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30 de jul. de 2012

ZAIDE SOLEDADE - UMA PIONEIRA DA EDUCAÇÃO E AMANTE DA CULTURA


Nota do blog:
A professora Zaide faleceu no dia 5 de agosto de 2015, por volta das 11:00h, no Hospital São Camilo, após 3 semanas de internação com problemas renais e outras complicações. O velório e cerimônias fúnebres ocorreram na Câmara Municipal. Artistas, professores, parentes, amigos, autoridades, dentre as quais o Governador Waldez Góes, foram lá homenageá-la. Ela foi sepultada no dia 07/08/2015, no cemitério N. S. da Conceição, no Centro de Macapá, com todas as honras dos seus amigos, familiares e admiradores. A Banda de Música da Guarda Municipal fez uma bela homenagem à veneranda educadora, que foi uma das incentivadoras da criação dessa banda. Publicaremos a seguir alguns textos sobre a mestra.

Aniversário dos 80 anos da prof. Zaide no Restaurante Prato de Barro


ZAIDE SOLEDADE: (1934-2015).
O AMAPÁ ESTÁ DE LUTO

Texto: Edgar Rodrigues - jornalista e historiador

Zaide Soledade foi uma paraense que adotou, desde cedo, Macapá como sua terra, e dedicou a nós toda a sua vida e seu coração, educando gerações. Ela nasceu em Óbidos-PA, em 31 de julho de 1934. Faleceu hoje, 05 de agosto de 2015, com 81 anos.
Ao chegar pela primeira vez em Macapá, aos 17 anos, Zaide Soledade trouxe na bagagem a vontade de ser alguém na vida, sem grandes pretensões, mas as necessidades do pequeno território a levaram a trilhar outros caminhos que não estavam nos planos, e ela se tornou uma das educadoras mais importantes do Amapá.
Trabalhou inicialmente na Casa Leão do Norte, dos irmãos Zagury, o maior estabelecimento comercial da época na cidade. Em 1958 ingressou na área da educação e cultura do Governo do Território e nunca mais parou. Foi Diretora da Escola de Arte Cândido Portinari, diretora do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Macapá, Ex-coralista do Coral Oscar Santos, conselheira do Conselho Municipal de Educação de Macapá, diretora do Teatro das Bacabeiras, conselheira do Conselho Estadual de Cultura por duas vezes e membro da diretoria da Confraria Tucuju. Zaide se revelou uma autêntica defensora da cultura de nosso Estado.
Sua vida sempre foi assim, cheia de surpresas e oportunidades. Em 1958 inicia o magistério em Tartarugalzinho, numa escola isolada e precária. “A escola era de madeira, coberta com cavaco, tudo era muito pobre, mas foi ali que me apaixonei pela profissão e descobri do que gostava de verdade, que é ensinar”, contou Zaide, para a jornalista Mariléia Maciel, numa entrevista.
Em uma das viagens para Macapá, onde recebia o salário, pago na época pelo Departamento Nacional de Estradas e Rodagens, outra porta se abriu. Passava em frente à antiga Radiofonia do Amapá, que funciona onde hoje é a Biblioteca Elcy Lacerda, e o jornalista Hélio Penafort a chamou, estava no telefone com o governador Pauxi Nunes, que ligava do Rio de Janeiro. “Ele me pediu o nome completo para ser enquadrada no Governo Federal e, por telefone, me tornei funcionária efetiva da União”, relembra.
E Zaide Soledade se apaixonou tanto pela educação pública, que foi estudar, pra aprender e ensinar melhor. Estudou Artes Dramáticas, Educação Física, Letras e Artes, entre outros cursos, inclusive na área de saúde. Foi professora de grandes personalidades atuais do Amapá, ajudando na formação e educação. Mas fora das salas de aula, Zaide exerceu papel importante na sociedade amapaense, foi conselheira de Educação e de Cultura, principal incentivadora para que a Guarda Municipal fosse criada em Macapá, deu nome ao Teatro das Bacabeiras, e foi atriz na primeira novela produzida no Amapá, Mãe do Rio, onde fez o papel de benzedeira.
Militou em favor de causas que considerava justas, como na luta dos educadores. Foi presidente da antiga Associação dos Professores do Amapá (APA), e integrou o Sindicato dos Servidores Públicos em Educação no Amapá (Sinsepeap), Associação Amapaense de Escritores - APES, e o Centro de Folclore e Cultura Popular do Amapá.
Zaide Soledade nos deixou hoje, entre o crepúsculo do dia 5 e a aurora desta quinta-feira, Como falou a colega jornalista Mariléia Maciel: “Perdemos um arquivo vivo da memória do Amapá, do Território ao Estado.”
Nota: O texto acima foi elaborado com informações sobre a professora Zaide, que já tinham sido publicadas antes pela jornalista Mariléia Maciel, por ocasião do aniversário da mestra, em 31 de julho de 2015.



