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17 de out. de 2007

HOMENAGEM A SÍLVIO LEOPOLDO

ABAIXO, AS ÚLTIMAS FOTOGRAFIAS DO AUTOR NA NOITE DE AUTÓGRAFOS
Fonte das fotos:blog do João Lázaro - www.fina-sintonia.blogspot.com






SÍLVIO LEOPOLDO LIMA COSTA nasceu em Belém (PA) em 25 de fevereiro de 1953. Filho de Hermógenes Costa e Wanda Lima Costa. Fez o curso primário na Escola Paroquial São José e no Grupo Escola Anexo, em Macapá, de março de 1959 a dezembro de 1964. Já o curso ginasial, iniciado no Instituto de Educação do Território do Amapá em 1965 foi concluído no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Sílvio estudou também no Colégio Amapaense, de 1969 a 1971, o curso colegial. É formado em biblioteconomia pela UFPA (1975) e direito (1981). Possui ainda, entre outros, os seguintes cursos: Adestramento para Operação do Sistema de Informação Técnico-Científico, Editoração nos Órgãos Oficiais, Redação Técnico-Científica, Inglês Instrumental, Gerenciamento de Documentação e Informação. Sílvio Leopoldo é autor e co-autor de vários trabalhos científicos, já foi distinguido com medalhas e diplomas de mérito. Poeta e compositor, Sílvio Leopoldo publicou os seguintes livros: Primeiros Poemas (1967); Velas do meu Mar (1970); Lira Ligeira (1976); Era uma Vez num Fundo de Gaveta (1990); Cantares do Bordel (1999); Evocação de Ajuruteua (2007)e tem participação em três antologias poéticas. Dentre as suas atividades musicais, podemos destacar a de finalista do I Festival Universitário de Música e Poesia do Pará (1974); Primeiro e segundo lugar no V Festival da Canção Amapaense (1975). Além disso, algumas composições de sua autoria foram gravadas em disco. A poesia de Sílvio aborda temas sociais, políticos, mas sua tônica fica mesmo por conta do lirismo simples e direto que consegue transmitir através dos seus versos. Sílvio Leopoldo é um dos participantes da Coletânea Amapaense (1988). Residia em Belém, onde faleceu no dia 12/10/2007, logo após ter lançado, três dias antes, seu livro Evocação de Ajuruteua.

POEMAS DE SÍLVIO LEOPOLDO

DOS OLHOS DA MINHA AMADA

Os olhos da minha amada
são sonhos de eterno amante,
são rosários de ternura,
são luzes do meu instante.

O olhar da minha amada
é mensagem de poesia,
de tanto encantar-me, tanto!
Até parece fantasia...

Mas não é não fantasia
as duas estrelas do dia
brilhando em face de fada.

São olhos lindo, serenos,
imensamente serenos!
os olhos da minha amada.


VELA NÚMERO 34

Este poema de agora
não tem sexo
não tem gosto
não tem perfume
e não tem nexo.

Nasceu na estética ternura
de uma madrugada
mas por estranha desventura
não expressa nada.

Poderia falar do orvalho,
do silêncio, das estrelas,
da ventania...
pobre poema meu! só fantasia!

Simplesmente, palavras ao léu
escritas numa folha de papel.

( Lira Ligeira)


TRAÇOS


Tenho em mim um pouco de cada pedra,
um pouco de cada briga,
um pedaço de cada mão.
Sou meus amigos, meus livros,
sou minha rima, teu riso,
sou parte da multidão.

Tenho em mim um pouco de cada reza,
um pouco de cada casa,
um pedaço de cada chão.
Sou minha mágoa, meus sonhos,
sou meu regresso, teu lenço,
sou parte da multidão.

Tenho em mim um pouco de cada noite,
um pouco de cada morte,
um pedaço de cada irmão.
Sou minha paz, tuas tréguas,
sou minha cruz, tuas léguas,
sou parte da multidão.
.......................

