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NOVOS ARTIGOS CIENTÍFICOS



A Arte como dispositivo educativo no combate ao preconceito étnico racial
Ivaldo da Silva Sousa¹
RESUMO
Este artigo foi elaborado como resultado de um projeto de intervenção denominado: A Arte como dispositivo educativo no combate ao preconceito étnico racial que foi desenvolvido com os alunos da escola Estadual Vila Nova - Zona rural  de Macapá, tivemos como objetivo principal oportunizar  aos alunos a (des)construção de teorias racistas por meio de produções de arte. Foi uma pesquisa qualitativa, como técnicas  de coleta de dados foi usado o registro em  diário  de bordo que teve  a função de garantir o diálogo intrapessoal, registro fotográfico, entrevistas, aplicação de questionários e roda de conversa. Como resultados pudemos observar de perto o quanto nossos alunos desconheciam suas origens históricas, suas raízes das ancestralidades, muitos são negros, porém não se aceitavam e continuavam reproduzindo muito mais o preconceito.
Palavras-chave: educação; subjetividade; igualdade; preconceito étnico racial.

RESUMEN:
Este artículo fue preparado como resultado de un proyecto de intervención llamado: El arte como un dispositivo educativo en la lucha contra los prejuicios étnicos raciales que se desarrolló con los estudiantes de la escuela estatal Vila Nova - área rural de Macapá, teníamos como objetivo principal proporcionar a los estudiantes (des) la construcción de teorías racistas a través de producciones de arte. Fue una investigación cualitativa, como técnicas de recolección de datos, se utilizó el libro de registro que tenía la función de garantizar el diálogo interpersonal, el registro fotográfico, las entrevistas, la aplicación de cuestionarios y rueda de conversación Como resultado, pudimos observar de cerca cómo nuestros estudiantes desconocían sus orígenes históricos, sus raíces ancestrales, muchos son negros, pero no se aceptaron y continuaron reproduciendo prejuicios mucho más.

Palabras clave: educación; subjetividad; la igualdad; prejuicio étnico racial.









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¹ Doutor em Ciências da Educação, Mestre em Ciência da Educação, Mestrando  em Planejamento e Políticas Públicas - ProfissionalMPPPP(Universidade Estadual do Ceará) Pós-Graduado em Psicopedagogia, Especialista em Educação, Pós-Graduado em Metodologia do Ensino de Arte, Pós-Graduação em História e Literatura Afrodescendente, Graduado em Artes Plásticas, Graduando em História, Parecerista da Revista Científica da Universidade Federal do Amapá( UNIFAP), Consultor em Cultura e Artesanato pelo SEBRAE-AP. Artigos Científicos publicados na Revista Científica da Universidade Federal do Amapá( UNIFAP). Autor de vários livros.

