Professor Carlos Nilson em Veneza, na Itália |
O professor Carlos Nilson Costa nasceu em Monte Alegre – PA, no dia 17 de novembro de 1941, mas chegou ao Amapá ainda muito jovem e aqui estudou, constituiu a família e realizou seus projetos profissionais e pessoais. Artista plástico, poeta, professor e um admirável ser humano, Carlos Nilson é formado em Matemática e tem especialização em Planejamento. Foi Secretário Municipal de Educação de Macapá, Secretário de Estado da Educação e integrante do Conselho Estadual de Educação, dentre outras atividades que exerceu no serviço público com grande destaque, pela sua competência e dedicação, o que o coloca entre os mais notáveis educadores do nosso Estado. Na imprensa publicou trabalhos nos jornais “Amapá”, “A Voz católica”, “A Fronteira”, “O Liberal” e “Jornal do Dia” e apresentou programas de música erudita nas rádios Difusora e Educadora.
Participou da antologia “Coletânea Amapaense”, de 1989.
Neste especial, vamos publicar uma seleção de poemas do autor - inclusive fac-símiles de publicações dos anos 60 do jornal Amapá. (Texto: Paulo Tarso Barros)
ATO DE AMOR
Não nasci de uma ficção
e nem de um clone metálico
e sim de um ato de amor
com DNA livre que condena o sopro...
das injustiças
das mazelas
e das injúrias
e nem de um clone metálico
e sim de um ato de amor
com DNA livre que condena o sopro...
das injustiças
das mazelas
e das injúrias
Nasci com a força do amor
como nasce um capim
e uma orquídea
rasgando o ventre amado
de minha mãe
como nasce um capim
e uma orquídea
rasgando o ventre amado
de minha mãe
Quero ser um louco
a perambular por aí,
sem saber prá onde vou,
prá onde fui,
indo sempre por aí
buscando o inatingível
soluçando o amor perdido
e encontrando o amor presente
a perambular por aí,
sem saber prá onde vou,
prá onde fui,
indo sempre por aí
buscando o inatingível
soluçando o amor perdido
e encontrando o amor presente
Que sumam da minha frente
as turbulências da vida
pois as derroto sem pudor
violentando a convenção,
rasgo o espaço como um raio
e mando às favas quem não
viver como nasci
de um puro ato de amor
as turbulências da vida
pois as derroto sem pudor
violentando a convenção,
rasgo o espaço como um raio
e mando às favas quem não
viver como nasci
de um puro ato de amor
espero que aprecie.
O SOM DO
SILÊNCIO
Por que buscas
na tortura de teu
silêncio,
o sopro da ventura
favorável?
Amargo e torturante é o
teu calar!
Infiltra-te na imensidão
de tua voz
E traz à tona a alegria
contagiante
E companheira
De nunca estar só!
CÍRCULO
Daquela festa passada
Deixaste apenas o cavalo
Da carruagem que viajamos
Da tua fuga galopante,
No exílio angustiante que
fiquei,
Restou o cavalo, que era a
égua de nossa glória.
A distância do tempo que
partiste
Voltou, em circunferência,
A encontrar, no ponto de
partida,
A égua para a tua
condução.
Fiquei a esperar a
carruagem
Que viria buscar a
montaria
Na fuga causada do amor
perdido
Na espera fogosa do amor
encontrado
TERNURA
Sinto a ternura
Feita de carne
- o teu corpo
O tempero de tua alma
leva-me saudade
de tua ausência presente
A imaginação do amor
constante
que desejo
é o mesmo amor
que sinto em ti
Mulher amada
RAZÃO DO AMOR
Muitos cantam a vitória
em hinos que sublimam as
conquistas
( em verdade, gostamos de
cantar nossas glórias
nem tanto gloriosas assim
)!
Eu canto o teu amor
que lampeja
na vez que recordo
teu ar triste
que, cinematograficamente,
reflete ternura
de uma lembrança viva.
Não sou grato ao teu amor!
Nem busco a razão,
já que não amo
porque quero,
mas se quisesse
te amaria mesmo assim.
LEMBRANÇA DE MINHA RUA
Lembro como se fosse
presente
do primeiro dia em que
cheguei
-tinha sete anos!
Fazia escuro
O mato crescia em terra
estéril
e o cemitério era panorama
mudo e
suas paredes cinzentas
tinham o ar melancólico
daquele lugar.
Macapá terminava ali!
A rua era pequena
-Nem pensei que fosse beco!
Terminava no campo santo
As casas, em perfeito alinhamento
-uma longe da outra
Davam uma visão de que
havia ordem
também por lá.
A casa onde fui morar
Era toda de barro. Estava
caindo aos pedaços.
Cada um era uma parte do
coração de minha mãe que ruia.