ZAIDE, TE COMPORTA

Texto: Nilson Montoril de Araújo

Esta frase o Professor Munhoz usava com muita frequência quando se reunia o grupo denominado "Família Macalé". Ela podia estar calada, sentadinha, sem fazer absolutamente nada, mas a voz do Tonico Lopes se ouvia mandando que a mesma se comportasse. Era o Munhoz dizer, para que ela o mandasse pra dentro de uma fossa:"Munhoz,vai à m.."Nosso grupo era formado por Nilson Montoril, Rosa Araújo, Zaide Soledade, Socorro Silva e Antônio Munhoz. Recebeu o nome "Família Macalé" a partir de 2006, quando fomos prestigiar o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, na cidade de Vigia e ficamos hospedados num pequeno hotel intitulado "Bom Jesus" e localizado atrás da Igreja centenária do Senhor dos Passos, na frente do burgo. O apelido do proprietário da hospedaria era Macalé. Fomos à Vigia de Nazaré cinco anos seguidos:2006,2007,2008,2009 e 2010.Eu,Rosa,Zaide e Socorro sempre ficamos instalados no Hotel Grão Pará, em Belém. Nos 3 primeiros anos, o Prof. Munhoz hospedou-se na casa de uma irmã, mas, depois passou a ficar conosco. Foram momentos memoráveis e muito divertidos. Estas viagens fortaleceram a amizade sincera que existia entre nos, elevando-a a graus sempre crescentes. Com alguma frequência reuníamos em casa para um gostoso bate-papo noturno. Deveríamos fazê-lo na primeira quinzena de agosto,mas a enfermidade que atingiu a Professora Zaide alterou nossos planos. Quando fui visitá-la, no Hospital São Camilo e São Luiz, dia 22 de julho, encontrei-a muito bem comportada, tomando soro e medicação apropriada contra dor. Ao me ver, ela estampou o alegre sorriso que a caracterizava. Conversamos alegremente no decorrer de duas horas. Não falamos em doença.Ela ria à beça. Na despedida, ela apertou minha mão e me desejou saúde. Sai do hospital com a certeza de que minha preciosa amiga não permaneceria viva por muito tempo. Agora, de onde estiver, a Professora Zaide tem todo o direito de dizer: "Munhoz, te comporta!". A foto que vemos na postagem foi batida por mim, no mês de outubro de 2004,quando vasculhamos os espaços sob as arquibancadas do Sambódromo em busca do acervo do Conselho de Cultura, extinto pelo Governador João Capiberibe em novembro de 1996.Munhoz e Zaide estavam comportados e compenetrados recolhendo a papelada jogada naquele espaço.
Professores Antônio Munhoz e Zaide Soledade
(arquivo do prof. Nilson Montoril)
ZAIDE, NOME ÁRABE PARA UMA CABOCLINHA DE ÓBIDOS.