Introdução
Sabemos que através da educação podemos vencer as barreiras do preconceito racial e as discriminações que o povo negro sofre há muitas décadas, precisamos começar imediatamente uma batalha de reeducação e temos que acreditar que é possível sim através da educação fazer as mudanças e alcançar a igualdade e minimizar os atos de discriminação racial na escola. Sabemos que essa tem sido uma trajetória difícil, porém possível se acreditarmos na igualdade, na justiça e no amor que deve mover os homens, mas, principalmente se acreditarmos todos e cada um, indistintamente, no o seu potencial.
Durante toda a escravidão e até mesmo no seu final, o estado e a sociedade constituiu uma imensa dívida histórica em relação às populações negras, obriga-nos a enxergar que não é mais possível que continuemos omissos diante do preconceito, dos estereótipos, e das várias formas de discriminação que ao longo da história, vergonhosamente a população negra vem sofrendo. Portanto, cabe a nós, enquanto educadores, desenvolvermos na escola atividades que contribuam para promover a inclusão social e a igualdade racial, não apenas em obediência à Lei 10.639/03 ¹, mas como tentativa de reparar tamanha crueldade com nossos irmãos negros.
Dessa forma acreditamos que o ponto de partida é a promoção de muitos debates com informações científicas, históricas e reflexões para a construção de novos conhecimentos sobre o que foi nos repassados aos longos dos anos e de uma forma geral venha diminuir as desigualdades raciais e mais especificamente, a fim de que oportunize o negro a construir sua própria identidade, suas subjetividades, assumindo-se e valorizando-se enquanto grupo étnico racial.
O projeto apresenta-se como uma proposta de intervenção que toma como base a aplicabilidade da lei 10.639/03, onde serão  desenvolvidas fundamentações teóricas  sobre as teorias do preconceito e a discriminação étnico racial, além disso será discutido questões de igualdade étnico racial em relação a algumas teorias religiosas e científicas, e logo em seguida foi realizado produções de artes relacionadas  com o problema principal do projeto: A Arte como dispositivo educativo no combate ao preconceito étnico racial em sala de aula, apresentando-se como uma possibilidade de reflexão e expressão através da arte e que ao mesmo tempo possa construir as subjetividades dos envolvidos na intervenção e ainda podendo combater o preconceito e a discriminação em sala de aula usando-a como meio metodológico, buscando propor para os alunos  reflexões sobre a igualdade entre os grupos étnicos raciais oportunizando uma  consciência de mudanças  e transformação na maneira de pensar e agir , e ainda todas as intervenções ajudaram na construção das subjetividades dos alunos, buscando cada vez mais  as perspectivas de igualdade racial nos relacionamentos do dia-a-dia na escola, e todos os alunos terão preconceito, igualdade, grupos étnicos raciais para fundamentá-los em suas  produções artísticas.
A arte se mostra para nós um meio de reflexão e combate ao preconceito étnico racial, onde acreditamos ser uma ferramenta de construção de conhecimento que:
Toda arte situa as suas produções na intersecção desses dois campos: o cognitivo e o sensorial. Porque toda obra parte de uma emoção e/ ou de uma ideia: na sua direção imanente, o desenvolvimento lógico de uma ideia conduz ao conhecimento e a exploração pura e simples de uma emoção produz um prazer. Mas esses dados, ao se cruzarem no texto ou no espirito, permutam e prolongam seus efeitos: a aquisição de um conhecimento desperta um prazer; a provação de um prazer proporciona um conhecimento­­ – tanto na arte quanto no cotidiano. (LYRA, 2011, p.27)
E é assim que acreditamos que a arte pode e deve ajudar na construção do conhecimento com reflexões críticas e construtivas a partir de um problema social, e ainda que possa unificar o conhecimento coma as produções artísticas de forma prazerosa que a arte pode nos oportunizar.
1. Referencial Teórico
Acreditamos no potencial da arte enquanto conhecimento a ser construído, linguagem a ser experimentada e fruída, expressão a ser internalizada e produzida e refletida. Levando nosso aluno a construir, experimentar, externalizar e refletir, estaremos considerando a arte como área de conhecimento, com características únicas e imprescindíveis ao desenvolvimento do ser humano. Um ser dotado de uma totalidade – de emoção e razão, de afetividade e cognição, de intuição e racionalidade – e de uma subjetividade, que não podem ser ignoradas no processo de ensino e aprendizagem da arte, que tanto busca quebras de dicotomias. Assim acreditamos que a arte pode e deve ser um caminho para a busca da construção do conhecimento e intrinsicamente ligando-as na em uma busca de conscientização e tornando a arte um carro chefe para o combate ao preconceito étnico racial em sala de aula, pois sabemos que a arte é capaz de desenvolver e construir o conhecimento,
Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada. (BARBOSA, 2003, p.18)
Para Ferreira(2001), a arte pode ser uma ferramenta metodológica para alcançar nossos objetivos propostos, por isso concordamos e temos certeza que este é um caminho a ser explorado para se buscar a construção do conhecimento e reflexão através das produções artísticas, Ferreira (2001, p.32) segue dizendo:
As artes fornecem um dos mais potentes sistemas simbólicos das culturas e auxiliam os alunos a criar formas únicas de pensamento. Em contato com as artes e ao realizarem atividades artísticas, os alunos aprendem muito mais do que pretendemos, extrapolam o que poderiam aprender no campo específico das artes. (Ferreira, 2001, p.32)
Queremos aqui destacar a grande importância de usar a arte para a construção do conhecimento, pois acreditamos no potencial de abrangência que ela pode alcançar e ainda  “poderíamos concluir com a reafirmação  de que ciência, filosofia e arte  se identificam  em essência como formas culturais de conhecimento que tem em comum o mesmo objeto- o ser humano” (LYRA, 2011, p.38) vejam que o autor ainda nos mostra um quadro sobre a comparação de abrangência da  ciência, filosofia e da arte.
FORMAS DE CONHECIMENTO
PRECISÃO
ABRANGÊNCIA
CIÊNCIA
10
1
FILOSOFIA
5
5
ARTE
1
10
                                    LYRA, 2011, p.39
Assim acreditamos que a arte é uma grande ferramenta e com grande abrangência em comparação com as outras ciências expostas acima, e ainda adotaremos para melhor compreensão do objeto de estudo as teorias relacionadas as construções das subjetividades, pois acreditamos que em nossas intervenções afetamos de forma positiva a construção das subjetivações dos alunos, pois
A subjetividade, portanto, é um conjunto de condições que perfaz por sujeito, que o produz; a identidade, é a institucionalização de uma forma de acordo com modelos estereotipados. A sociedade diz que devemos ter uma identidade estável e dá padrões como formas de homogeneizar o cotidiano. (ANDRÉ, 2008, p. 64).
Por isso é importante ressaltarmos a construção das subjetividades que são construídas diariamente vejamos,
Os processos de subjetivação acontecem por meios de fabricações, modelações, criações em trajetórias as mais variadas e incalculáveis e a subjetividade é tida como uma produção tanto de instâncias individuais , quanto das instâncias coletivas e institucionais, o que afirma uma pluralidade(ANDRÉ, 2008 , p. 65)
Concordamos com as ideias que nos falam sobre
O desejo permanente de discutir com educadores a temática racial não significa que eu entenda que os prejuízos da população negra se dão unicamente no espaço escolar, tampouco que eu pense que os profissionais da educação são os únicos responsáveis pela disseminação do racismo na sociedade. Ele se deve ao fato de perceber o professor como um forte aliado para formar cidadãos livres de sentimentos de racismo. (CAVALLEIRO,2001 p.141
Este projeto pretendeu fazer as provocações para reflexões entre os alunos, pois nem sempre estes temas são discutidos pelos educadores em sala de aula, veja que
Geralmente quando os educadores se deparam com situações em que alunos realizam manifestações preconceituosas com alguns coleguinhas de classe, nesse momento o educador fica sem saber o que fazer e, às vezes, acaba ignorando e não tomando iniciativa para combater o preconceito de forma efetiva para contribuir com a formação intelectual destes alunos.(SOUSA,2014, p. 35)
2. Metodologia da Pesquisa

