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30 de abr. de 2015

ELFREDO TÁVORA - O LEGADO VALIOSO DE UM HOMEM DE BEM


Matéria atualizada em 30 de abril de 2015

MORRE EM FORTALEZA 

ELFREDO TÁVORA GONÇALVES


O Amapá perde mais um grande pioneiro, integrante da Associação Amapaense de Escritores - Apes. Aos 93 anos, muito lúcido e ativo, Elfredo Távora ainda teve tempo de finalizar mais uma obra: "O Amapá de Outrora", cuja editoração está em andamento e certamente em breve haverá a publicação. 

Tive o imenso privilégio de acompanhar a finalização da obra junto ao autor e sua esposa, Dona Darcy. Tivemos várias reuniões, e ele estava bastante entusiasmado para publicar mais esse trabalho. Mostrou-me as fotos, explicou-me alguns tópicos da obra onde defende algumas ideias sobre o Projeto Icomi e descreve com maestria as riquezas potenciais do Amapá.
Elfredo Távora deixa seu nome em destaque na história do Amapá, tanto através de suas atividades como jornalista como de servidor público, pois exerceu alguns cargos relevantes na administração pública. E, através dos dois livros, seu testemunho é indispensável para que os historiadores interpretem muitos acontecimentos da nossa História.
Nascido em 14 de janeiro de 1922, em Belém-PA, o Sr. Elfredo faleceu em Fortaleza - CE, no dia 30 de abril de 2015, após mais de 20 dias de internação. Seu corpo foi sepultado no dia 1º de maio no Cemitério de N. S. da Conceição em Macapá - AP.
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O professor Nilson Montorial de Araújo registrou este depoimento que traça um pouco das atividades jornalísticas de Elfredo Távora:
Nilson Montoril de Araújo

"PERSISTÊNCIA JORNALÍSTICA
Antes do surgimento do jornal "A FOLHA DO POVO", Elfredo Távora Gonçalves e alguns amigos que integravam o Partido Trabalhista Brasileiro-PTB, fizeram circular, em Macapá, um periódico intitulado “O Combatente”. Impresso em Belém, haja vista que aqui existia apenas a gráfica do Jornal Amapá, órgão oficial do governo, "O Combatente" agradou em cheio os leitores macapaenses, que não conseguiam mais suportar tanta propaganda governamental e ver o Amapá estagnado. A publicação de um artigo escrito pelo responsável em levar as matérias para Belém, que se dizia jornalista, criou um sério problema com uma autoridade. O artigo tratava de um fato, mas não mencionava o nome de ninguém. Mesmo assim, o periódico foi impedido de circular. O desprendimento de Elfredo Távora e demais companheiros de lutas oposicionistas, tornou realidade o lançamento de um jornal feito em Macapá. O primeiro número circulou no dia 28 de maio de 1959, com o titulo de "Folha do Povo". A sede ficava na Av. Presidente Vargas, entre as Ruas Cândido Mendes e Independência, em frente à Casa Leão do Norte. O estado do imóvel era relativamente precário devido a sua estrutura ser de taipa. Elfredo Távora era o diretor responsável e Amaury Farias o redator. O Território do Amapá era governado por Pauxy Nunes, que não dava refresco para seus adversários. Por diversas vezes o prédio foi invadido à noite e danos foram causados, mas sem impedir que o jornal circulasse. Em uma ocasião, o operário Osmar Pelaes, que hoje é professor, foi esfaqueado por indivíduo que servia de capanga para os governantes. Operado no Hospital Geral de Macapá, nosso amigo Osmar escapou da morte. A "Folha do Povo” circulou até o final de 1964." (Texto de Nilson Montoril de Araújo)
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O jornalista João Silva fala sobre ele:
"No jornalismo e na política, foi diretor de A Folha do Povo, militante do PTB, e militante da oposição histórica aos Nunes no Amapá. No serviço público assumiu cargos importantes, entre outros, foi prefeito, secretario de governo, diretor do Senar, e chefe de gabinete do governador Jorge Nova da Costa. Nas letras, lançou, em 2011, seu livro de memórias intitulado Folhas Soltas do meu Alfarrábio. "
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Para Cesar Bernardo de Souza: "Vou pranteá-lo com muito respeito e honra... um dos maiores homens que conheci."