O mato crescia (como ele viceja em terra imprópria! ),
E brotavam algumas flores
silvestres
Que faziam o jardim dali.
Rua, saudade de minha infância.
Das brincadeiras infantis
-de cowboys,
Apedrejador de
passarinhos...
Hoje é avenida sem deixar a
forma de beco
Rua da minha felicidade
E da minha tristeza,
Que no sorrir de minha
existência,
Quando brotava para a vida
Na pós-adolescência,
Viste morto meu pai .
Rua triste, de onde não
tive namorada.
- ela só veio depois que
mudou o nome.
Rua querida, és saudade
perene,
Vida em minha existência
Tão triste e só,
Oferecendo lembranças e
saudades
Que parece não saem de lá.
PENSAR BAIXINHO
Hoje volto:
Triste e pensativo.....
-a noite cai
E o silêncio vive a
solidão.
Hoje é noite de ficar
sozinho,
de pensar baixinho,
de pedir aos céus
o que não podemos na
terra.
De fechar os olhos,
De chorar calado
E esperar a volta,
Que sabemos não vem:
Noite de ficar sozinho.
ANJO DA GUARDA
Simplesmente dormi!
Meu anjo cansou-se de
velar por mim
-teve sono e entregou-se a
Morfeu.
Nos lampejos da vida,
com sede de afeto,
me precipitei a realizar.
Pobre de meu anjo,
Teve que dormir um pouco!
Fiquei só!
Perdi-me no caminho.
Andei errante: fugi
demais.
Agora,
Tudo é frio.
O peito gela
O coração treme solitário
E irrealizável.
Por que dormi,
se tinha tanto a
completar?
-e meu anjo, pobre
coitado,
Não sei onde o encontrar.
MINUTO ETERNO
Houve um minuto!
Os sinos deixaram de anunciar,
Mas o tempo chegou.
O tempo não passa, ele
chega.
Os homens não param,
esperando o fim.
.....Paira uma enorme
expectativa
De no momento findo,
Haver o começo de novo.
MÃE PRETA
A sombra do mundo
E o brilho do bem,
Escondem na sombra
O belo do amor.
Mãe Preta querida
Teu canto é passado
Na dor do passado
Que teu avo não contou.
Teu filho que dorme
O sono do nobre,
Não sabe de angústias
vividas
Não sabe que lágrimas
Que o tempo esqueceu,
Rolaram baixinho
Nos prantos noturnos
Dos fundos dos barcos
Teu canto adormece
É diferente
Traz na tua voz
Mensagem antiga
Da dor já passada.
Não fala de bola,
Nem de brinquedos.
Só canta ternura
Do bem de tua alma
Mãe Preta querida,
Canta prá mim.
Tuas mãos calejadas,
Teu rosto queimado,
Teu corpo sofrido,
Mãe Preta
Só falam de amor.
O SOM DO SILÊNCIO
Por que buscas
Na tortura de teu
silêncio,
O sopro da ventura
favorável?
Amargo e torturante é o
teu calar.
Infiltra-te na imensidão
de tua voz
E traz à tona a alegria
contagiante
E companheira
De nunca estar só.
DESMATERIALIZADO
Deixo cair a carcaça e
caminho...
Vou seguindo na terra
Como se fosse um espectro,
Sem resistência do ar
Deixo cair as vestes dos
ossos,
E nu, o meu esqueleto vai
procurar abrigo
Em uma tumba de glória,
Onde a árvore nasce em
forma de espada
Ferindo as dores na
solidão.
Assim, descaço de carnes,
Sem cabelos,
Sem rumo determinado,
Mas com chegada certa em
uma luz,
Estendo minhas mãos de
falanges
E imploro a felicidade
-ao menos uma vez.
O RIO
Corre,
Margeando o leito calmo,
A folha caída.
Segue,
No caminhar constante
Levando lembranças
E saudades.
Vai,
Misturando às águas,
O barro santo
De vidas passadas.
E, com a terra sagrada,
Diluída na garapa gigante,
Desliza a tradição ferida
De um povo bravo e forte.
A ROTA DO HOMEM
Acho simples voar
-até as aves voam!
Num voo curto e material
Sem a magnitude
Dos homens,
Que sobem tanto
E se perdem na grandeza
De um sorriso tácito
Bebido em taça
Com o gosto de cru.
MORTE DOS NAMORADOS
Como é triste a morte dos
namorados
Mas dos que se amam
Não dos que se falam
Mas dos que se sentem
Noites claras que brilham,
Passeios,
Encontros.
Tudo transformado em noite
fria
-eternamente fria.
O calor dos beijos
Foi trocado pelo frio dos
mármores
Na visão branca
Como o fantasma da
saudade.
E a mão
O beijo
O calor:
Como estão gelados!