O projeto de intervenção denominado: A Arte como dispositivo educativo no combate ao preconceito étnico racial foi produzido dentro desta temática a produção e declamação de poesias, exposição de filmes, produção de escultura, teatro, expressão corporal, desenho e pintura e que culminou com uma exposição e socialização das produções artísticas, este projeto foi desenvolvido na escola Estadual Vila Nova - Zona rural  de Macapá nos dias 07,08 e 09 de outubro de 2015.
O projeto de intervenção foi desenvolvido em uma turma do 1ºano do Ensino Médiocom 20alunos, em três momentos  o 1º Momento foi feito uma aula expositiva-dialogada com a  Fundamentação teórica sobre as teorias do preconceito e a discriminação étnico racial, foi discutido questões de igualdade étnico racial em relação a algumas teorias históricas, antropológicas, religiosas e científicas, exposição do filme como: Quase deuses, 12 Anos de Escravidão, O grande Desafio.No 2º Momento tivemos a produção de desenhos e pinturas, construção de poesias, produção de escultura, expressão corporal todos relacionados ao tema deste projeto. Quanto ao 3º Momento houve uma roda de conversa com a socialização das produções, declamação de poesias, exposição das produções.O desenvolvimento do projeto de intervenção teve um total de aproximadamente 20h.
Foi uma pesquisa qualitativa onde foi adotado técnicas na coleta de dados para a construção do relatório final, foi feito os registros de nossas observações sobre o interesse nas produções, o relacionamento da temática com as produções, no decorrer de cada Momento e ainda como técnicas  de coleta de dados foi usado o registro em  diário  de bordo que teve  a função de garantir o diálogo intrapessoal, registro fotográfico, análise da roda de conversa, foram registrados fatos ocorridos e sentimentos inerentes a esses acontecimentos, como dificuldades, facilidades, dúvidas, surpresas, conquistas, entre outros e ainda no final foi aplicado a construção de texto dissertativo de cada participante e um questionário nos quais também serviram para a análise e construção deste relatório final.