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Para o jornalista Euclides Moraes, "Elfredo Távora está
Euclides Moraes
imortalizado nos anais da história do Amapá. Um dos líderes da primeira confraria de lutas pela democracia no Estado, digo, antigo Território Federal do Amapá. Com ele estavam Amauri Farias, Binga Uchôa, Zito Moraes, Zeca Serra, Duca Serra e tantos outros que me desculpem a omissão. Foram fundadores do primeiro jornal de oposição à elite dominante, a Folha do Povo. E com esses mesmos bravos fundou o Partido Trabalhista Brasileiro, de Getúlio Vargas. Elfredo Távora deixou para as gerações que o sucederam uma grande lição. A de que vale a pena lutar pela Democracia. Boa viagem, amigo."

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Maura Leal

Para a professora e historiadora Maura Leal 
“O guardião da memória do PTB, como costumava chamar o Sr. Elfredo Távora, tombou hoje, mas nunca jamais sua linda e iluminada história, grande parte dedicada à construção do Amapá. Nos anos 40 fundou, junto com outras personalidades políticas de relevo, mais que um partido e desafiou a ordem instituída ao fazer a difícil escolha de ser oposição em pleno período de implantação do Território do Amapá. Sua luta foi árdua em nome da construção de um espaço político plural e democrático. Tive a grata honra de ouvi-lo contar essa história, de revisar seu segundo livro (em fase de publicação). Era um narrador brilhante e com uma memória invejável, guardião de um acervo valioso e muito bem cuidado. Sei que talvez jamais encontre um narrador como ele nas minhas andanças como pesquisadora. Mas bom mesmo foi poder ter tido mais do que esperava dele, sua preciosa amizade. Meu coração chora de saudade e tristeza, mas sei que ele parte deixando um legado enorme para história desse Estado e para sua linda família. Descanse em paz, amigo, nos braços do Senhor, ao lado dos seus.”
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O autor, esposa e filhos (foto superior)
Abaixo, fotos do lançamento da obra
em 10/02/2011
no pátio do Cine João XXII (Macapá-AP)

Aos 89 anos, Elfredo Távora Gonsalves decidiu publicar um livro denominado sabiamente de Folhas soltas do meu alfarrábio - um livro para meus filhos. Observem só a sua humildade em designar uma obra escrita com tanto carinho paternal – e aí se sobrepõe o paternalismo, respectivamente literário, de que um livro é como filho, e o paternalismo genealógico, mistura de sangue, história, tradição e outros componentes do complexo familiar, tão preponderante naqueles que se orgulham de suas origens e preservam a memória dos ancestrais.


Nascido em Belém do Pará no dia 14 de janeiro de 1922, em plena época do Modernismo brasileiro, quando os artistas e intelectuais se reuniam em São Paulo para desafiar os cânones estabelecidos na cultura brasileira, Elfredo Távora, um dos filhos do negociante português George Mayer Gonsalves nascido no Brasil, tem muitas histórias para relatar. E o fez de um ponto de vista sentimental. Mas esse viés, longe de limitar seu trabalho, torna-o peça-chave para que se entenda a trajetória de uma família de emigrantes portugueses que se estabeleceu no Norte do Brasil nas primeiras décadas do século XX. E não podemos deixar de relembrar que seu ancestral, Alfredo Gonsalves, em 1932 também publicou um belo e raro livro: Verdadeiro Eldorado, em que relata suas andanças pela Amazônia, especialmente na região do Amapá, onde as famílias Távora e Gonsalves estabeleceram seus negócios e formaram as famílias. Portanto, as duas obras, publicadas num intervalo de 79 anos, constituem-se em dois documentos preciosos de cidadãos que verdadeiramente amaram esta parte do Brasil por vezes tão negligenciada pela historiografia oficial.


