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14 de dez. de 2006

L. I. V. R. O.

Um texto genial do Millôr Fernandes. Quem recebê-lo, por favor retransmiti-lo aos seus contatos, pois estaremos ajudando a fazer propaganda desse objeto tão negligenciado por muitos brasileiros: o livro.




L. I. V. R. O.





Livros mesmo são os do Sarney — quando


você larga não consegue mais pegar










Existe entre nós, muito utilizado, mas que vem per­dendo prestígio por falta de propaganda dirigida, e comentários cultos, embora seja superior a qualquer outro meio de divulgação, educação e divertimento, um revolucionário conceito de tecnologia de informação.






Chama-se de Local de Informações Variadas, Reuti­lizáveis e Ordenadas — L.I.V.R.O.






L.I.V.R.O. que, em sua forma atual, vem sendo utili­zado há mais de quinhentos anos, representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, nem pilhas. Não necessita ser conectado a nada, ligado a coisa alguma. É tão fácil de usar que qualquer criança pode operá-lo. Basta abri-lo!






Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de folhas numeradas, feitas de papel (atualmente reciclável), que po­dem armazenar milhares, e até milhões, de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantém permanentemente em sequência correta. Com recurso do TPO — Tecnologia do Papel Opaco — os fa­bricantes de L.I.V.R.O.S podem usar as duas faces (páginas) da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os custos à metade!






Especialistas dividem-se quanto aos projetos de ex­pansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para fazer L.I.V.R.O.S com mais informações, basta usar mais folhas. Isso, porém, os torna mais grossos e mais di­fíceis de ser transportados, atraindo críticas dos adeptos da portabilidade do sistema, visivelmente influenciados pe­la nanoestupidez.






Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamen­te, e as informações transferi­das diretamente para a CPU do usuário, no próprio cérebro, sem qualquer formatação es­pecial. Lembramos apenas que, quanto maior e mais com­plexa a informação a ser ab­sorvida, maior deverá ser a ca­pacidade de processamento do usuário.






Vantagem imbatível do aparelho é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite acesso instantâ­neo à próxima página. E a leitura do L.I.V.R.O. pode ser retomada a qualquer momento, bastando abri-lo. Nunca apresenta "ERRO FATAL DE SENHA", nem precisa ser reinicializado. Só fica estragado ou até mesmo inutilizável quando atingido por líquido. Caso caia no mar, por exemplo. Acontecimento raríssimo, que só acontece em caso de naufrágio.






O comando adicional moderno chamado ÍNDICE RE­MISSIVO, muito ajudado em sua confecção pelos computadores (L.I.V.R.O. se utiliza de toda tecnologia adi­cional), permite acessar qualquer página instantaneamen­te e avançar ou retroceder na busca com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda já vem com esse FOFO (softer) instalado.






Um acessório opcional, o marcador de páginas, per­mite também que você acesse o L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização, mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcado­res de página é total, permitindo que funcionem em qual­quer modelo ou tipo de L.I.V.R.O. sem necessidade de configuração. Todo L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso o usuário deseje manter selecionados múltiplos trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com a metade do número de páginas do L.I.V.R.O.






Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O., por meio de anotações em suas margens. Pa­ra isso, deve-se utilizar um perifé­rico de Linguagem Apagável Portátilde Intercomunicação Simplificada — L.A.P.I.S.






Elegante, durável e barato, L.I.V.R.O. vem sendo apontado como o instrumento de entreteni­mento e cultura do futuro, como já foi de todo o passado ocidental. São milhões de títulos e formas que anualmente programadores (edito­res) põem à disposição do público utilizando essa plataforma.


E, uma característica de supre­ma importância: L.I.V.R.O. não enguiça!






Só com a lente dos livros se pode perceber toda a estultícia (!) da televisão.




(Autor: Millôr Fernandes - Publicado na Revista Veja, edição 1985 - Ano 39- Nº 48 – 6/12/2006)

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