discípulos [“que é isso professor, pode mandar brasa”, grita a plateia, doida pra ir embora, mas bastante honrada com aquela aula, podemos dizer, “magna”]. Não devemos deixar de mencionar o primeiro documento literário no Brasil, escrito por Pero Vaz de Caminha, a Carta de Caminha, narrando sobre o Descobrimento do Brasil e já trazendo os primeiros sinais do nepotismo para a vida politica brasileira, a obra magnifica do missionário das Ilhas Canárias, precisamente de Tenerife – o beato José de Anchieta, o Padre Antônio Vieira com o célebre “Sermão aos peixes”, criticando os poderosos daquela época, numa igreja em São Luís do Maranhão. Ainda existe o púlpito de onde aquele grande orador proferiu esta sua magnífica obra; um outro nome: Antônio de Santa Rita Durão, Álvares de Azevedo que recebia influencia de Lord Byron, que por sua vez influenciava o Rodolfo (sempre o Rodolfo). Vejam o Naturalismo de Aluísio de Azevedo, com O Cortiço, Casa de Pensão, O mulato O Simbolismo com Alfhonsus Guimarães. Espero não ter esquecido de João Cabral de Melo Neto com sua “Morte e Vida Severina”.
Ainda faltam 2 minutos. Na literatura paraense citemos Inglês de Sousa, Dalcídio Jurandir e Lindanor Celina. Meninos e meninas, nesta aula de encerramento deste ano letivo, espero encontrá-los, quem sabe daqui a 20, 30, 40 anos, num local bastante agradável, com a graça de Deus e a presença de todos vocês. Até lá estarei oitentão, e alguns de vocês setentões, sessentões e outros passando dos cinquenta. Reafirmo neste momento que pelo Amapá o meu coração bate mais forte, pois aqui cheguei em 1959, com 27 anos de idade, a convite do governador Pauxy Gentil Nunes, irmão de Janari e Coaracy – o Amapá era conhecido como a “terra dos Nunes”. Vim para ser delegado de Policia, mas o magistério foi a minha grande paixão e agradeço a Deus por este momento e a presença de vocês, meus caros e eternos alunos.”
O mestre aproveita para alfinetar, metaforicamente, os desmantelos da ditadura militar que governava o país, e lembra o nome do grande religioso Dom Helder Câmara, arcebispo do Recife e Olinda.
De pé os alunos aplaudem o Mestre e cantam a música “Ao mestre com carinho”
(Aula proferida no auditório do Museu Sacaca em 11.12.2012).
*Paredão – antiga cachoeira no atual município de Ferreira Gomes, cujas forças d’água serviram para construção da 1ª hidrelétrica do Norte – a Hidrelétrica do Paredão, inaugurada em 1976.
Paulo de Tarso Gurgel
Turismólogo. Licenciatura Plena em História
Aluno do “Munhoz”, no Colégio Amapaense nos anos de 1973/74.
E assim o mestre inicia a aula: – “Caríssimos alunos, na próxima semana faremos a nossa prova final. Os senhores e senhoras estão concluindo o 3° ano científico ou 3° colegial. Muito bem. Então, a nossa prova abordará os temas, as matérias que trabalhamos durante esses três anos. [O mestre faz que não escuta os murmúrios: “essa não”, “de novo”, “era só o que me faltava”, “isso eu já sei de cor e salteado”]. E isto vai muito ajudá-los nas provas dos vestibulares que vocês farão em Belém, para a Universidade Federal do Pará e, vocês amapaenses sempre abiscoitaram as vagas oferecidas naquelas instituições: a UFPA e FCAP- Faculdade de Ciências Agrárias do Pará.
– Lembremos: No 1° ano estudamos as origens históricas da Literatura Portuguesa, a língua portuguesa, esta uma língua neolatina como o espanhol, o italiano, o romeno dentre outras. O primeiro documento literário português escrito é a célebre “Cantiga da Ribeirinha” de Paio Caldeirós. Não esqueçamos do grande poema épico português de todos os tempos que é “Os Lusíadas” [Aí o mestre interroga e a plateia atenta responde: Luís Vaz de Camões] Continuando meus estimados alunos, [nisto chega o dono daquela carteira vazia – adivinhem – Rodolfo dos Santos Juarez e, como sempre, levou um belo “ralho”], não poderia neste momento de fazer, melhor dizendo trazer para os senhores, a titulo de colaboração para suas leituras complementares estas obras da Literatura Brasileira, tanto no romance como nos versos, copiem por favor, só irei pronunciar somente uma vez, então, vamos: vou tecer breves comentários sobre a obra e quanto aos autores é de vossas competências [murmúrios outra vez], Já. Valendo. Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro - plateia atenta e assopros - Joaquim Maria Machado de Assis; Vidas Secas - Graciliano Ramos; Os Sertões - Euclides da Cunha [interessante que, quando o mestre citava a obra, os nomes dos autores sussurravam baixinho entre todos os alunos]. Continuando - O Guarani, quem é o autor Rodolfo?, “hein, o quê?”... é o que dá chegares sempre atrasado, respondam pra ele e todos: José de Alencar. Ainda sobre o romancista de Messejana, Paulo Tarso Barros, você que é aluno ouvinte do Maranhão, como se inicia o romance Iracema? Prontamente o futuro poeta responde: “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba”; Memórias de um Sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida; agora a obra que fala da decadência dos senhores de engenho do Nordeste, [me arvorei e falei Menino de Engenho, de Ariano Suassuna, errado; Fogo Morto de José Lins do Rego, o resto da aula fiquei calado] e uma obra que traz um Brasil que pouco conhecíamos: Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa.