Elfredo Távora é uma testemunha viva da história do Território do Amapá desde a sua criação, em 1943, quando tinha apenas 21 anos, até os dias atuais do século XXI. Sua trajetória pública foi moldada por um caráter forjado na formação que recebeu ao longo da vida, em que os valores morais são sustentáculos vitais que orientam as ações em todos os sentidos. Por isso, nas páginas que escreveu, além de rememorar alguns episódios pessoais, ele analisa sua participação na vida política do Amapá, através das lides no antigo PTB e contextualiza os episódios locais com a situação nacional. Corajoso, firme em suas convicções, jamais abriu mão de suas ideias e do senso de liberalismo e ética que nortearam sua atuação e que foram sempre reconhecidos por todos. A Folha do Povo, jornal que circulou no período de 1959 a 1964, se contrapunha à liderança de Janary Nunes e seus sectários, denunciando irregularidades do governo. O saudoso Amaury Farias, seu companheiro de lutas, no livro Meus Momentos Políticos, relatou com minúcias as dificuldades de naquela época imprimir e distribuir um jornal sem qualquer tipo de apoio e sob a constante vigilância policial e de como era quase impossível lançar-se uma candidatura oposicionaista. Episódios como esse engrandecem o verdadeiro espírito de luta e idealismo que norteou aquela geração de jovens que sempre almejavam o melhor para esta região brasileira, cujos governos nomeados quase sempre não atendiam aos verdadeiros anseios da população.
Este livro, vale lembrar, é mais um repositório que servirá de roteiro e de fonte de dados para os historiadores, que ainda coletam informações para que se possa escrever parte considerável e relevante da história do Amapá.


Texto:
Paulo Tarso Barros
http://twitter.com/paulotbarros
http://paulo.tarso.blog.uol.com.br/
http://paulo.tarso.sites.uol.com.br/

