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2 de set. de 2005

POEMAS DAS MENINAS

UMA MINI ANTOLOGIA DE POEMAS ESCRITOS PELAS NOSSAS ESCRITORAS

Néctar felino, que me embriaga e me entorpece
Nos lábios macios que estremecem.
Ah! Que prazer... Oh boca! A tua boca,
Que me arde em febre,
Me enlouquece,
Me fascina,
Me domina,
Me bebe.
(Laura Rodrigues)

É doce a brisa da noite
Quando se sai ao léu
E os cabelos secam ao vento
E surgem pensamentos egocêntricos.

A paz do corpo cansado
Resguarda-se por sobre o solo
Da terra que foi o que não é mais.
(Ana Godoy)


Eu era mulher
Que adorava brincar com números
Hoje sou alguém que pertence
Ao reino das palavras

Delas retiro o meu alimento
Nelas me sinto realizada
Por elas vivo, morro, retorno
(Sônia Regina)

Escrevo assim no escuro da noite
quando tudo vem do coração.
Escrevo assim no meio da madrugada
apavorada, assustada, angustiada...
com medo dos sentimentos,
medo das emoções

Escrevo assim cabisbaixa... possessa,
com pressa, como quem procura algo num porão.
O que não se acomoda...
o que nos consome...
o que extrapola
até a razão...
(Sânzia Brito)

Ah, se os chatos entendessem
o prazer que dão
os seres silentes
que sorridentes nos olham e passam...

Deixando nas suas trajetórias
um mutismo sensato
e um perfume discreto
para acompanhar os momentos
exatos
em que nos desplantamos do mundo.
(Elíude Viana)

Quase não reconhecia mais
quando aos poucos ficavas
entre as ondas e eu
Tua figura em carne
soprada junto ao vento...
ao sentimento...

Arrastava-te mais e mais
para bem longe do alcance de minha visão
bem dentro de minha memória
(Tereza Farias)

Serra das Pedrarias...
Navio, trovão da calma...


Santana de ricos e nobres,
mineral descoberto por pobres...
negociado por contrato...
por meio século, sem relato...
Como... Comi... Comi...


Serra ensolarada de frio natural,
desejada pela plebe,
a mergulhar nas riquezas de teu brilho,
molhar-se no leite escravo tesouro...
(Lindomar Cunha)

Se o velejar do teu sonho
noutros leitos navegar
lembrarás navegar
lembrarás então tristonho
das ondas que eu sei formar.

No abandono das ondas
no ir e vir, marulhar,
tão sutis serão as fendas
que em teu peito vou talhar.
(Jô Araújo)

Com quase formato
de célula
é que interpreto meu Amapá
com semblante
e braços abertos a nos amparar...

Se te perderes no mapa-múndi
quem vai te encontrar?...

Se nos confins do Brasil
conseguiste um lugar?...
(Rejane de Carvalho Haick)

Se a saudade que sinto
dos teus olhos
me fizer chorar,
quero que as lágrimas
não só lavem a minha alma,
mas que se transformem em andorinhas
e voem rumo à frente da cidade,
onde por certo de encontrarão.
Se elas te encantarem
eu serei feliz.
(Alcinéa Cavalcante)

Os séculos passaram lentamente
e deixaram as lides do trabalho,
as lutas e conquistas
no país de Santa Cruz.
Da força hercúlea do braço do negro,
que trouxe do seu país tanta beleza;
do seu cantar tristonho e conformado
formou-se o alicerce da riqueza.
Hoje não mais existe
a voz autoritária do Sinhô.
Lembranças ficaram na pena de ouro,
na sensualidade da Nega Fulô,
na doce meiguice da escrava Isaura,
na pureza da escrava Anastácia
marcando no tempo seu rastro de luz.
(Aracy de Mont’Alverne)

Para onde foram
nossos olhares e sorrisos
que sensibilizavam
o pálido amanhecer?

Para onde foram
nossos olhares e sorrisos
que comungavam sempre
a união das almas?

Para onde foram?
Fugiram por uma rua distante
e foram bater em porta escura
de estrangeiro
numa terra estranha
(Simei Natércia)

A escuridão é tão completa
Que não me vejo;
Tão corajosa
Que me enfrenta.
E, impetuosa
Subjuga meus pensamentos
Libertando, em seguida,
Todos os sonhos
Que me são caros.
(Marcela Malèamá Sfair)

Lilases pontos transpassam teu rosto
viola,
pandeiro de emoções.
Um samba afinado, um blues
notas gestos refazendo
luas

Na sombra, o perfume
No som, as estórias
No teto, uma luz

Mímica desfazendo-se em cores.
(Vássia Vanessa)

A poesia eleva meus sentimentos,
exalta meu espírito,
acalenta a minha alma.
Gosto de declamar o amor,
de escrever sobre o amor,
de viver o amor.
A poesia é a minha maior paixão,
porém, às vezes, dentro da poesia,
flutuo na razão e naufrago na imaginação.
(Marta Freire)

Gosto da sensação
de nunca estar terminada.
Gosto de abrir e fechar
o encanto de existir.

Gosto de continuar
tentando seu desistir.
(Marinéia Moraes)

Há no amor um gosto de tristeza...
Há no afago um toque de saudade...
Há no futuro um mundo de incertezas...
Há no presente uma fatalidade...
Há no hoje a lembrança do ausente
e no instante, a silhueta de um passado,
que de repente, assim, bem de repente,
mancha, corrói, rompe,
e finalmente... amortalha.
(Graça Viana)

Ó saudade! Corre a cavalo
no meio do gado, espanta os bezerros
das vacas leiteiras, bebe o leite
e come o queijo da vaca molhada
e me dá um a abraço...
(Maria Helena Amoras dos Santos)

Minha dor sufoca o peito,
corre por entre veias,
perde-se no corpo inteiro,
solta-se no ar.
Ninguém me escuta,
ninguém me socorre.
Tudo é silêncio em minha solidão!
(Marylene Franco)

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