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26 de mar. de 2020

SÉRIE NOVOS POETAS DO AMAPÁ - 13 - ANNIE DE CARVALHO



Contatos com a autora:
Annie de Carvalho (Facebook)

E-mail: anniegeografa.ap@hotmail.com


Nota:
Esta série vai prosseguir até que possamos publicar e registrar, neste blog, o maior número possível de novos poetas.
Esclarecemos que aqui não fazemos juízo de valor nem apreciação crítica (apenas a divulgação!), mas são livres  os comentários e opiniões dos nossos leitores e internautas, desde que pertinentes e referentes aos textos -- e não ofensivos, é claro.
O conteúdo, revisão ortográfica e gramatical dos textos são de inteira responsabilidade dos seus autores, bem como o copyright.


                                   Aguarde para breve mais um novo poeta!


                                                    


                               
NA ORLA DO RIO AMAZONAS


e eles saídos do rio da noite
arrastando seu pequeno
barco de sombras...
Movimentando-se em
meio a neblina ausente
somente com a lama
dos dedos;
[e giram a maçaneta dos medos].
Atravessam...



CACHOEIRA DO FIRMINO


Cascatas de pessoas
abrolham hipnotizadas
[por feéricas espumas],
almejando serem engolidas...

O portal místico das rochas
exalam cores que seduzem
quem observa suas fendas,
mas é protegido por suas lendas.

Os corpos encantados esculpem
cada ígneo átomo de suas pedras.
Uma cachoeira sobre-humana
[mascara a fabulosa boca faminta]
do Firmino.



LUA LÍRICA
           
                                                                                      
Lua soprano
dos mais agudos
sentimentos.

Canta-me, diva!
Faz tua ópera doce
operar-me a vida.

Vem! Cheia, nova, crescente,
minguante, branca, bela, constante
e quebra meu piano sedutor.

És Lira e Era.
Musa e mística.
Amada amante.

Canta nua, distante,
namora poetas e bandidos.
Artista boêmia.

Sem máculas.
Sem mágoas.
Estonteante.

Vocaliza, recita-me.
Orquestras-me o amor
com destreza, soberba!
  
         

EM CIMA DA BORBOLETA UMA PLANTA!


É verdade
mas, não importa se acredita
a planta pousa na borboleta.

Matizes de poemas aromatizantes
surgem na linha imaginária que separa
a seiva do dia... como flecha que passa.

Mas eu garanto tudo acaba quando
a parca natureza humana
em vez da flor colhe o espanto.



BRAÇO DE RIO



Vou jogar-me num abraço de rio
e agarrar as gotículas invisíveis
da imensidão, afogar meu clarão
de toda perseguição...
Sufrágio ao naufrágio da desilusão!
E lá nos braços do rio Araguari,
do rio Calçoene, do rio Oiapoque...
Esperarei um índio Waiãpi vim efluir meu juízo
com o júbilo abrigo da escuridão- redenção!

(Impelirei... partir-me- ei
no abraço da anaconda
que abriu a boca do rio.
Abraçarei a brasa de todo
rio até desembocar de mim).

Na nascente vou parir,
vou berrar no rio Jari.
Na força das caudalosas correntes
espalharei meu cerne afluente...
Embaçado e fértil das misuras
que a floresta espalhou nas criaturas.
Assomar no abraço quente de um
mururé e sangrar nas cabeceiras

espalhando meu sumo
expandindo meu bocado,
deixando em teus infinitos braços
todos os meus pedaços.



APOREMA


Tez de mata virgem.
Res. Manancial.
Poente. Profunda.
Primaveril.
Perfume de terra,
silhueta de pedra.
Veludo. Tupi.
Vívida Aporema!
Moça de peito ardente
lábio carnudo canela,
pele de sol nascente,
cabelos de revoada,
olhos de mandala
e Beijos de donzela.
Mulher Menina do imo amor.
Aporema, rio abaixo rema!
É Amazona e guardiã das manhãs,
também é Eva procriando suas liras
com a fúria da beleza ela
copula no cio das estrelas.
É a bonança do bel-prazer.
Seus campos são rebentos
bentos por natureza.





AÇUCENA


Falaram pra Açucena se casar,
mas ela rodou sua saia;
saiu como quem se anima pra passear
deixou o nego abatido de tanto penar.

Atina morena, serena
que sua sina é  rebolar
fazer seu mundo girar
marabaixo até o sol raiar!

Ninguém colhe a flor
que o tempo botou na paixão.
Açucena não nasceu pra se casar
nasceu pra ser canção.




