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24 de nov. de 2006
AS OUTRAS DEFICIÊNCIAS
As cidades, os ambientes de trabalho, os eletrodomésticos e todas as demais facilidades do mundo moderno são projetados para quem não possui deficiência física. O simples atravessar de uma rua é um suplício para quem é deficiente visual. Ter acesso aos prédios, aos transportes coletivos e aos espaços reservados ao lazer, é um pesadelo para quem vive em cadeira de rodas. Estudar e conseguir colocação no mercado de trabalho é mais difícil ainda.Mas aos poucos os mesmos vão se adaptando e procurando levar a vida mais perto possível do normal. Já houve algum avanço, é verdade, mas ainda não atende, realmente, às necessidades dos portadores de deficiência. Poucos restaurantes, hotéis, repartições públicas ou escolas possuem banheiros adequados para os deficientes. A simples demarcação de local previamente determinado para eles já os isola do convívio com outras pessoas.Eles vivem num mundo alheio do restante e, inúmeras vezes, são vítimas do preconceito por parte dos normais. Talvez para disfarçar isso, passou-se a usar paliativos para demonstrar respeito em relação a eles. Assim, cego, surdo, louco, mudo e aleijado, agora são deficientes visual, auditivo, mental ou portador de necessidade especial. Mas, fora o tratamento politicamente correto, isso não muda muita coisa. O efeito prático disso é desprezível! Essas adversidades, no entanto, podem ser administradas e não deterioram tanto a sociedade como um todo. Existem deficiências, porém, que não impedem os portadores de usufruir as comodidades da vida atual, mas são muito nocivas para a humanidade. Falamos da deficiência de moral, da deficiência de caráter, da deficiência de honestidade.O problema, nestes casos, é que não temos como adaptar qualquer ambiente, veículo ou eletrodoméstico para atender às necessidades destes deficientes. A única solução para resolver tais problemas é a lei, mas a Justiça também sofre porque algumas pessoas do seu quadro são portadoras destas deficiências. Não é visível, mas sentimos seus efeitos.Então, como adaptar as leis para que a Justiça tenha condições de atender estes deficientes? Difícil, muito difícil. O problema não são as leis, mas os portadores das deficiências que são muito mais eficientes que a Justiça. Pior é que o mundo está se adaptando cada vez mais a este tipo de deficiência. Tais portadores já estão cotidianamente integrados e aceitos como normais em muitos países, inclusive o nosso. Eles surgem e evoluem muito rápido.Assim, entre os dois tipos de deficiências, se forma toda uma legião que aceita ou reprova as maneiras de solucionar cada caso. Para os deficientes visivelmente necessitados, os esforços para melhorar suas condições de vida são insignificantes. Já para os outros portadores, abre-se um leque enorme de facilidades e de boa vontade. Enquanto um enfrenta mil restrições para exercer o direito de ir e vir, que é o mínimo que a nossa Constituição lhe garante, o outro abusa dos seus direitos e geralmente é elogiado porque sabe fazer valer a sua condição de cidadão e a lei o respeita. Inúmeros elogios como inteligente, esperto, eficiente, são empregados para qualificá-lo. Geralmente vira exemplo a ser seguido por aqueles que também se acham cidadãos de primeira categoria.Para o deficiente físico, o máximo que consegue é ser rotulado de esforçado, lutador, persistente e batalhador. Como se vê, são qualidades que estão diretamente ligadas ao esforço físico, nada que demonstre inteligência. Sua condição é de, realmente, deficiente. Aquele que não consegue realizar as coisas mais simples sozinho. Um verdadeiro pária, coitado.A História, porém, já mostrou que muitos deficientes - os visíveis - realizaram grandes feitos em vários ramos de atividades. Não porque receberam ajuda de outras pessoas, mas porque acreditaram que tudo dependia do funcionamento de suas mentes. Provaram, com exemplos, que a única deficiência realmente maléfica é a ausência da verdade que existe nas pessoas, que muitas vezes são apresentadas na forma de justificativas ou desculpas.
Texto: Jose Roberto Takeo Ichihara - ichihara_natal@hotmail.com é engenheiro da Petrobrás, cronista e articulista premiado, com textos publicados no site Para Ler e e Pensar
Publicação: http://www.paralerepensar.com.br/
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