3. Análise e Discussão dos Resultados

3.1 A desconstrução das teorias racistas

1° Momento fundamentação teórica para os alunos

No dia 07 de outubro de 20015 começamos nossa intervenção com as  fundamentações teóricas  falando sobre o histórico das teorias racistas como por exemplo a EUGENIA² onde  foi mostrado que seguindo a publicação da "Origem das Espécies", o primo de Darwin, Francis Galton,(inglês) aplicou as ideias de Darwin à sociedade, de forma a promover o conceito de "melhorias hereditárias". Em 1883, depois da morte de Darwin, Galton começou a chamar a sua filosofia social de Eugenia. No século XX, movimentos de eugenia ganharam popularidade em vários países e foram associados a programas de controle de reprodução tais como leis de esterilização compulsória. Tais movimentos acabaram sendo estigmatizados após serem usados na retórica da Alemanha Nazista em suas metas de alcançar "pureza" racial. Ainda neste momento com as aulas expositivas falamos sobre o mito da  “democracia racial no Brasil”, das políticas de embranquecimento, falávamos dos estereótipos de beleza construídos com base na beleza europeia, das reproduções do preconceito na televisão e nas telenovelas, e ainda das manifestações preconceituosas de forma indireta na família, e com as várias “brincadeiras pejorativas” e depreciativas devido a cor da pele. Nas exposições feitas na busca pela igualdade ainda pegamos algumas referências religiosas de Kardec, da Bíblia sagrada e do espiritismo.
Realizamos através das informações da paleontologia que nos remete nossa origem humana apenas de um local chamado África, Sousa  em seus levantamentos bibliográficos nos diz que “Estamos fazendo relação com eventos científicos publicados em épocas diferentes e em todas existem informações em comum: a África sempre aparece como referência da origem da vida humana.(SOUSA,2014,P. 42).Ainda fizemos referências de teorias e conceitos da biologia em se tratando de informações do DNA, onde:



_________________________
² O movimento eugenics (movimento de eugenia) que no final do século XIX e início do século XX , aparece com o objetivo de manter uma raça pura e as pessoas que não eram  de cor branca eram  consideradas inferiores e  vítimas de preconceitos, este movimento esteve no Brasil.

A genética ofereceu um novo caminho para se estudar a história humana: o DNA, ou, mais precisamente, o cromossomo masculino (o “Y”), e a mitocôndria, a parte da célula que responde pela produção de energia. Como ambos não sofrem a mistura de genes do pai e da mãe durante a fecundação, as mutações que apresentam servem como verdadeiros “códigos de identificação” dos diversos povos. Ao migrar para outro ambiente, um povo passa a acumular em seu código genético mutações diferentes daquelas pessoas que permaneceram no mesmo local. Depois de alguns milhares de anos, os migrantes dão origem a novas populações. Os geneticistas concluíram que a humanidade nasceu na África porque em nenhum outro continente há tanta diversidade genética. Já os europeus são os caçulas: têm “apenas” 40 mil anos de idade, ante 80 mil dos africanos e 50 mil dos asiáticos (Revista Planeta, edição 423, Dezembro/2007)