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P R O S A

ENTRE PROMESSAS E PROFECIAS



Era noite de lua cheia. Escondidos à sombra das enormes pedras com as quais iriam erguer as muralhas da Fortaleza de São José de Macapá, os guerreiros de Zumbi espreitavam os guardas nas guaritas. Esperaram os oficiais se recolherem, certificando-se de que tudo estava conforme Zumbi havia lhes dito. Então foram até perto do rio e surpreenderam os guardas com seu jogo de capoeira. Protegidos pelo barulho das ondas do Amazonas quebrando nas pedras, os guerreiros pegaram os cavalos e empreenderam fuga para a liberdade pela mata.
Eram doze pulmões ofegantes que escapavam pelos ares da madrugada feito fantasmas. Resistiam aos açoites guerreavam contra o cativeiro em busca da promessa de seus orixás revelada por Pai Zumbi.
Suor e sangue gotejavam de seus corpos cheios de marcas, porém tinham a força e a garra da Mãe-África.  Logo em seguida avistaram uma estrela vermelha, certamente era sinal segundo Zumbi. O caminho estava certo, mas ainda muito distante e precisavam se apressar.
De repente chegaram a um descampado em meio ao breu absoluto.
- É esse o lugar?
E ouviram o vento. Sentiram tamanha paz, que não duvidaram que estivessem no lugar certo, após tanta penúria.
Eram sombras ofegantes no prado descendo dos cavalos e ouvindo a voz de Ogum brotar da terra:
- Aqui plantem seus filhos!
E desmaiaram de cansaço. Na manhã seguinte acordaram com o barulho das águas correntes de um suntuoso rio. Haviam campos e nuvens, acharam que tinham feito a ponte até Orum porém, logo sentiram as dores das chibatadas pelo corpo e constataram que não haviam morrido.
Caçaram uma capivara e ali mesmo fizeram fogo. Improvisaram um acampamento e no dia seguinte cinco deles saíram anunciando ir salvar outros guerreiros.
         Logo chegaram mulheres e crianças e o mocambo deu origem ao grande quilombo.
Começaram a plantar. Criaram gado, e tudo era dividido entre todos. Batizaram sua terra de São Benedito dos Bois. As coisas iam conforme a jura de Pai Zumbi.
Certa noite, todos estavam reunidos a borda de uma grande fogueira para contar histórias, quando, de súbito, levantou-se um ancião e fez uma profecia:
“... Daqui a cem anos haverá um conflito de terras. Irão querer nos expulsar. A cobiça e a fortuna nos cercarão de poderosos inimigos.”
Após essas palavras ele começou a tremer de corpo inteiro, salivar e a repetir como mantra - “ouçam o que eu digo...”.
Todos ficaram paralisados e fizeram a promessa de que seu tesouro era seu povo, assim nunca perderiam a terra. Lutariam por ela até o fim.
Nesse momento uma nuvem nebulosa formou-se entre eles em meio a forte ventania. Dela surgiu o espectro de Ogum com olhos de veemência e disse:
         “O compromisso que fizemos foi cumprido. A partir de agora vocês terão de continuar tudo isso que até aqui aprenderam. Ergam nosso povo, caminhem, lutem. Para nos contentar criem batuques, enquanto eles ecoarem a terra e tudo que vem dela sempre será do nosso povo. Essa promessa que vocês fizeram agora acaba de selar um pacto entre o quilombo e os ancestrais, se for quebrada, a profecia se cumprirá”. 
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Biografia

Annie de Carvalho é uma poeta e geógrafa de Macapá, cidade banhada pelo Rio Amazonas, com música rica e pulsante, marcada pelos ritmos do batuque e do marabaixo, que se entranham em sua poética.  Possui um jeito tucuju, o olhar amazônico, de quem vê a inspiração como algo brotando da terra.
A autora é associada da ALIEAP (Associação Literária do Estado do Amapá); Associação Amapaense de Escritores – APES; REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras). Premiações: ganhou o "Prêmio Sarau Brasil 2016 Concurso Nacional Para Novos Poetas- Menção Honrosa"; e o "II Concurso Literário Pena & Pergaminho 2016-Contos inéditos". Publicou na Revista eletrônica de Poesia “Mallamargens” Curitiba-PR 2015 e 2016; na Revista Diário- AP 2016; no Jornal literário Fuxico da Universidade Estadual da Feira de Santana na Bahia-2017, e na Revista Internacional de Literatura da União Latina “PHILOS”-2017; participou da exposição poética POESIA AGORA no RJ-2017; participou das Coletâneas: Quinze Dedos de Prosa- AP 2015;  Coletânea Quatro Estações- SP 2016;  XVIII Antologia Poética Vozes de Aço- RJ 2016; III Coletânea Viagem pela Escrita-RJ 2017;  Participou como convidada e palestrante de FLIPELÔ- Feira Literária Internacional do Pelourinho na Bahia 2018;  Participou como convidada do evento internacional 300 Poetas por mudanças no Sesc Boulevard Belm-PA2018. Coletânea “Poemas, poesias e outras rimas”, 2018. Antologia Luis Vaz de Camões e Convidados-Volume II- Portugal 2018. Antologia Graciliano Ramos & Convidados-Maceió 2018, Antologia Quinze dedos de prosa-AP 2019, Coletânea 300 Poemas de Amor- Rio de Janeiro 2019. 
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