Todo o calor da imensidão
da noite
Agora é eterna noite das
coisa geladas
E de muita solidão.
ONTEM, HOJE E ..........AMANHÃ
Enquanto as rosas
perfumarem o sereno,
O sorriso da criança
entreabrir,
E nos campos se amarem as
borboletas,
Acredita, sou feliz.
Após, no pomar, as árvores
derem frutos,
E os galos entoarem na
madrugada,
E o seresteiro amar sua
namorada.
Acredita, eu vivo.
E se ainda as folhas
formam copas,
E poucas flores ainda
existirem,
Mesmo assim, vacilante,
Acredita, eu existo.
Mas, se as árvores não
brotam ramos,
E as pétalas caem no chão
E somente o arbusto cresce
em saudade,
Acredita, sou ontem.
EROSÃO
Na areia fina da praia
Está o pássaro ferido
-caído.
Na pedra lisa do riacho,
Está o velho pescador
-pescando.
Na brisa lenta do Amazonas
Estão as ondas tristes
Chegando.
E o pássaro caído,
Morto na praia
Mudo, deixou de cantar.
E a pedra gasta,
Continente ontem,
Desfez-se: erosão
E a brisa lenta
...muito lenta
Parou.
O HORIZONTE
Que busca o homem ao olhar
o horizonte
Que busca ele, achar em
sua melancolia silenciosa, na imensidão das águas e na grandeza do céu?
Ele diante da distância é pequeno!
Busca no perder de vista,
Seu pensamento disperso.
Tenta o encontro da água
com o céu
E chega ao êxtase
Arrancado das entranhas
deste horizonte perdido
E vem
Docemente
De coração saciado,
Rezar a oração do amor.
AO MEU PAI
Lampeja vibrante
A chama indormida
Do cintilante clarão da
vida
Segue...
Ilumina o caminhar
De conquistas passadas
E das que ainda vão
ocorrer
...e é tão grande a sua
luz,
Que não precisa de
séquito.
Este é o seu rastro de
brilho
A clarear o caminho
Na ida segura.
E a chama revolta
Ilumina a saudade
-grande e profunda
Que ainda arde
Com a separação.
ANJO DA GUARDA
Dormi muito!
Meu anjo cansou-se de
velar por mim
-teve insônia
No balburdio da vida,
Com sede de afeto,
Me precipitei a realizar.
Pobre do meu anjo,
Teve que dormir um pouco!
Fiquei só.
Perdi-me no caminho.
Andei errante: -fugi
demais.
Agora,
Tudo é frio
O peito gela
O coração treme solitário
E omisso.
Por que dormi
Se tinha tanto a
completar?
E meu anjo, pobre coitado,
Não sei onde o encontrar.
HOJE OU NUNCA
Não perca tempo,
Pois estou a esperar.
Vem enquanto és flor
Com orvalho
Na manhã radiosa.
Vem,
Enquanto não murchas,
Pois como a flor,
O tempo fadiga
E mata
Não esquece
Que estas deixarão
De ter perfumes
E de ser belas.
E tu,
Hoje linda,
Perfumada e viva
E amanhã
Feia e morta.
Longo tempo
Te espero
Para que não sintas
Como a flor
A queda para a volta
À terra
Com renúncia
E humilhação.
NOITE SEM ESTRELAS
Despreocupado
em dia de meditação a
vagar,
achei uma noite
tosca e sem estrelas
com malícia e ríspida.
Num dia sem sol,
Quando parava a natureza,
Descobri uma noite.
Dessas escuras,
E propícias para o medo
onde nossa oração é ouvida
Como eco.
Em um dia comum,
Achei uma noite.
-a minha,
Estranhamente bela
E misteriosa,
Onde a brisa vinha em
forma de afago.
Em infinitos dias
Achei uma noite,
E nessa noite infinita
Achei um amor.
DECLARAÇÃO
De todas as criaturas
viventes
As fêmeas são mais astutas
E a mulher a mais buscada,
Procurada e fugidia.
Este sublime ser
Converge as luzes
e mantém o segredo da vida.
De tal forma é soberana
Que agasalha por nove
meses
Um ser que quando livre
Chora a separação.
Assim, é a mulher a
perfeição
Buscada no inatingível
Sopro do amor.
SIMPLESMENTE
Gosto de teu sorriso
Pelas coisas simples
Que ele tem
Igualmente aprecio o voo
cósmico,
Porque acho que é simples;
Pois sobe, e leve,
Não deixa que a poeira
Venha a corrompe-lo
E tirar a sua pureza
A beleza e a simplicidade
são irmãs
-no riso
-na carne,
-no espírito
-e na visão.
Assim,
gosto do teu sorriso
pelas coisas simples
que ele tem.
Contatos com o Autor:
carlos_nilson@uol.com.brFacebook:
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