Já no segundo turno aproveitamos para assistir ao filme “O Grande Desafio”, onde buscamos despertar o potencial de cada aluno em suas conquistas pessoais, e na mesma temática foi exposto também o filme “Quase Deuses”, encerrando assim o Primeiro Momento.
Todas as informações contidas neste 1º momento foram recebidas pelos alunos de forma inusitada, pois os alunos demonstraram desconhecer muitas das informações sobre nossa intervenção teórica. No início da aula expositiva perguntamos para a turma quantos ali eram negros, logo apenas dois se identificaram, porém ao final das exposições teóricas refizemos a mesma pergunta e dessa vez  foi unanime todos se identificaram como sendo pertencentes ao grupo étnico racial afro descendentes, assim acreditamos que tivemos sucesso na primeira etapa, pois todos passaram a perceber suas  origens e reforçando assim sua autoestima e construindo suas subjetividades de forma positiva, pois para Gonzáles Rey a subjetividade é definida como “A organização dos processos de sentido e de significação que aparecem e se organizam de diferentes formas e em diferentes níveis no sujeito e na personalidade, (GONZALES REY,1999,p.108).

Alguns alunos ainda nessa etapa usaram de suas expressões verbais para expor um pouco das situações que reforçam o preconceito principalmente em suas famílias vejam a fala de um aluno: “Só agora professor que veja o quanto somos preconceituosos, lá em casa todos fazem brincadeiras com nosso irmão , e agora sei o quanto  é prejudicial estas brincadeiras de apelidar as pessoas e a única diferença é a quantidade de melanina no corpo”. Todas nossas informações teóricas serviram para a construção de conhecimento dos alunos os quais nas próximas etapas deverão expressarem-se através da arte e assim teremos uma forma de desconstruir todas as formas de preconceito étnico racial que a sociedade vem construindo aos longos doa anos. E ainda tivemos a oportunidade de trabalhar a autoestima do aluno afro descendente, pois,
A autoestima determina e direciona os pensamentos, emoções e comportamentos das pessoas. Ela começa a ser desenvolvida desde o nascimento, através da relação com os pais e com o mundo a sua volta. Diretamente o nível de autoestima que uma pessoa manifesta influencia tudo em sua vida e suas relações são afetadas diretamente. (ACAMPORA,2013, p.18)




3.2  Expressão através da Arte
2º Momento produção de arte

No dia 08 de outubro de 2015 prosseguindo com nossa intervenção, onde nesta etapa foi desenvolvida as produção de arte, onde os alunos buscaram se expressar através das várias manifestações. Com a simplicidade dos desenhos podemos ilustrar aqui uma das expressões onde segundo as próprias palavras do aluno “eu quis mostrar uma escola sem preconceito onde todos estão de mãos dadas independentes de cor, pois hoje já posso dizer que todos  temos os mesmos direitos e não podemos discriminar ninguém”. Vejam que o mais importante aqui não é o resultado estético das produções e sim o caminho percorrido até as imagens, pois para tais produções precisou-se de informações, onde podemos perceber na fala do aluno que o mesmo agora já possui informação teórica para comentar suas expressões artísticas. Nos desenhos aparecem  uma forma de mão com as palavras : paz, amor, felicidade, esperança, vida e somos todos iguais, podemos dizer que nossa intervenção surte efeito quando nossas observações nos mostram que os alunos começam a construir suas idéias e seus conhecimentos e a aprendizagem se apresentam nas atividades práticas, pois Becker nos fala que “a aprendizagem é, por excelência, construção; ação e tomada de consciência  da coordenação das ações”(BECKER,2001,p.24).
Os materiais para produção dos objetos escultóricos que os alunos usaram adquiriram nova expressividade visual na composição dos alunos. O que podemos observar nas imagens dos alunos a ressignificação que esses materiais ganharam.Durante nossa intervenção os alunos produziram também objetos escultóricos, onde após minuciosa explicação todos produziram seus objetos escultóricos com a temática sobre expressão contra o preconceito e a discriminação étnico racial, os objetos escultóricos passam agora expressar imagens sobre a ideia histórica do negro em nossa sociedade. As imagens que foram produzidas permitem aos criadores e aos observadores, questionarem, analisarem, modifiquem refletirem sobre seus pensamentos e suas posturas frente ao preconceito racial.
Outro desenho  aparece  uma forma de mão com as palavras : paz, amor, felicidade, esperança ,vida e somos todos iguais  , podemos dizer que nossa intervenção surte efeito quando nossas observações nos mostram que os alunos começam a construir suas ideias e seus conhecimentos e a aprendizagem se apresentam nas atividades práticas, pois Becker nos fala que “a aprendizagem é, por excelência, construção; ação e tomada de consciência  da coordenação das ações”(BECKER,2001,p.24).
Observamos que as imagens representadas pelos alunos em seus objetos escultóricos refletem o conhecimento que já trazem de suas vidas cotidianas das manifestações de preconceito na vida do dia-a-dia as quais vem sendo construído as subjetividades das pessoas em seu meio social.
Neste sentido Martins e Tourinho (2012, p.11) dizem:

Não cabe mais discutir o fenômeno das imagens sem levar em consideração a complexidade das relações que elas articulam com outras instâncias de interação, comunicação, manifestação. Não cabe discuti-lo, principalmente, sem levar em conta a influência e o impacto que as imagens exercem sobre a identidade, a subjetividade, ou seja, sobre a vida das pessoas.

Os alunos envolvidos na intervenção ainda produziram poesias em formato de soneto e com a temática sobre a beleza de ser negro, optamos pelas poesias pois sabemos da capacidade que a literatura tem em transmitir mensagens,

Dentre as artes, a que se apresenta com maior capacidade de abrangência do universo é a literatura. Porque, apesar da limitação nacionalista imposta aos e pelos idiomas, a palavra constitui a única linguagem capaz de abordar, com a mesma eficácia, qualquer problema. Nenhuma outra linguagem artística apresenta o alcance da palavra. (LYRA,2011, p.33)

Vejamos alguns exemplos:



Figura- Foto poesias. (Fonte: Ivaldo Sousa)    Figura -Foto poesias. (Fonte: Ivaldo Sousa)




Figura - Foto poesias. (Ivaldo Sousa)




F

3° Momento Socialização das produções

Dia 09 de outubro de 2015 na Escola Vila Nova a partir das 09h00min horas se deu o 3º momento do projeto de intervenção educacional. Neste dia a organização das cadeiras foi feitas em semicírculo, neste dia foi feito uma exposição de todas as produções feitas em nossa intervenção, onde os alunos tiveram a oportunidade de internalizar seus comentários sobre cada produção apresentada. Começamos com as declamações das poesias, onde cada aluno usou de sua melhor maneira de declamar sua poesia seguindo de aplausos dos demais. Seguido, realizamos as exposições de desenhos com comentários de seus autores, seguem os comentários:
“...esse desenho aqui eu quis representar a igualdade na escola, onde todos possam andar de mãos dadas” (Fala de um aluno referindo-se ao seu desenho) “Aqui nesse, eu representei o negro inteligente e capaz de consegui o que quiser.!” (Fala de um aluno referindo-se ao seu desenho).Os alunos também fizeram a exposição de seus objetos escultóricos , onde cada um também falou um pouco de  sua obra, mostrando assim que nossos objetivos  estavam a cada dia se concretizando .“minha obra eu quis representar uma família ,onde existe pessoas de todas as cores e mesmo assim desenvolvem o preconceito.” (Fala de um aluno referindo-se a sua escultura).