FERNANDO CANTO ESCREVEU 
SOBRE SÍLVIO LEOPOLDO

Sílvio Leopoldo e Fernando canto em Belém (anos 80)


"Com a morte de Sílvio Leopoldo o Amapá perde mais um dos seus melhores poetas. A notícia chegou fulminante através do amigo Mário Corrêa em pleno sábado, 13 de outubro, dentro de um supermercado do Laguinho, bairro cantado aos quatro ventos pelo compositor que tinha verdadeira adoração pela Escola de Samba da Nação Negra, a Boêmios do Laguinho.
Eu havia escrito aqui neste espaço que já não achava mais tão difícil falar em morte, sobretudo a de meus amigos, que foram como garças voando "com as penas que Deus lhes deu", no dizer do ladrão de marabaixo lá de Mazagão. Portanto não posso deixar de comentar sobre um dos mais talentosos poetas com quem convivi em Macapá e depois em Belém.
Conheci o Silvio através de Manoel Sobral, em 1971, no III Festival Amapaense da Canção, quando ele conquistou o terceiro lugar com a música "Cantiga", interpretada por Graça Pennafort. Mas Sílvio Leopoldo já tinha uma história: foi o idealizador e realizador do I FAC, em 1968, e bem antes publicara o opúsculo "Primeiras Poesias", aos 14 anos de idade. Precoce como compositor e poeta Sílvio era uma promessa excepcional. Aos 17 publicou "Velas do meu Mar", que teve duas edições. Chegou a estudar no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, e fez o curso de Biblioteconomia na UFPA, onde também iniciou o curso de Direito, que logo abandonou. Em 1975, a pedido do Sobral, fiz os arranjos e acompanhei duas músicas de sua autoria, "Problemática" e "Água Benta", que ganharam o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, no V FAC, em detrimento até da música "Geofobia", de minha autoria e de Jorge Monteiro, que daria início à formação do Grupo Musical Pilão. Nesse ano Sobral foi o Melhor Intérprete.
No decorrer de sua carreira recebeu várias premiações na área da música e da poesia e em 1977 publicou o livro "Lira ligeira", quando morava na cidade de Altamira, no Pará. Figura em algumas antologias e muitas de suas composições foram gravadas por cantores regionais, inclusive por Manoel Sobral e pelo Grupo Pilão, com as músicas "Zanga dos Rios" e "Saga", única que chegamos a fazer em parceria. Em 1990 saiu editado pelo Governo do Estado do Amapá o livro "Era uma Vez Num Fundo de Gaveta", no qual reuniu poemas novos e outros já publicados. Em Belém fui convidado por ele para fazer a apresentação de sua obra no lançamento na biblioteca da Embrapa, onde trabalhava. Houve show do Pedrinho Cavalero e muitos canapés, do jeito que ele gostava.
Na última terça-feira, 09 de outubro ele lançou seu último livro "Evocação de Ajuruteua".
Dos seus poemas destaco "Evocação de Macapá", uma espécie de passeio ao seu tempo de adolescência, e "Acorda João", poema social muito bem elaborado. E é do fundo da gaveta, no poema "Holocausto II, Pesadelo", que o poeta tira os versos: "Todos os meus amigos partiram (...)./ Levaram consigo a terrível dúvida/ E o pálido receio. Levaram consigo a resignação/ Predestinada dos profetas./ Ainda ontem estavam comigo." Depois ele arremata num aniquilamento radical que "Todos os meus amigos partiram.../ Nunca mais os vi, nunca mais. Ouvi dizer que em algum lugar a terra se abriu/ com o sangue quente dos meus amigos./ Ouvi dizer que meus amigos/ Não tiveram nenhuma chance,/ e que na hora inexata da morte/ Ainda falavam da Grécia".
Leva, poeta, a tal resignação predestinada dos profetas, encontrada ao lume da leitura de Alcy, Cordeiro e Álvaro, na rebeldia de Isnard, Raimundevandro e Saulo, no cromatismo de Azarias, Aluísio e Arthur, e de tantos que se foram, como bem disseste, e que choraram pelas suas sinas de "Alimentar esperanças/ Entre as dores e os desenganos".

(Texto publicado no "Jornal do Dia" de 21/10/2007)

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