Texto: Nilson Montoril de Araújo

Entre os árabes, em tempos mais recuados, havia a crença de que as pessoas com nome iniciado com a letra Z poderiam vir a ter vários problemas na vida, mesmo que não buscassem isso para si. O nome Zaide significa "saliente". Não no sentido pejorativo que a palavra ganhou em português. Zaide é gente que possuí um grande coração, tem criatividade e bastante vitalidade. Gosta de privacidade e costuma ter segredos que não divide com ninguém. Também é retentora de personalidade mutável de acordo com as situações. Caracteriza-se por ser trabalhadora, prestativa, desde à infância e sempre pronta para oferecer ajuda ao próximo. Precisa ter cuidado para que seu censo critico não prejudique seus relacionamentos. Tudo pode parecer coincidência, mas nossa amiga Zaide Soledade dos Santos e Silva, que eu preferia chamar "Zaide Soledad de Las Casas" era exatamente assim. Certa vez, ela pediu para que eu pesquisasse sobre a música clássica Zaide. Fiz a pesquisa e lhe passei a seguinte informação: "Zaide é o nome de uma ópera inacabada, escrita por Wolfgang Amadeus Mozart, em 1780. Mozart deixou de lado o projeto da ópera Zaide porque passou a trabalhar em "Idomeneo, Rei de Creta" e nunca mais retomou-o para concluí-lo cenário da ópera é a Turquia. Zaide era escrava do sultão Soliman, que se apaixonou pelo escravo cristão Gomatz e com ele decidiu fugir. O casal não foi longe e acabou sendo capturado pela guarda do sultão. O chefe da guarda, Allazim, penalizado com o sofrimento dos fugitivos clamou perdão ao sultão em nome deles. Os trabalhos de Mozart pararam precisamente neste ponto e a conclusão não ocorreu até os dias atuais. Após a morte de Mozart, sua esposa Constanze encontrou os fragmentos da citada ópera, em 1799.Eles só foram publicados em em 1936. A primeira encenação da opera Zaide só aconteceu em 27 de janeiro de 1866, na cidade de Frankfurt". 
Manoel Bispo, Antônio Munhoz, Maria Alves Sá,
Zaide Soledade e Nilson Montoril
(Foto: acervo de Nilson Montoril)
A foto é do meu acervo ,batida em uma das salas do Conselho de Cultura, em outubro de 2004, onde instalei a presidência após retomar o imóvel. No sentido horário vemos: Antonio Munhoz, Manoel Bispo, Maria Alves de Sá, Zaide Soledade e Nilson Montoril. A nossa amiga Zaide, nascida na cidade de Óbidos, no Estado do Pará era chique.





TEM MAIS UM  ANJO NO CÉU

Alex  Fabiano Santos e Silva

Hoje, depois de 21  dias  de  luta  pela  vida  no  Hospital  São  Camilo, minha  mãe,  Zaide  Soledade  Santos  e Silva,  foi  habitar  o  céu, tornando- se  mais um  anjo  a  nos  proteger.
Obrigado  ao  prefeito  Clecio Luís  e  ao  governador  Waldez  Goes  que  deram  todo  o apoio material para  a  internação  com  conforto  de  minha  mãe.
Obrigado também  aos  empresários  e amigos  Pierre  Alcolumbre e Walter  da Ótica  Visão, amigos  de  primeira  hora  que  deram auxílio  à Família.
Um obrigado especial pelos  empenhos  pessoais  do  Secretário  Municipal  German  Loo Li, e do Secretário  Estadual Teles Jr., que deram  suporte  direto  à família.
Com todo  o  carinho,  agradeço a toda a rede  de  amigos  que  foi ao  HEMOAP doar  sangue para  minha mãe: Advogados, Professores, Policiais e Bombeiros  Militares, Maçonaria, grupo  IAPEN, Galera  do jiu  jitsu, pessoas de  enorme  coração.
Por fim, o meu muito obrigado a todos em nome da minha mãe Zaide, principalmente às famílias que desde o início de tudo estiveram na lida diária com minha mãe, com orações, cuidados pessoais, amor, carinho e dedicação: Família Cavalcante, Família Souza, Família Cruz, Família Nascimento, enfim, todos que de algum modo estiveram conosco nestes 21 dias de internação.
MUITO  OBRIGADO!