Figura- Foto escultura. (Fonte: Ivaldo Sousa)


Permanecendo ainda em roda de conversa abrimos um momento para conversar sobre as etapas da intervenção, e muitos alunos comentaram o filme que foi exposto, digo, “O Grande Desafio”:“ em relação ao filme  vejo que  o grande desafio hoje é que devemos lutar para que não venhamos a sofrer preconceito e nem racismo na nossa vida, porque temos o mesmo direito, a mesma capacidade e o mesmo potencial” (Fala de um aluno referindo-se ao filme O Grande Desafio).“Professor, confesso que antes dessas informações eu mesmo era preconceituosa e sempre gostava de fazer brincadeira  como apelidar meus irmão lá em casa, agora eu sei que devemos combater isso”. (Fala de um aluno referindo-se ao tema do projeto). “Eu nunca tinha essas informações que o senhor ,nos repassou, hoje já vejo diferente as coisas” (Fala de um aluno referindo-se ao tema do projeto).Encerramos nossa roda de conversa com a aplicação de um questionário, onde os educandos expuseram seus pensamentos sobre o assunto e  foi uma forma de avaliarmos o aprendizado dos educandos, pois utilizamos várias formas para a construção do conhecimento .
E também oferecendo a eles a oportunidade de trocar de experiências de realidades entre eles (momento de socialização das ideias).
A aprendizagem nunca acontece na ausência de corpos, emo­ções, lugar, tempo, som, imagem, auto experiência, história. Sempre se desvia através da memória, dos esquecimentos, o desejo, o medo, o prazer, a surpresa, a reescritura. Porque a aprendizagem sempre acontece em relação, seus rodeios nos levam até e, às vezes, através dos limites do hábito, o reconhe­cimento e as identidades socialmente construídas que habi­tamos. A aprendizagem nos leva até e através das fronteiras entre nós e os outros e através do lugar da cultura e o tempo da história (ELLSWORTH, 2005, p. 53).
Retornemos aos questionários que foram aplicados aos alunos no final de nossa roda de conversa, pois foram feitas perguntas abertas e fechadas, iremos colocar aqui algumas perguntas do questionário e transcreveremos as respostas assim como foram respondidas:
1-Após as explicações sobre as teorias do preconceito e discriminação étnico racial você acredita que foi possível construir o conhecimento sobre o tema?
R: “Sim, abre a mente da pessoa e nos torna mais sensíveis e pensar antes de tomar qualquer decisão.”
“ Sim, pois na turma serviu muito, tanto é que debatemos esse assunto fora da escola.”
“ tinha muita coisa que eu não sabia, mas depois que eu aprendi vou respeitar, falar de outro jeito com as pessoas”
“ eu aprendi que não importa a cor ou a religião e sim o nosso caráter e para Deus somos todos iguais”.
2-A partir da intervenção como você vê as pessoas?
R- “ posso dizer que vejo as pessoas agora de forma respeitosa”
“eu vejo que todas são iguais só muda a cor devido a melanina”
“ igual a mim”
“aprendi que não se julga pela aparência”
“eu aprendi que todos somos negros”
3-Com base nas explicações você já desenvolveu preconceito, mesmo que indiretamente?
“ sim, mas não sabia que tirar brincadeira ofenderia a outra pessoa”
“sim, mas foi sem vontade, foi espontâneo força de hábito. Que deve mudar”
“sim, mas falei pensei que não ia ofender”