– Vamos, continuando, estão cansados? Não, vocês são jovens e tem toda a energia do Paredão* para vos fortalecer. Os principais poetas brasileiros: O Boca do Inferno, como era conhecido o.............................
“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá.
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como as de lá.
Não permita Deus que eu morra.
Sem que eu volte para lá!”
A plateia aplaude e pede bis.
– Temos o nosso poeta dos escravos, que morreu prematuramente, aos 24 anos de idade: Antônio de Castro Alves, suas obras “Espumas Flutuantes” e “Navio Negreiros”. Não esqueçamos da grande poetisa do “Romanceiro dos Inconfidentes” – Cecilia Meirelles.
– “No meio do caminho existia uma pedra” – o genial mineiro de Itabira – Carlos Drummond de Andrade, cujo poema “E agora, José?” transformou-se num grande sucesso musical na voz de Paulo Diniz.
– Crianças, ainda estamos no começo desta nossa aula, lembrem-se que na prova de 50 questões eu faço as perguntas e vocês escrevem apenas a resposta, de preferência que ela esteja correta. Não deixemos de mencionar o poeta pernambucano, autor de “Libertinagem” – Manuel Bandeira.”
O mestre, então, começa a declamar um poema:
“De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
– De quem estamos falando? Qual o título desta obra?
Todos respondem: Vinícius de Moraes – So-ne-to de Fi-de-li-da-de.
– Ainda temos Jorge de Lima com “Invenção de Orfeu”!
– São 22h20, ainda temos mais dez minutos e espero que não esteja cansando os meus diletos discípulos [“que é isso professor, pode mandar brasa”, grita a plateia, doida pra ir embora, mas bastante honrada com aquela aula, podemos dizer, “magna”]. Não devemos deixar de mencionar o primeiro documento literário no Brasil, escrito por Pero Vaz de Caminha, a Carta de Caminha, narrando sobre o Descobrimento do Brasil e já trazendo os primeiros sinais do nepotismo para a vida politica brasileira, a obra magnifica do missionário das Ilhas Canárias, precisamente de Tenerife – o beato José de Anchieta, o Padre Antônio Vieira com o célebre “Sermão aos peixes”, criticando os poderosos daquela época, numa igreja em São Luís do Maranhão. Ainda existe o púlpito de onde aquele grande orador proferiu esta sua magnífica obra; um outro nome: Antônio de Santa Rita Durão, Álvares de Azevedo que recebia influencia de Lord Byron, que por sua vez influenciava o Rodolfo (sempre o Rodolfo). Vejam o Naturalismo de Aluísio de Azevedo, com O Cortiço, Casa de Pensão, O mulato O Simbolismo com Alfhonsus Guimarães. Espero não ter esquecido de João Cabral de Melo Neto com sua “Morte e Vida Severina”.
Ainda faltam 2 minutos. Na literatura paraense citemos Inglês de Sousa, Dalcídio Jurandir e Lindanor Celina. Meninos e meninas, nesta aula de encerramento deste ano letivo, espero encontrá-los, quem sabe daqui a 20, 30, 40 anos, num local bastante agradável, com a graça de Deus e a presença de todos vocês. Até lá estarei oitentão, e alguns de vocês setentões, sessentões e outros passando dos cinquenta. Reafirmo neste momento que pelo Amapá o meu coração bate mais forte, pois aqui cheguei em 1959, com 27 anos de idade, a convite do governador Pauxy Gentil Nunes, irmão de Janari e Coaracy – o Amapá era conhecido como a “terra dos Nunes”. Vim para ser delegado de Policia, mas o magistério foi a minha grande paixão e agradeço a Deus por este momento e a presença de vocês, meus caros e eternos alunos.”
O mestre aproveita para alfinetar, metaforicamente, os desmantelos da ditadura militar que governava o país, e lembra o nome do grande religioso Dom Helder Câmara, arcebispo do Recife e Olinda.
De pé os alunos aplaudem o Mestre e cantam a música “Ao mestre com carinho”
(Aula proferida no auditório do Museu Sacaca em 11.12.2012).
*Paredão – antiga cachoeira no atual município de Ferreira Gomes, cujas forças d’água serviram para construção da 1ª hidrelétrica do Norte – a Hidrelétrica do Paredão, inaugurada em 1976.
Paulo de Tarso Gurgel (ao centro) ladeado pelo professor Munhoz e por Paulo Tarso Barros |
Paulo de Tarso Gurgel
Turismólogo. Licenciatura Plena em História
Aluno do “Munhoz”, no Colégio Amapaense nos anos de 1973/74.
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Fotografias da Aula magna ocorrida em 11/12/2012 no Museu Sacaca.
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CARTAS DO PROFESSOR MUNHOZ PARA A
PROFESSORA ESTER VIRGOLINO
Publicamos abaixo, com a anuência do professor Munhoz, algumas cartas que ele escreveu a sua grande amiga e companheira de magistério a professora Ester Virgolino.
Para ler as cartas, Clique nas imagens
para ampliá-las!
Professora Ester da Silva Virgolino - 1978 (Arquivo de João Lázaro) |
MAIS FOTOGRAFIAS DO MESTRE
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