Alex  Fabiano Santos e Silva – Filho  da  Professora  Zaide (minha  principal identificação ).




  

Dia 31 de julho é o aniversário da querida professora Zaide Soledade - ela que nasceu em Óbidos - PA em 1934 e chegou ao Amapá com 16 anos. Trabalhou inicialmente na Casa Leão do Norte, dos irmãos Zagury,o maior estabelecimento comercial da época na cidade. Em 1958 ingressou na área da educação e cultura do Governo do Território e nunca mais parou. Foi Diretora da Escola de Arte Cândido Portinari, diretora do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Macapá, Ex-coralista do Coral Oscar Santos, conselheira do Conselho Municipal de Educação de Macapá, diretora do Teatro das Bacabeiras, conselheira do Conselho Estadual de Cultura por duas vezes e membro da diretoria da Confraria Tucuju. Para ela, Vida longa. Zaide Soledade, que é atriz da primeira novela do norte e nordeste feita só com artistas locais e de filmes publicitários, se revelou uma autêntica defensora da cultura de nosso estado (palavras do escritor e professor Amaury Farias).






Este blog tem a honra de prestar, mais uma vez, homenagem a esta mulher ativa, otimista, amante das letras e artes, que sempre incentivou e apoiou os artistas. Que participa ativamente dos principais eventos culturais, religiosos e sociais e cuja presença é esperada, pois ela "abrilhanta" os locais que frequenta.

Veja nesta matéria fotos que registram alguns momentos  da nossa homenageada.



Querida e venerável mestra

Zaide Soledade, nossos parabéns e que Deus a proteja e abençoe agora e sempre.
Receba nossa homenagem carinhosa e cheia de afeto!




Republicamos esta crônica que escrevemos na época da novela Mãe do Rio, mas que expressa nosso carinho e gratidão a essa figura humana tão expressiva.
 

TIA ZAIDE É UM SUCESSO

Texto: Paulo Tarso Barros

Tia Zaide é uma grande surpresa na primeira novela produzida no Amapá. Fiquei feliz pelos comentários elogiosos que ouvi de muitas pessoas sobre o desempenho da professora Zaide Soledade. Para mim não foi nenhuma surpresa. Há muitos anos eu conheço, convivo e admiro a professora. Sempre a papariquei. Faço questão de elogiá-la publicamente: é admiração. Respeito. Gratidão. Ela nunca foi minha professora. Nem por isso eu deixo de respeitá-la e de reconhecer o seu valor. Mas que ninguém se engane com a sensibilidade, belo sorriso e a sua doçura, que se santifica com a idade: ela é brava, e diz o que pensa, embora não saiba ofender ou magoar as pessoas. Mas não se façam de besta com ela. Há registro de que mandou acabar com uma festa cheia de baderna na época em que era professora no interior do Amapá.


Professora Zaide e Manoel Bispo (2009)

Eu faço questão de abraçá-la, beijar seu rosto e seus cabelos brancos. Eu tenho a maior admiração pelos cabelos da mestra, que sabe como poucos apreciar a vida, a Arte e a Cultura. Que está presente em quase todos os eventos culturais. Quando eu não a vejo, geralmente acompanhada do professor Antônio Munhoz, fico meio triste, com a impressão de que aquele acontecimento, aquela festa, não está “legal”.
Com Fernando Canto e Obdias Araújo (fotos acima)
Augusto Oliveira e professor Munhoz (esq) e na fila com Munhoz (dir)
durante lançamento de livro de César Bernardo

Zaide e Munhoz brigam muito, vivem discutindo (mas é tudo fingimento, briguinha de antigos namorados), pois eles não se separam: são almas gêmeas. Vivem telefonando um para o outro. Estão juntos há muitos anos e são dois ícones, duas eminentes personalidades que merecem todas as atenções. São dois patrimônios do Amapá.
Prof. Munhoz com Zaide Soledade
 
Duas vidas dedicadas à educação, à cultura e ao estímulo a todos aqueles que se interessam por nossa história. São dos poucos que compram obras dos artistas locais.


