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17 de ago. de 2009

OBDIAS ARAÚJO, UM POETA IRREVERENTE E CHEIO DE TALENTO




RECEITA DE BARDO



Poeta é feito de tudo
da palavra do silêncio
do absconso do absurdo
do além-do-além das estrelas
vem o brilho do poeta.

Poeta é feito do nada
que o nada também é tudo
e no peito do poeta
se encontra facilmente
o tudo e o nada jungidos.

E se é feito de sombra
de ninho de marimbondo
do balir dos cabritinhos
do estrugir dos vulcões
é que peito de poeta
(coração de mãe que é)
abriga bem a cigarra
metralhadora trombeta
e palavras semeadas
por ceifeiro descuidado
no coração dos mortais.



Obdias declamando no Bar do Abreu (anos 80)
Poeta Obdias Araújo na Biblioteca Pública Estadual Elcy Lacerda
 em outubro de 2013 (Foto: Paulo Tarso Barros)






UTROS POEMAS DE OBDIAS ARAÚJO


Nasci e cresci
Às tuas margens.

Mesmo hoje
Teu nome evoca
A trilogia de minha
Juventude

:Ar
Mar
Zonas...
oOo

AUTOBIOGRAFIA


* * *

Quando penso

em você
faço careta.

Engraçado...
Você me sabe
a mosto.

Você tem cheiro
e gosto

Da rima

de cerveja preta...
oOo

DAMASCENA




No dia em que te conhecia
estava ouvindo velhas canções
de Barros de Alencar.
Hoje
sei que mentias.
Detestas músicas antigas.
gostas mesmo é de sair
à noite
pelas baladas da velha Marambaia
pelos churrascos de gato...
da periferia.


Questão de gosto
jamais se discute.



Envelhecerás.
E lembrando Capitu
ouviremos juntos
Glenn Miller
Gigliola Cinqueti
Charles Aznavour  e
velhas canções
de Barros de Alencar.
oOo


BODAS DE PRATA

* * * 


Sempre fui herbívoro.
De repente
Me vejo  hematófago.
Semana passada
Tomei 23 bolsas..

Quando chega
À minha medula óssea
Este alimento
É microprocessado.

As microparticulinhas
Resultantes
São diluídas
Amassadas amassadas
E vão para
Algum lugar
Em caixinhas cinzas

Ao longe
O piston wengrill
De meu amigo Feliciano
Executa moto perpétuo
De Niccolò Paganini.
oOo

PALAVRAS LEUCÊMICAS 




Dizes que
não me entendes.

Na realidade
Não quero que
me compreendas.
Quero sim
Que me mantenhas preso
Ao teu tronco feito a jabuticaba
Em frente à tua casa
Que me tragas presa fácil
De teu sexo
Que me mastigues e engula
Feito um naco de queijo parmesão
Que é duro como é duro duro duro
O meu desejo
Quando falo falo¿ falo!
Contigo...
oOo

VERSO FÁLICO
-Para você


Plantar
em suaves contorções de sangue
e de esperma o benecdito fruto
em teu corpo.

O esperma espirra e gruda.
O sangue escorre lento
y muy caliente.

Colher em haste e flor
em cálice e corola
o fructo bendito
de teu corpo.

No rosto a dor e o medo.
No resto o riso e o peito oferecido.

Antever
na mão que empunha a pena
o punho a balouçar o berço.

Parto perto porto
Quarto quieto e o resto
é júbilo de dor
e de alegria!
oOo

ACAUÃ

Para meu pequeno Tunari,
quarta-feira, 23/07/2003, 14:44 h


(Estes poemas são do livro artesanal
Ária Centenária (Tarso Editora, 2012) 


Aspectos do lançamento da obra "Ária Centenária" na Baíúca do Chico Terra
em novembro/ 2012 (Arquivo Paulo Tarso Barros)

Obdias Araújo



Nasceu no município de Macapá no dia 22 de fevereiro de 1957, filho de Zacarias Alves de Araújo e Odália Vieira de Araújo. Músico flautista, amante da boemia e da noite, lançou seu primeiro livro em 1984. Vem participando dos movimentos literários de Macapá e mantendo intercâmbio com poetas e trovadores de outros estados. Embora de uma geração mais recente, fez parte do grupo de poetas que tinha como principal líder Alcy Araújo, ou seja: Isnard Lima, Álvaro da Cunha, Cordeiro Gomes, Manoel Bispo, Fernando Canto e Outros.
Obdias é membro das associações paraense e amapaense de escritores e da União Brasileira de Trovadores. Casado com Claudete da Costa e Silva, o casal tem três filhos. Livros Publicados: Apologia (1984) e Praça Pinga Poesia & Mágoa – Diário de um Vagabundo Lírico (1987).
Os poemas de Obdias, curtos e de uma linguagem direta e contemporânea, por vezes irônica, conduzem o leitor para o imaginário de um poeta integrado ao seu tempo, que fala de amor, de saudade, de farras. Cultiva o humor, trazendo da vida quotidiana os elementos que constroem o seu tecido poético com cores, sons e ritmos. Obdias é um escritor que gosta de viver intensamente, conta piadas de todos os gêneros, com nítida preferência para os temas eróticos. Entretanto, com perspicácia, é capaz de filtrar para a literatura tudo aquilo que pode ser aproveitado na poética. Não é um escritor que produza intensamente, mas através dos dois volumes já publicados, podemos ter uma idéia de que ele está entre os melhores que esta terra já produziu. 
(Texto: Paulo Tarso Barros)

Os livros publicados pelo poeta Obdias (ao meio, original de Praça Pinga Poesia & Mágoa)


Texto: Paulo Tarso Barros - paulo.tarso@uol.com.br  e http://twitter.com/paulotbarros

2 comentários:

Poesia sem Fronteiras disse...

Poeta Obdias Araújo:
belíssimo poema, tomarei a liberdade de copiá-lo e levá-la às academias que pertenço(Academia Feminina Mineira de Letras e Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, em Belo Horizonte), para leitura. Gostaria de alguns dados biobibliográficos seus. saúde e paz, Angela Togeiro.

OBDIAS Alves de ARAÚJO disse...

Receita de Bardo é, sem dúvida, fruto de meu amadurecimento como pessoa, e poeta.