Fac-símile do autógrafo
que recebi do
Sr. Elfredo Távora em 11/02/2011





BIOGRAFIA DE ELFREDO TÁVAORA

ELFREDO FELIX TÁVORA GONSALVES, filho do Tenente Coronel George Meyer Gonsalves, comandante de Marinha mercante, brasileiro naturalizado, comerciante e proprietário, de grandes seringais no rio Araguari e de D. Hildebranda Távora Gonsalves, cearense de Baturité, filha do Coronel João Franklin Távora, pecuarista, de grandes posses e 1.° Intendente do Município de Amapá, Nasceu em Belém, Estado do Pará, a 14 de janeiro de 1922. Estava com 10 meses de idade quando seu pai faleceu repentinamente, obrigando sua mãe a viajar com seus cinco irmãos para Ilha da Madeira, em Portugal onde seu pai tinha posses, permanecendo ai até aos 20 anos de idade, quando regressou ao Brasil, dedicando-se à exploração dos seringais da família, chegando ao Amapá a 13 de maio de 1943, quando ainda era Município do Pará. Após a criação do Território do Amapá, conheceu o então capitão Janary Gentil Nunes que havia sido nomeado Governador, a quem ofereceu um exemplar do livro "Verdadeiro Eldorado" escrito no ano de 1932, impresso na cidade do Porto, em Portugal por seu tio, o português Alfredo Gonsalves. Até o ano, de 1945 manteve boas relações com o governador do Amapá, mas quando lhe escreveu uma carta relatando fatos que considerava violentos praticados pelo Chefe de Polícia, capitão Humberto Vasconcelos, enquanto S.Exª. se encontrava no Rio de Janeiro, tudo isso mudou, porque: O Governador não deu importância às denúncias e respondeu-lhe com um telegrama agressivo: a partir desse momento começaram as hostilidades por parte do Chefe de Polícia e seus colaboradores. A euforia dos primeiros dois anos de governo começou a esfriar e surgiram os desentendimentos, resultando no afastamento do Dr. Otávio Mendonça, Diretor da Divisão de Educação. Depois foi a briga entre o Chefe de Gabinete, Dr. Paulo Eleutério Filho e o capitão Vasconcelos, atrito esse que mais tarde se acentuou quando ambos militavam na política de Belém, acabando em assassínio de Paulo Eleutério pelo seu oponente. Elfredo Távora criticava abertamente o regime paternalista adotado pelo governo. Surgiu então um manifesto na cidade, atribuído ao amapaense José Serra e Silva, extraordinária figura humana, o qual terminava com o slogan "a terra aos filhos da terra". Esses movimentos foram-se polarizando e acabaram em aglutinação de caráter político, tendo à frente Claudomiro Morais, Benedito da Costa Uchôa, Aurino, ltuassu Borges Oliveira, Aurélio Laranjeira, Jóca Furtado, Antero Furtado, Jeronimo Picanço em Macapá, Américo Saraiva, Chico Távora, Adelino Gurjão, Miguel Monteiro, Quintino Pontes, Horácio Alves e outros, convidados por Elfredo, fundaram o Trabalhista Brasileiro, no TFA, instalado na cidade de Amapá, a 26 de dezembro de 1946. Pressionado pelos homens do governo, fugiu de Macapá, permanecendo alguns meses em Belém, trabalhando na Companhia Telefônica e mantendo estreito relacionamento com a cúpula do PTB, ganhando a simpatia dos dirigentes, principalmente do Deputado Baeta Neves, Senadores Salgado Filho, Ivete Vargas e outros. Em 1950 foi para as ruas fazer a campanha de Getúlio Vargas para a Presidência da República e conseguiu do candidato uma mensagem especial ao povo do Amapá, que foi gravada no Hotel em Belém e transmitida pela Rádio Clube do Pará. Por estranha coincidência, na hora da transmissão, faltou energia em Macapá. Com a eleição do Getúlio Vargas, por força de um acordo político imposto pelo Presidente do PTB, o governo do Amapá nomeou Elfredo Távora para o cargo do Diretor da Divisão de Terras e Colonização. Com a morte de Getúlio Vargas, Elfredo foi entregar o cargo que ocupava, justificando que o acordo político era com o Presidente e esse estava morto. Voltou para oposição e nela se manteve até 1960. Casou-se com D. Maria Darcy Colares, filha do fazendeiro Ernesto Pereira Colares, do Município de Amapá, no ano de 1955, e foi residir em Porto Grande, dedicando-se à exploração agrícola de sua propriedade onde auferia recursos com o arrendamento de seus seringais. Mais tarde, contratado pelo empresário Waldemiro Gomes, foi residir as margens do rio Amapari, próximo à foz do rio Cupixizinho (igarapé dos índios), dedicando-se à compra do minério de cassiterita, Não perdeu o contato com os companheiros de partido e, em 1959, lançou o jornal "Combate" junto com Mário Luiz Barata, Dalton Cordeiro de Lima, Amaury Guimarães Farias, Raimundo Maia, José Araguarino Mont'Alverne, o qual teve duração efêmera. No mesmo ano fundou o semanário "Folha do Povo", assumindo a Direção de toda acompanha oposicionista durante os anos de 59 a 64. Com a chegada do Governador Luiz Mendes da Silva, foi nomeado para o cargo de Diretor da Divisão de Produção, permanecendo até 1967. Elfredo assumiu diversos cargos, citando-se, pela ordem cronológica; Presidente do Diretório Regional do PTB do Amapá; Diretor da Divisão de Terras e colonização; Diretor da Divisão de Produção; Presidente. da ARENA em Macapá; Chefe de Pessoal da ECICEL; Secretário executivo da Cooperativa do BNCC em Brasília. No ano de 1985, convidado pelo Governador Jorge Nova da Costa, assumiu a Chefia do Gabinete, permanecendo até o término do governo, sendo mantido no governo do Coronel Boucinha. Exerceu ainda os cargos de Presidente do Conselho Territorial; Superintendente da SENAVA e Representante do Amapá no Instituto de Altos Estudos da Amazônia. Aposentou-se em 1990 e, com 75 anos de idade, exerceu o cargo de Superintendente do SENAR em Macapá, desempenhando um excelente trabalho. É um dos homens ilustres do Estado do Amapá.
Coaracy Barbosa

Fonte desta biografia: Personagens Ilustres do Amapá - Vol 1, de Coaracy Sobreira Barbosa - Imprensa Oficial - 1997





3 comentários:

Paula Baiadori disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Lucas Abrahao disse...

Parabéns pelo Blog.
Vou me esforçar para que a Juventude conheça o trabalho da Associação.
Abraços...

Beth Zhalouth disse...

Olá, Paulo, eu já postei um comentário elogiando a Alcinéa como pessoa, como escritora, e como uma pessoa muito importante para a cultura deste estado, mas não sei se foi publicado. De qualquer forma, um abraço para ela, se ela ler essa mensagem. Bem, parabéns pelo belíssimo blog, Paulo, pessoamiga, quero comunicar que o senhor foi presenteado com um poema no blog O AMOR, A PAZ, O BEM, A FÉ. Espero sua visita, saúde e paz.