Tia Zaide condecorando a prof. Ângela Nunes
em evento do Conselho Estadual de Cultura

Tia Zaide surpreendeu os telespectadores da novela Mãe do Rio, escrita por Joseli Dias e Ângela Nunes. A mim não surpreendeu, como eu já disse: só me deixou mais orgulhoso e exultante. Quando foi escolhida pela minha professora Ângela Nunes não foi por acaso: Ângela conhece a professora Zaide há muito tempo e sabe do seu potencial, sensibilidade e do talento. Ela parece rejuvenescer quando participa de algum evento cultural. Fica mais luminosa e carismática. Mais linda. É a beleza da maturidade, quando o ser humano traz consigo a sapiência, uma história de vida. Todos nós devemos muito a essas pessoas. Eu devo muito à professora Zaide. Sinto-me um privilegiado por poder receber o seu sorriso, carinho e meiguice. Sou apaixonado por pessoas inteligentes e que emanam otimismo e sabedoria. Elas me fascinam e me fazem bem. Me energizam. Me inspiram. Eu tive muita sorte de ter sido amigo de muitas pessoas mais velhas e mais sábias. Ergo as mãos para os céus e agradeço tudo o que delas recebi e que aos poucos tento repassar aos meus filhos, familiares, amigos e leitores. Só lamento que muitos que se dizem jovens e inteligentes, que se julgam auto-suficientes e soberbos não tiveram a mesma sorte, deixaram de ouvir os mais experientes, não leram os seus livros ou sequer pararam um pouquinho para ouvir o que eles tinham a dizer. Eu deixava de fazer qualquer coisa para conversar com os mais sábios e experientes. Deixava de dormir algumas horas para ler os livros, alguns de páginas amarelas, que pertenciam ao velho André Lobato Martins, cuja biblioteca abasteceu a minha infância. Eu cheguei ao exagero de ler à luz de velas e não me arrependo. Foi quando tomei conhecimento de Humberto de Campos, Rui Barbosa, Emerson, Victor Hugo e os filósofos gregos. Eu só tinha treze anos e vivia perguntando e querendo entender essa gente letrada. Admirava aquelas ilustrações dos autores de cabelos grisalhos e longas barbas brancas a inspirar conhecimento.