Na pergunta anterior todos disseram que já desenvolveram o preconceito, alguns tentam justificar que não sabiam que ofendia e outros foi de forma espontânea, mostrando que o preconceito se naturaliza na sociedade e acaba sendo visto de forma natural, se manifestando espontaneamente e naturalmente. Em suma com as análises dos questionários pudemos constatar que o preconceito étnico racial sempre foi desenvolvidos por muitos alunos  ,mesmo que de forma indireta como na fala do próprio aluno “ eu sempre apelidava mas pensei que não ia ofender”, observe que as brincadeiras sempre envolvem as questões discriminatórias e reforçam o preconceito , o que pode afetar a construção cognitiva das subjetividades do ser , é importante ressaltar que após esta intervenção aconteceu um repensar de todas as ações diárias desde o lar até a escola, onde demonstrou que os alunos envolvidos passaram a olhar de forma diferente ,agindo de forma diferente e até mesmo combatendo o preconceito étnico racial, por isso acreditamos que a intervenção alcançou seu objetivo principal na formação e na construção de conhecimento dos alunos envolvidos.
Considerações:
Pudemos observar de perto o quanto nossos alunos desconheciam suas origens históricas, suas raízes das ancestralidades, muitos são negros, porém não se aceitavam e continuavam reproduzido muito mais preconceito, mas com as informações que  apresentamos durante a intervenção, pudemos observar que os alunos já começaram a quebra dos paradigmas construídos culturalmente ao longo de décadas, ficamos felizes em perceber que aquele aluno que desconhecia seu próprio passado histórico, passou a ver o outro e a se ver de forma diferente, e o mais importante agora aquele aluno que desenvolvia manifestações preconceituosa apresenta-se como um combatedor do preconceito na escola e em suas casas.
Acreditamos que em todas as disciplinas é possível conscientizar e construir conhecimento que venham a combater o preconceito étnico racial na escola, e foi com este pensamento que usamos como ferramenta pedagógica a arte como meio de transformar cidadão capazes de combater qualquer tipo de preconceito, vejam que através da arte foi possível desenvolver muitas discursões , e ainda puderam se expressar de diversas formas artísticas, confirmando assim que somos capazes de construir uma educação igualitária e desprovida de manifestações preconceituosas e ainda poder elevar a autoestima do aluno levando-os a acreditar em seus potenciais e que são capazes de conseguir chegar nos mais diferenciados níveis de conhecimento.
Aqui quando usamos a Arte como dispositivo educativo no combate ao preconceito étnico racial foi possível  intervir na construção da  autoestima e na construção das subjetividades  do aluno, isso de forma positiva , trabalhamos também a desconstrução dos valores e de conceitos que a sociedade sempre reproduziu e de uma forma bem dinâmica , prática e simples , assim é possível atestar que se houver interesse somos capazes de mudar a história e recontar a trajetória de um povo de forma positiva e igualitária, acreditamos que a educação é o caminho mais fácil para se construir pensamentos e mudar as ações , oportunizando assim uma educação igualitária comprometida com a formação de todos os aspectos do ser humano, inclusive os aspectos psicológicos e subjetivos que somos construídos diariamente na sociedade  e precisamos dar atenção para estas formações, só assim seremos capazes de construir novas gerações com sentimentos de igualdade entre os seres e excluindo para sempre o preconceito étnico racial.

Referências
ANDRÉ, Maria da Consolação. O ser negro –A construção de subjetividades em afro-brasileiros. Brasília: LGE Editora,2008.
ACAMPORA, Beatriz. Autoestima: Práticas para transformar pessoas. Rio de Janeiro: Wak Editora,2013.
BARBOSA, A. M. (Org.) Inquietações e mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2003. 184p.
BECKER, Fernando. Educação e Construção do Conhecimento. Porto Alegre.Artimed,2001.
BRASIL, Constituição Federal (1988).
BRASIL, LEI 11.645/2008, MEC.
CAVALLEIRO, Eliane (org.). Racismo e antirracismo na educação: repensando nossa escola. São Paulo: Selo Negro, 2001.
FERREIRA, Sueli (Org) O Ensino das Artes: Construindo Caminhos. Campinas: Papirus, 2001, 224p.
GONZÁLEZ REY, FERNANDO (Org.) Subjetividade, Complexidade e Pesquisa em Psicologia. São Paulo, Thomson,2005.
MARTINS, Raimundo; TOURINHO, Irene. Cultura das imagens. Santa Maria: UFSM, 2012.
SOUSA, Ivaldo da Silva. Relações Étnico-Raciais em sala de aula: Preconceito invisível, porém concreto. Pará de Minas, MG Virtual Books,2014.
SOUSA, Ivaldo da Silva. Preconceito e Discriminação Racial: Abordagens Reflexivas de algumas teorias religiosas e científicas. Pará de Minas, MG, Virtual Books,2014.


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