Tia Zaide é só uma personagem. A professora Zaide Soledade é uma figura humana. Baixinha, brava e elegante. Atenciosa. Uma pessoa que se preocupa com o próximo, que não esquece dos amigos. Brava ela é, não pensem que é brincadeira: eu a vi várias vezes caminhando pelas laterais do Teatro das Bacabeiras, na época em que era a diretora, pedindo silêncio aos mal-educados que atrapalhavam os espetáculos. Eu a vi brigando com a atriz Sol Pelaes por causa da venda de bombons: é preciso ter cuidado com alimentos para não atrair ratos, baratas e insetos para dentro do teatro. Mas a Sol precisa vender seus bombons. Espetáculo acompanhado daqueles sabores é mais gostoso. Ela briga com o professor Munhoz quando ele exagera um pouco na comida, nos salgadinhos e nas guloseimas. Mas é briga de quem gosta, ama e cuida. Tudo o que ela faz é com amor. Daí o seu sucesso, tanto na vida pessoal como na profissional.
Quase todos os dias ela vai à Biblioteca Elcy Lacerda. Certo dia eu estava na sala da direção quando ela chegou e me disse: “Meu filho, eu queria pedir licença para usar uma mesa e ler este livro”. Eu fiquei comovido com a sua humildade e ao mesmo tempo desconcertado. Ela é uma das “donas” da Biblioteca, pois existe uma sala com seu nome – e outra com o nome do Munhoz. Nós é que deveríamos pedir licença à professora Zaide. Embora aposentada, ela continua a nos dar aulas, verdadeiras lições. Me fez lembrar outra mestra, a professora e poetisa Aracy Miranda de Mont’Alverne, esta já com mais de oitenta anos, a saúde fragilizada, que me disse: a sua maior vontade era arranjar uns alunos e voltar a dar aulas em casa. Eu quase chorei nesse dia, pois Deus me havia concedido o privilégio de estar ali, na sua presença tão iluminada. Ela que certa vez me ligou para me avisar que eu havia esquecido uma agenda em sua casa e que ela vira as fotos da minha família e quis conhecer a minha esposa e filha; ela que, mesmo com dificuldade, também fez questão de pedir uma chapa e votar no meu nome para a presidência da Associação dos Escritores. Como não se comover com gestos assim, cheios de grandiosidade e de calor humano?

Registro estas impressões porque temos que falar de pessoas de bem, de seres humanos que estão aqui na terra cumprindo uma missão. Não vamos passar a nossa vida inteira reclamando, criticando e nos injuriando com a roubalheira nacional e as tragédias do cotidiano. Claro que não iremos nos omitir, mas por enquanto continuemos esta apologia. Não é difícil falar de Zaide nem do Munhoz. Eu vivo brincando com eles e os chamando de noivos - e que esse noivado já está jubilando. Mas o faço com respeito, assim como o professor Nilson Montoril também o faz, pois a vida sem humor não tem a menor graça. E os dois, na verdade, são pessoas bem-humoradas, inteligentes e sensíveis. O professor Munhoz já viajou por muitos lugares e tem amigos espalhados nos quatro cantos do planeta. É nosso maior epistológrafo. Talvez o único. E só escreve a mão, com a sua caligrafia firme. Não usa máquina de escrever ou computador: é um escriba. Sua caixa postal está sempre abarrotada de envelopes. Muita gente já o aconselhou a reunir algumas de suas cartas e publicá-las em livro. Com certeza despertariam as atenções de muitos leitores. Vou falar com a professora Zaide. Quem sabe ela o convença a publicar o livro. Ele tem “medo” da professora Zaide. E nós temos o maior carinho por eles dois. Qualquer dia eu vou escrever a história completa sobre a festa bagunçada que a professora Zaide acabou – e usando um simples terçado. Podem aguardar.

Texto: de Paulo Tarso Barros

2 comentários:

Eu, sem clone disse...

Oh, Zaide! Que imensa alegria e surpresa descobrir esse blog. E quantas homenagens para vocë que é uma grande amiga e merecedora de muito, muito mais! Cheguei aqui através do Porta-Retrato, do J. Lazaro. Estou com meu marido por alguns dias em Berlim, depois iremos à Polonia e voltaremos p a França so dia 17 de 08. So estaremos em Mcp a partir de setembro.
Querida Zaide, na oportunidade, desejo-lhe muitos anos de vida e saude juntamente com sua familia. Mando um abraço para todos, inclusive para o Prof Munhoz, em quem penso muito em minhas viagens. Devoramos os museus aqui, rsrs. Um grande beijo para você, Socorro, Alex, etc.

Anônimo disse...

Caríssimo Paulo de Tarso,
nossa querida Zaide recebeu um texto à altura (não física, é claro) e merecido. Nós, genro, netos e "filha" Ana Izabel concordamos com tudo o que você disse, inclusive quanto ao Munhoz. Desejamos felicidades para todos: Zaide, Socorro, Alex, Munhoz e você.
Forte abraço,
Gregoldo